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Quinta-Feira, 24 de Novembro de 2011 @

Viajando na Onda - 17ª edição: RCA

Um microfone RCA dos anos 40. Um avião Lockheed L-18 da mesma época. E John Fitzgerald Kennedy. Quer apostar como eu consigo estabelecer uma conexão entre esses três temas? Clique aqui e descubra.
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Um microfone RCA dos anos 40. Um avião Lockheed L-18 da mesma época. E John Fitzgerald Kennedy. Quer apostar como eu consigo estabelecer uma conexão entre esses três temas?

Até alguns anos atrás os locutores começavam seus horários identificando suas rádios pelo prefixo. Eu mesmo cansei de repetir: "esta é a ZYD 803, Transamérica FM de São Paulo, transmitindo em 100,1 megahertz". Nem todo mundo sabe, mas essas informações eram fundamentais para a navegação aeronáutica. Os aviões captavam os sinais de transmissores destinados especificamente à sua orientação, ou de estações de rádio comuns, que serviam sobretudo para garantir que o vôo seguia seu curso correto, balizado por ondas, como se as antenas fossem, mal comparando, uma estrada de luzes apontada pelos instrumentos.

Em novembro de 1963, no Aeroporto Internacional de Recife, o Sr. Paulo Santiago embarcou num bimotor Lockheed L-18, também conhecido como Electra (não confundir com o Electra 2, avião utilizado na Ponte Aérea Rio-São Paulo até os anos 90). Técnico de rádio, figura tão simpática e engraçada quanto competente, Seu Paulinho acompanharia o vôo, que duraria dias, até os Estados Unidos, onde o aparelho passaria por uma revisão. Ter na tripulação um profissional como ele era altamente recomendável num trajeto tão longo, sobre áreas pouco servidas de aeroportos e auxílios de navegação, como a Amazônia e o Caribe. Aliás, aqui cabe uma rápida digressão, para ilustrar como era complexa a arte de voar, quando não existiam nem o GPS, localizador que pode equipar um reles celular, nem o SIVAM, sistema de radares que hoje cobre o Norte do Brasil.

Numa noite de setembro de 1989 o vôo RG 254 da Varig, que iria de São Paulo ao Pará, desviou-se da rota prevista, na última etapa da viagem, entre Marabá e Belém. Desorientados, os pilotos voaram às cegas, até ficar sem combustível e efetuar um pouso forçado, numa floresta imersa na escuridão. Das 54 pessoas a bordo, 12 morreram e várias ficaram feridas. O livro "Caixa Preta", de Ivan Sant'Anna, relata em detalhes como o Boeing 737-200 se perdeu, após uma série de equívocos. Um deles envolvendo frequências de rádios. O contrôle aéreo da região de Belém informou que as emissoras locais sintonizadas para navegação eram as AMs Guajará, em 1270 KHz (kilohertz) e Liberal, em 1330 KHz. No entanto, na confusão daquela viagem trágica, os pilotos não ouviram as transmissões tempo o bastante para perceber que, na verdade, o que eles imaginavam ser sinais provenientes de Belém, eram as rádios Brasil Central e Clube, nas mesmas frequências, porém em Goiânia.

Por isso era obrigatório que os locutores informassem sempre os prefixos, conforme fazia Jorge Veiga, que nos anos 40 e 50 tornou popular o bordão "alô, alô, aviadores do Brasil, aqui fala Jorge Veiga, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro". Mas, voltemos agora a 1963 e ao nosso personagem principal. Na qualidade de técnico de rádio daquele vôo do Electra, Seu Paulinho foi parar no Texas. Como a manutenção na aeronave se prolongasse mais do que o esperado, ele aproveitou a ocasião para conhecer a cidade onde estava. Eis que vamos encontrá-lo em meio a enorme multidão que no dia 22 de novembro estava acompanhando a passagem do Presidente John F. Kennedy pelas ruas de Dallas.

Ele não chegou a ver o assassinato do presidente, nem sequer ouviu os tiros. Mas presenciou a confusão e a comoção posteriores. Voltou ao Brasil com uma fantástica história para contar. E voltou com algo mais: um microfone RCA Type 77, daqueles que aparecem em filmes antigos, com o formato de uma grande pílula. Em 1999, eu fui designado pela Transamérica para cobrir a chegada do novo milênio em Fernando de Noronha, cujo fuso horário permitiria ver, antes de todos no continente, o primeiro sol do ano 2000. A caminho da ilha fiz uma escala em Recife, onde encontrei Seu Paulinho, que cuidaria da parte técnica dos flashes que eu faria direto do palco do show do Asa de Águia. Além da divertida companhia, ele me ofereceu ótimas histórias, que eu ouvi como se fosse um neto enchendo o avô de perguntas. E, percebendo meu interesse por fatos e objetos antigos, ele me presenteou com o velho microfone.

Só recentemente eu soube que Seu Paulo Santiago faleceu poucos anos atrás. Eu penso que as pessoas não morrem enquanto são lembradas. Pois este meu bom amigo terá sempre menção honrosa nos casos que tenho prazer em (re)contar. Aliás, sua figura ficará simbolicamente representada num estúdio de rádio "vintage" que estou montando com algumas peças raras, repletas de significados particulares, como cartucheiras ITC e Delta, CD e MD players Denon, um Instant Replay, uma Digicart, gravador Revox, uma mesa Rockwell Collins 10 canais e, claro, o microfone RCA. Mas isso é assunto para outra coluna. Por ora, considero paga a aposta. De acordo?


Tags: RCA

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Colunista
Lui Riveglini

Lui Riveglini é atualmente locutor de comerciais, documentários e videos institucionais, foi voz padrão do canal AXN por 13 anos e também atuou como consultor artístico da Rede Transamérica de Comunicação. Foi apresentador das rádios Transamérica (várias vezes), Jovem Pan FM e Bandeirantes, entre outras. Implantou e dirigiu a Rede Mix de Rádio.










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