Segunda-Feira, 08 de Março de 2010 @
Uma das atitudes mais reveladoras do caráter, é a maneira como reagimos a alegria dos outros.
Ser solidário na tristeza é bom, mas não indica o que de fato existe no coração na medida em que a solidariedade pode incutir sentimento de superioridade.
É claro que nem sempre é assim, mas tem gente que, adoecida ,enxerga o caído como uma oportunidade de mostrar o quão "benevolente" e "virtuoso" é, somente na expectativa se ser reconhecido.
Ao se alegrar com a alegria de um amigo, você não impressionará ninguém, mas revelará o que habita seu coração.
Lembro quando comecei no rádio.
Eu era adolescente sem nenhuma experiência e voluntário.
Estava lá para aprender e esperar por uma oportunidade.
Na mesma condição que eu, um outro rapaz que chegou um pouco antes, uns anos mais velho, também de olho no dia em que poderia entrar no ar.
Convivíamos bem, até que tivemos nossa chance.
Na medida em que eu me destacava, ele se tornava arredio.
Nunca brigamos, mas convivíamos sob tensão.
O tempo passou e as portas começaram a se abrir para mim.
Agora eu estava trabalhando na rádio mais ouvida de São Paulo e ele continuava na primeira rádio, sem muitas oportunidades.
Por acaso nos encontramos na Av Paulista pouco antes que meu programa começasse e ele pediu para conhecer a rádio.
Subimos até o estúdio e, enquanto conversávamos, me disse em tom de mágoa:
- Sorte você estar aqui né? Veja como são as coisas. Essa vaga poderia ser perfeitamente minha. Foi questão de sorte. Você estava no lugar certo, na hora certa. Foi você, mas poderia ter sido eu que, modestamente, sou até melhor preparado.
Relevei o comentário e não polemizei.
Enquanto minha carreira sempre esteve em ascendente, ele nunca conseguiu ir muito longe.
Ao longo dos anos enfrentei muitas situações semelhantes e confesso que demorei muito para aprender que nem todos os que aparentam proximidade alimentam no íntimo boa sorte para os amigos.
Sinto isso porque sempre me decepcionava quando um desses amigos pisava na bola.
Há poucos anos abandonei algo em que acreditava justamente por me deparar com esse tipo de apequenamento.
O simples fato de crescer na minha condição era suficiente para alimentar egos recalcados e inseguranças disfarçadas.
A situação cresceu até se tornar absolutamente insustentável com direito a sabotagens e guerrinhas pessoais.
Aquilo me desgastou, mas também serviu para que eu aprendesse demais, sendo que a maior lição foi : agora só despendo energia e empenho dedicação naquilo que , antes, me fizer crescer como gente.
Tem que valer a pena mesmo.
Mais do que nunca sei que feliz é o que se alegra na alegria do outro e sabe compartilhar com ele os frutos da vitória.
Esse não se prende a sua pequenez e entende que na felicidade do outro tenho motivos para me alegrar.
Examine seu coração e veja até que ponto é assim.
Se alegre na alegria ! Isso faz uma enorme diferença.
Flavio Siqueira é escritor e radialista. www.flaviosiqueira.com