O ano é 1971. Um dodge challenger branco atravessa os Estados Unidos. Ao volante, um ex-piloto de corrida chamado Kowalski, cuja missão é levar o carro de Denver, Colorado, até São Francisco, Califórnia
O ano é 1971. Um dodge challenger branco atravessa os Estados Unidos. Ao volante, um ex-piloto de corrida chamado Kowalski, cuja missão é levar o carro de Denver, Colorado, até São Francisco, Califórnia. No caminho, uma infração de trânsito desencadeia uma implacável perseguição policial por 3 estados americanos. Este é o enredo do filme "Vanishing Point" (aqui, "Corrida Contra o Destino"). Poucos diálogos, muita ação, belas paisagens, um carro clássico. E qual a relação do filme com o site Tudoradio.com? Quem faz esta ligação é outro personagem.
Em uma daquelas pequenas cidades que não mudaram nada desde o Velho Oeste, numa rádio AM chamada KOW, trabalha o DJ Super Soul. Ouvindo a frequência da polícia, ele acompanha a caçada cada vez mais frenética ao challenger. O locutor, negro e cego, entra para o time dos fracos e oprimidos do filme. Dele vem a voz e a trilha sonora que vão animar e guiar a fuga de Kowalski, sintonizado na KOW, naturalmente.
Sempre que revejo "Corrida Contra o Destino" aperto a "pausa" do controle remoto para olhar os detalhes do estúdio do Super Soul. Lá estão os elementos típicos dos anos 70, a fita de rolo, os cartuchos, a mesa com VU mono, os potenciômetros pretos de baquelite. Nada digital, nada com botõezinhos deslizantes, essas frescuras de hoje em dia. Agora mesmo, escrevendo esta coluna, estou acompanhando pela milésima vez a fuga de Kowalski (neste momento ele está nas estradas de Nevada). E fiquei tentando lembrar de outros filmes em que o rádio é cenário ou inspiração.
Tem "A Era do Rádio", de Woody Allen, 1987. A trama se divide em dois núcleos: uma família de Nova Iorque acompanhando as transmissões de uma emissora, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. E os artistas, locutores, cantores, músicos; integrantes do elenco que entretém a audiência. Uns e outros não imaginam os rostos, dramas e bizarrices de quem está na outra metade da história. Só o espectador pode ver os dois lados, separados pelo rádio da sala.
Também de 1987 é "Bom Dia Vietnã", primeiro sucesso da carreira de Robin Williams. Ele faz o papel de um soldado-locutor mandado à Saigon para animar a tropa na rádio das forças armadas. Os recrutas adoram. Mas a popularidade do DJ incomoda o comandante e aí... Bem, não vou estragar a surpresa, caso alguém resolva alugar a fita. Aliás, se é para alugar, melhor procurar algo mais recente. Neste caso, recomendo "Cadillac Records", de 2008. Crônica da Gravadora "Chess", criada nos anos 1940 e lançadora de vários nomes do soul, como Muddy Waters, Etta James, Chuck Berry. Todos passeando por estúdios da época e divulgando suas músicas nas rádios que eram cruciais para o sucesso ou fracasso de todo artista.
Mas, de todos os filmes dessa minha categoria "radio-cinema", o favorito é "Talk Radio", de 1988. Eric Bogosian interpreta o papel de Barry Champlain, locutor de um programa em Dallas, Texas. Ele apresenta um tipo de atração que no Brasil, não sei bem porque, não emplacou. Falo dos "talk-shows", gênero em que ouvintes e apresentadores interagem sobre os mais diversos temas, de preferência polêmicos. Aqui até existem programas parecidos, mas em geral eles são focados em humor, pedidos musicais, oferecimentos, abraços e beijos. Mas com o Barry Champlain a coisa era mais pesada.
Rápido no raciocínio, ferino, aguçado nas análises e muito bem informado, Champlain vai conquistando audiência na mesma proporção em que coleciona desafetos. Alguns diálogos são pura guerra de nervos, duas pessoas esgrimindo palavras numa espécie de UFC verbal. Suspense e tensão literalmente "no ar". Alguém será nocauteado, dificilmente Barry Champlain. Especialmente quando ele é convidado a transmitir seu programa em rede nacional, o que seria o auge de sua carreira. Seria, porque...
Se encontrar uma cópia com boa qualidade, por favor me avise. Em troca, empresto o meu bluray com "Vanishing Point". Sim, bluray, porque apesar de gostar das coisas antigas, eu também me rendo à qualidade das "frescuras modernas". Agora, com licença: a pipoca está pronta, vou disparar outro filme. Não é sobre rádio, mas a atmosfera nos remete ao tema. É ambientado numa TV, anos 1950, filme em preto em branco, embora seja produção recente, estrelada e dirigida por George Clooney. Com o título, eu encerro minhas transmissões: "Boa Noite, Boa Sorte".
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Rádio e cinema