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Quinta-Feira, 28 de Janeiro de 2010 @

Viajando na Onda - Blade Runner

O endereço eu sabia de cor. Peguei o ônibus "Apiacás" na Praça do Patriarca, no centro de São Paulo...

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O endereço eu sabia de cor. Peguei o ônibus "Apiacás" na Praça do Patriarca, no centro de São Paulo. Ao dobrar a esquina da Padaria Real, famosa por ser frequentada pelos artistas da TV Tupi, eu avistei o prédio. Era um edifício de 10 andares, com riscos horizontais modernistas na fachada, onde havia um mural, tudo meio acinzentado pelo tempo, e uma antena no topo. Parei por uns instantes no lado oposto da rua, contemplando o local e imaginando as histórias que se desenrolaram lá dentro. Em seguida fui até a portaria. Não lembro se bati, ou chamei a atenção do zelador por estar bisbilhotando pelo vidro o interior daquele prédio abandonado. O sujeito que me atendeu confirmou que ficava ali o que eu procurava, e para meu espanto e eterno agradecimento, perguntou se eu gostaria de conhecer o local.

No saguão de entrada havia um busto de bronze. A luz elétrica fora desligada, os elevadores obviamente não funcionavam. Pelas escadas, deixando minhas pegadas no chão empoeirado, subi até algum andar. E lá estava, fantasmagórica, a Rádio Difusora AM. A primeira rádio que eu escolhera ouvir, um dos embriões do chamado rádio jovem atual, ao lado da Excelsior (a "Máquina do Som", hoje CBN, e da Rádio Mundial do Rio de Janeiro). Foi a Difusora que me inspirou e me fez desejar ser locutor. Ouvindo suas promoções, como aquela que premiava quem passasse com um carro de placa "960" (a freqüência), decorei o endereço: Rua Alfonso Bovero, 52.

Parecia cenário de filme, era igual a um local abandonado às pressas pelo alarme de bombardeio aéreo. Estava tudo lá, papéis sobre as mesas, arquivos, pastas, e o que mais me aguçava a curiosidade: o estúdio. Tudo permanecia ali, cheio de pó. Cartuchos, fitas, a programação do dia numa prancheta, o microfone, a mesa de áudio. A impressão era de que as coisas foram largadas de repente pelas pessoas que trabalharam ali na data da hipotética bomba H (aquela que mata as pessoas mas não destrói os objetos). Mas todos pareciam acreditar que as coisas em breve voltariam à normalidade. Tanto que não havia sinal de arrumação, preparação, despedida... Tudo ficou como no último dia. Mas estava acabado, ninguém mais esteve lá. Exceto, aparentemente, eu.

A Difusora pertencia aos Diarios Associados, assim como a Rádio e a TV Tupi, todas abrigadas naquele prédio. O grupo ainda existe, mas é uma sombra do poder que um dia fez o Brasil temer o seu dono, Assis Chateaubriand, aquele do busto na entrada. Pelas complicadas sucessões da Justiça (e do destino), o prédio que eu visitei virou a sede da MTV Brasil. O edifício ao lado tornou-se patrimônio do SBT, incluída a sua antena, instalada sobre um suporte de concreto que tem, lá no alto, 90 metros acima do nível da rua, um restaurante com vista panorâmica de São Paulo. Dizem, era usado pelo Silvio Santos quando desejava impressionar alguém (como se algo pudesse impressionar mais uma pessoa do que a própria figura do Senor Abravanel).

Na frente, junto de uma praça, o zelador me apontou onde ficavam os figurinos das novelas da Tupi. Este imóvel foi depois transferido para a TV Manchete, também extinta hoje em dia. O que me levou a filosofar, na ocasião e agora, que tudo um dia se extingue, exceto as memórias, se alguém preservá-las. Pois eu fiz minha parte naquela visita, nos anos 80. Pedi para levar alguma lembrancinha, e mais uma vez recebi autorização do zelador, condescendente com aquele moleque tão emocionado, visitante insólito de um prédio deserto.

Peguei uma fita de rolo com a "Vinheta O Som do Verão", alguns cartuchos e umas folhas de papel. Tenho tudo guardado, inclusive um comercial que dizia "seu Fiat, é na Firenze, vá buscar seu Fiat na Firenze" - a melodia do jingle ficou arquivada na memória. Peguei as aberturas cantadas dos programetes "Melhor de 3" e "Dose Dupla". Fiquei com um cartucho onde uma fita crepe fora colada com a inscrição "abertura Carlos Racy" (hoje meu amigo de Facebook - as voltas que o mundo dá). As folhas de papel eram a programação de 3/9/81, uma quinta-feira, conforme estava escrito à máquina. Havia uns nomes rabiscados, eu suponho que eram ouvintes que fizeram pedidos musicais (Tania Cristina de Andrade, Ana Lucia de Moura, onde estariam e quem seriam vocês?)

Para justificar o nome "Viajando na Onda", termino esta coluna com uma imagem cinematografica. Ano 2040, São Paulo parecida com a Los Angeles de Blade Runner, dia chuvoso (no filme chove o tempo todo) e lá aparece, no meio dos edifícios mais altos, o da Rua Vergueiro 1211. É o velho prédio (hoje novíssimo) onde um dia funcionou a Rede Mix de Rádios. No alto está a antena que um dia foi a mais potente, hoje (ano 2040, lembrem-se) é uma sucata de ferro que não serve mais para transmitir sinais, substituída que foi pela internet. Será que alguém vai subir as escadas empoeiradas e chegar ao 22o. andar? Será que os antigos estúdios estarão lá com as velhas telas de plasma embutidas na parede? Haverá ainda vestígio na máquina de café no hall da escada? Algum moleque curioso encontrará no futuro vestígios de quem passou por ali? E penso: eu devia ter escrito meu nome em algum lugar, ainda que fosse na porta do banheiro.

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Colunista
Lui Riveglini

Lui Riveglini é atualmente locutor de comerciais, documentários e videos institucionais, foi voz padrão do canal AXN por 13 anos e também atuou como consultor artístico da Rede Transamérica de Comunicação. Foi apresentador das rádios Transamérica (várias vezes), Jovem Pan FM e Bandeirantes, entre outras. Implantou e dirigiu a Rede Mix de Rádio.










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