Segunda-Feira, 07 de Novembro de 2011 @
Olhe para o seu lado e pense: qual é o meu receptor AM? O rádio do carro? O streaming da internet? É pouco para um veículo que tem como uma de suas principais bandeiras o acesso ao conteúdo.
Experimente passar um mês isolado de assuntos relacionados ao avanço tecnológico. Com certeza perderá muitas novidades durante esse período. Até para o rádio. Não falo da tecnologia voltada à transmissão (que apresenta novidades com uma rapidez que chega a espantar), mas sim da recepção, aquela que é destinada ao público final, os ouvintes. Tive contato com alguns rádios (alguns de fácil, outros de difícil acesso) e cheguei à conclusão: eles são os grandes vilões do rádio AM, principais responsáveis por gerar a dúvida sobre a longevidade do meio AM.
Parece óbvia essa conclusão, mas é importante pontuar ela sempre que possível, para que seja possível iniciar uma trajetória para o caminho oposto, o de crescimento do meio. Grande parte das estações de rádio AM no Brasil está sucateada e executa programações ridículas, contribuindo diretamente com o esvaziamento do meio. Mas esse regresso anda lado-a-lado com a dificuldade de se ter acesso ao conteúdo de rádio AM. Ter um aparelho receptor AM não é tão simples como no passado (passado recente, importante ressaltar esse fato).
Olhe para o seu lado e pense: qual é o meu receptor AM? O rádio do carro? O streaming da internet? É pouco para um veículo que tem como uma de suas principais bandeiras o acesso ao conteúdo. A rede de internet ainda é fraca, limitada e cara. Não são todos os receptores de rádio AM em carro que dispõe de uma boa recepção de sinal (você precisa investir em antena). Olhe de novo para o seu lado e pense: qual rádio eu uso? Celular com recepção de rádio? MP3 Player? Nenhum deles tem sintonia AM, correto?
Partindo desse ponto vemos a dificuldade de se ter acesso ao sinal AM. Muito desse fato é motivado pelo desinteresse dos fabricantes de celular e tocadores de mp3. O FM vira uma ferramenta de obsessão do meio radiofônico já que, diferentemente do AM, ele está evoluindo. Já ouviram FM através dos aparelhos da Apple? Não digo aplicativos via internet, mas sim sintonia FM (pelo iPod Nano, por exemplo). Ou celulares com Android (todos dispõem de sintonia FM). Qualidade de áudio impecável, boa sensibilidade e seletividade, RDS, entre outros recursos impressionantes a preços acessíveis. É, o FM terá vida longa. Já o AM...
Pensando nessa situação, fiz um teste entre amigos. Peguei o conteúdo de duas rádios AMs (Jovem Pan e Bandeirantes) e disponibilizei aos meus conhecidos que estão numa faixa etária de 20 a 27 anos, mas sem alertá-los que tratavam-se de rádios AMs. Eles ouviram e o resultado foi positivo. Gostaram bastante, principalmente do conteúdo esportivo das duas estações. Também se interessaram pela linguagem jornalística e pelas emissoras terem pontos de vista bem definidos. Alguns (aqueles que acordam mais cedo) reconheceram o jornalismo da Pan que é executado diariamente entre 06h e 07h pela rede FM da marca.
Feito isso eu perguntei: e rádio AM? Vocês ouvem? Gostariam de ouvir? Respostas variadas, indo de “isso é coisa de velho”, “pra ouvir música antiga?” e ainda “Não quero saber quem morreu”. Quando revelei que o conteúdo ouvido por eles anteriormente eram de duas estações AMs eles se espantaram, com comentários simples como “ Sério?” ou ainda “Não, isso é FM, tenho certeza”. É, hoje nos casos da Bandeirantes, Gaúcha, entre outras até pode ser FM, mas tomei o cuidado de fazer essa brincadeira aqui em Curitiba.
Também me lembro de outra situação interessante. Alguns modelos de celular Sony Ericsson dispõem de sintonia FM e AM. Meus conhecidos que possuem esse aparelho passaram a acompanhar mais rádio AM aqui em Curitiba, com destaque para as rádios Globo AM e Banda B. Fora que esses novos aparelhos compensam a dificuldade de sintonia das AMs em grandes centros e também atenuam a baixa qualidade do áudio desse meio. Isso é um belo incentivo.
Tirando meu lado apaixonado por rádio (gosto muito das duas faixas, mas confesso que nos últimos cinco anos tenho acompanhado o FM com muito mais freqüência do que o AM) eu percebi que passei a dividir minhas atenções entre as duas faixas logo após que adquiri um rádio que me dá acesso ao AM com mais facilidade. O meio AM segue tendo conteúdo de qualidade em algumas estações e faltava um receptor portátil para que eu voltasse a ter acesso a ele diariamente. Papel que foi desempenhado pelo “walkman” nos anos 90.
Tarefa difícil, mas que seria interessante e benéfico um incentivo para os fabricantes de receptores investirem em rádio AM como fazem com o FM poderia dar uma longa sobrevida ao meio. Isso eu tenho certeza.
E ai? Qual é a sua opinião sobre esse assunto? Opine pelo [email protected] ou pelo Twitter (@DanielStarck e @TudoRadio)
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Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.