A declaração acima é de um amigo criativo, inteligente, que respeito muito e infelizmente acabou deixando o rádio
"Eu parei de fazer rádio FM jovem porque o rádio FM jovem se transformou no
maior reduto de imbecis e medíocres da mídia. São os Merdas da Mídia. Todas
se resumem a tocar as mesmas músicas, criatividade zero, não investem em
conteúdo para o seu público e insistem em fazer do jabá sua única fonte de
renda. Uma vergonha para todos os profissionais de comunicação".
A declaração acima é de um amigo criativo, inteligente, que respeito muito e
infelizmente acabou deixando o rádio. Hoje ele é diretor de TV em uma das
emissoras mais importantes do país. Conhecendo-o sei que só disse o que
disse porque ama o rádio.
Quando li o desabafo me incomodei. Estou no rádio faz vinte anos, fiz
muitas coisas legais, trabalhei com muita gente boa, aprendi demais; não me
considero um merda da mídia. Provavelmente você também não é. Mas diante
do universo da comunicação que se expande, modifica, reorganiza, me diga
com toda a sinceridade, o que somos?
Enquanto pensava no assunto, até por sugestão desse meu amigo, acessei
um link no youtube onde um ?locutor? oferecia seu poderoso off por 2 reais.
Menos que meio quilo de salsicha! Achou barato? Tudo bem! Se quiser o áudio
com super produção ele aumenta para 7 reais. Parece que o ?locutor dez reais?
virou coisa de um passado inflacionado.
Não somos os merdas da mídia. Apesar disso, confesso que tenho dificuldades
em explicar porque deixamos de ousar. Por que ninguém cria? Por que as
formulas se repetem? Por que ainda nos apegamos as criações de décadas
passadas? Por que ainda usamos argumentos do tipo ?eu acho?, ?eu quero?
e ?porque sim? para justificar nossas decisões? Quando confrontado em
relação a nossa falta de criatividade que abre portas para arrendamentos
religiosos, políticos e afins, franzo a testa e mudo de assunto.
Não existe veiculo de comunicação que sobreviveu a tantas sentenças de
morte como o rádio, mexemos com a imaginação, temos ferramentas para
criarmos mundos na cabeça dos ouvintes, o som é nossa matéria prima e ele
é ilimitado, nos permite modificá-lo, fazer o que quisermos, somos a mídia que
mais pode se adequar às possibilidades da internet, somos bem mais ágeis
e velozes que a TV, temos experiência em nos reinventar como ninguém,
podemos acompanhar nossa audiência onde quer que estejam e dividir a
atenção com suas tarefas do dia a dia, só o rádio é assim, então, por que raios
tem gente nos chamando de merdas da mídia? Eu precisava de argumentos,
não poderia deixar que essa frase rotulasse colegas competentes, afinal, se
existem as maçãs podres, também existem as que se salvam.
Acessei a internet tentando encontrar boas publicações sobre rádio, cabeças
pensantes que se propunham a discutir novas idéias, conteúdos realistas
e adequados a cada público em busca de novas linguagens, propostas,
perspectivas do rádio daqui para frente, emissoras ousadas... sei lá, alguma
coisa que pudesse ajudar a contra argumentar em defesa dos profissionais do
rádio. Resultado da busca: Sinceramente não encontrei nada.
Tentei me lembrar de nomes que dignificam o rádio, gente preparada que
dedica grande parte de sua energia para melhorar o que temos no ar. É claro
que eles existem e poderia citar vários agora, mas em seguida me lembrei que
a maioria está cansada, sem muita esperança de grandes melhoras, motivados
apenas pelo salário que nem é tão bom assim.
Mas tem o outro lado.
Faz pouco mais de um mês que comecei a escrever um livro. É o terceiro que
escrevo e o primeiro focado exclusivamente no rádio. Tenho ouvido a opinião
de dezenas de colegas e tantos outros que, a partir de um convite feito na
ultima coluna, tem escrito, sugerido temas, falado sobre as peculiaridades de
cada mercado, suas ambições, contradições e propostas.
Convidei alguns profissionais boa cabeça, conceituados nas mais diversas
áreas do rádio como locução, produção, jornalismo, direção, pesquisa,
comercial e promoção para dizer o que pensam e explicar como trabalham. A
maioria aceitou com entusiasmo e os textos estão chegando. Não deixei de
dar ?dicas? para quem chega e, sobretudo me esforcei para falar com quem já
está no rádio e, talvez, como alguns amigos meus, desmotivados, perdidos,
pensando em mudar de mídia, achando que não tem mais jeito, como se
estivéssemos entre os ?merdas da mídia?.
Por ser um profissional conhecido, manter uma coluna no site com maior
penetração no mercado, realizado trabalhos fora do país, coordenado
emissoras em importantes capitais do Brasil e ter tido alguma exposição em
outras mídias, sinto-me com uma visão privilegiada do mercado na medida
em que tantos colegas confiam em me escrever todos os dias contando o que
vivem, são e esperam. É quase como um retrato do mercado no país.
Nos últimos tempos tenho pensado seriamente em um jeito de usar esse
material em beneficio do mercado, criando fóruns de discussão, e outras
ferramentas que facilitem a aplicação de tantas boas idéias em emissoras que
estão sentindo a iminência de escolher: Ou se adequam e preparam para a
nova comunicação, ou arrendam sua rádio para uma igreja. O livro será um
primeiro passo, tenho planejado outros.
Nós somos o rádio e o rádio é fruto da maneira como pensamos e nos
posicionamos.
Não somos os merdas da mídia, mas corremos serio risco de ocuparmos esse
posto se não fizermos nada, especialmente agora, em tempo de cross midia e
grandes revoluções.
É justamente quando as coisas mudam e o solo que parecia estável
balança, onde as pessoas, comunidades, países e, por que não o rádio,
são encurralados pela necessidade de reposicionamento, para em seguida
rumarem em direção a novos argumentos, propostas que agreguem e
sinalizem qual deverá ser o próximo passo.
Só é possível se for em conjunto, como iniciativa coletiva, seja de um mercado,
classe ou organização que percebe a direção dos novos ventos e entende que
isolados serão absorvidos pelas inevitáveis mudanças.
É preciso quebrar a cabeça, encontrar argumentos mais sedutores do que os
atuais, formulas mais próximas dos ouvintes; focar nossa programação no que
a maioria realmente quer ouvir.
A gente cresce quando pensa e se fortalece quando se une. É o que estou
tentando fazer através das colunas, do livro e de outras iniciativas que virão.
Mas para que de certo preciso de sua ajuda.
Vamos nos falar, continue mandando e-mails, sinta-se a vontade para propor,
opinar, criticar, desabafar... São pequenos movimentos, discussões que, a
partir da leitura nascem aqui e ali, gente que começa a se incomodar, pensar
diferente, fazer coisas novas percebendo que outros também sentem a mesma
necessidade. Disso tudo, acredite, coisas boas surgirão.
Acho que existe um jeito de canalizarmos essa energia e tantas informações,
insatisfações, anseios e sugestões em beneficio de todos. Me proponho a
tentar.
Se não somos os merdas da mídia está na hora de mostrar quem somos.
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