Muito se discute sobre o real papel da veiculação desse programa produzido e executado pela Radiobras em nossas AMs e FMs brasileiras ...
Nos últimos dois meses o assunto ?obrigatoriedade do programa A Voz do Brasil? tem tomado as páginas do Tudo Rádio e demais veículos que tem o rádio como foco editorial. Muito se discute sobre o real papel da veiculação desse programa produzido e executado pela Radiobras em nossas AMs e FMs brasileiras, além do que significa a imposição de transmissão obrigatória em empresas privadas e voltadas à comunicação teoricamente livre e democrática. Então, qual é o significado de tudo isso e para onde o rádio está caminhando? Quais são os prós e contras dessa pratica na radiodifusão?
Quem defende a transmissão obrigatória em cadeia as 19h00 (horário de Brasília) bate na tecla da ?informação?. Vou explicar: vários brasileiros (alias, muitos brasileiros) tem o rádio como principal ou única fonte de informação e entretenimento. Em determinados municípios a informação fica concentrada na mão de quem tem o poder de controlar a concessão de rádio local. A Voz do Brasil vira um mecanismo de comunicação direta entre as ações de quem governa o país até o governado, ou seja, nós. É uma forma de comunicação a mais a serviço da população.
Seria uma espécie de canal direto entre o cidadão e o Governo Federal, independente da relevância do conteúdo veiculado pelo programa. Se os parlamentares passaram o dia todo empinando pipas, o ouvinte vai saber a execução dessa ?importante? atividade através da Voz do Brasil. Se for aprovada uma lei de grande interesse à população, saberemos o ponto de vista do Governo Federal através do programa da Radiobrás. É basicamente um ?grande clipping institucional do governo?. Basicamente isso.
Independente do partido que esteja governando, essa ferramenta sempre foi utilizada pelos governos brasileiros desde a criação do programa, lá na Era Vargas (faz tempo, hein?). Ao longo desses mais de 70 anos de Voz do Brasil, o programa apresentou várias mudanças em sua estrutura, porém o propósito final permaneceu o mesmo. O governo tem um canal esmagador para propagar suas ações, utilizando-se de concessões destinadas legalmente a empresas privadas, além das estações que já fazem parte do plantel federal.
Se você leu tudo isso, quero que esqueça o assunto ?partidos?, ?governos? e ?situações?. A discussão aqui é única: obrigatoriedade. Concordo com o papel de levar algum tipo de informação a todo território brasileiro, como uma forma de integração nacional (necessária em um país de grandes dimensões como o Brasil), fazendo valer da mídia mais poderosa e menos valorizada: o rádio. Não concordo com a extinção da Voz do Brasil, porém o ?projeto? precisa urgentemente de ajustes.
Não estou falando de trocar conteúdo, vinhetas, locutores, etc. Longe disso. Não é o ponto central da discussão. É inadmissível que empresas privadas que possuem o direto legal de operar através de concessões de rádio sejam obrigadas a executar um programa político/federal ao mesmo tempo. O ouvinte e o mercado não possuem saídas, estão acuados. Na minha visão pessoal é a mesma coisa que a sua operadora de celular (que também opera no formato de concessão) seja obrigada a enviar mensagens de texto (SMS) com ações sobre o governo. Que situação, hein?
Também não sou favorável a flexibilização do horário obrigatório de transmissão. Rádio comercial não precisa transmitir a Voz do Brasil, muito menos de madrugada. Essa flexibilização é a banalização do programa da Radiobrás. Porém esses novos projetos de lei sobre a Voz do Brasil possuem instrumentos interessantes para uma nova fase da radiodifusão. A idéia de tornar obrigatória a transmissão das 19h00 da Voz do Brasil apenas em concessões educativas, comunitárias e também estatais é algo muito inteligente.
Com a Voz do Brasil nas educativas, comunitárias e estatais mantém-se a idéia de propagar informações e unificar território, além de manter um canal aberto entre o Governo e os cidadãos. Livrando as rádios comerciais da obrigatoriedade é possível dar diversidade ao conteúdo veiculado, além de não afugentar a audiência. Vamos a alguns exemplos.
Gosto muito de citar a SulAmérica Trânsito de São Paulo. O motorista paulistano que tem a rádio como principal fonte de informação contra o caos urbano é tratado como um trouxa quando o relógio marca 19h00. A SulAmérica Trânsito está obrigada a transmitir a Voz do Brasil nessa faixa de horário, interrompendo a prestação de serviço factual. É quase um ?se vira motorista, agora você se f...?. E as rádios de entretenimento que não possuem grades jornalísticas? Diversidade de conteúdo! É necessária a opção que fuja do jornalismo, afinal entretenimento também é uma forma de prestar serviços.
Tem gente que ouve a Voz do Brasil? É claro. Por isso é importante a idéia de mantê-la no local certo. Porém boa parte da audiência desliga o rádio e isso é algo extremamente negativo. Além da ação ?desligar o rádio?, as emissoras concorrem com os agradáveis mp3 player, internet móvel, entre outras ferramentas que se sobressaem as 19h00. Até o ?quase-antigo? CD ganha de goleada do rádio nessa novela Voz do Brasil.
Do jeito que está a Voz do Brasil é encarada como vilão do mercado de rádio, intruso pelos ouvintes e auxilia diretamente no enfraquecimento da mídia rádio perante outros meios e serviços. Vamos torcer para um capitulo mais favorável ao rádio nessa longa novela Voz do Brasil.
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