Terça-Feira, 10 de Março de 2015 @
O "Diz Aí" traz mais um texto de um professor universitário com um ponto de vista relacionado ao meio rádio.
O Tudo Rádio publica hoje mais uma coluna que abre espaços para profissionais do rádio exporem textos que contribuam com o meio, independente da linha editorial abordada. Os materiais que forem enviados ao portal passarão por análise, não sendo obrigatória por parte do portal a publicação dos textos (e também sem prazos definidos). A idéia é boa? Favorece o meio? Ajuda os profissionais? Vamos publicar conforme a agenda da redação do portal.
Hoje vamos com a contribuição de Luiz Artur Ferraretto, professor do curso de Comunicação Social – Jornalismo e do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Boa leitura!
O rádio jovem, o rádio e o jovem
O futuro do rádio é, sem dúvida, a conversa ou a simulação desta. No primeiro caso, temos o bate-papo entre os participantes de um programa. No segundo, há a simulação que toda pessoa ao ocupar o microfone faz em direção ao ouvinte: finge conversar com todos como se conversasse com cada um em particular. Não é diferente com o rádio musical jovem, segmento abalado pelo hábito já enraizado de fazer download, legal ou ilegalmente, de conteúdo musical, base do esgotamento de formatos baseados, em especial, na exaustiva repetição de hits como o Top 40.
Bateu, de início, pavor em alguns gestores. E com medos, diga-se de passagem, baseados em mitos, não se pode fazer nada. Perdem-se ouvintes. Assusta, inclusive, a ideia difundida pelos próprios meios de comunicação de que todo o jovem é multimídia por natureza. Trata-se de uma redução. Será verdade apenas se o multimídia for reduzido ao acesso a redes sociais e ao uso de alguns aplicativos.
Não se pretende aqui, no entanto, negar esta parcela de realidade contida na generalização. De fato, é necessário observar que o jovem está conectado, mas não é apenas alguém conectado, de modo alienado, 24 horas por dia. Ele precisa de informação. Ele precisa de companhia. Ele realiza dezenas de atividades durante o seu dia, entre estas, obviamente, muitas em frente ao computador ou com um dispositivo móvel em sua mão. Observemos algo, então, que, não raro, acaba sendo esquecido. Só existe um meio que pode oferecer informação e companhia no mesmo momento – e sem atrapalhar – em que outras atividades são realizadas. É o rádio. E isto deve ser explorado sempre pelas emissoras.
Como qualquer público, o jovem quer conteúdo que seja, do seu ponto de vista, de qualidade e que não esteja disponível de modo mais acessível e agradável em outro suporte. Música por música – todo mundo já sabe disto –, é muito mais fácil acessar este tipo de conteúdo por meio de um playlist próprio, ouvindo o que se desejar quando se desejar. Rodar músicas, no entanto, não deve ser uma prática abandonada. Não há condições econômicas – e seria uma chatice monumental – para operar rádios jovens totalmente faladas. Tocar música de interesse do ouvinte jovem amparando este tipo de conteúdo em comunicadores com algo para acrescentar em relação à sucessão de canções segue sendo uma postura sensata, realista e viável.
Com certeza, já hoje, os programas de maior audiência e mais rentáveis das emissoras jovens são os de conteúdo predominantemente falado. Chegam a multiplicar várias vezes a quantidade de ouvintes em relação à faixa musical anterior. Na sequência, cessado o papo, base da companhia oferecida e de um acréscimo de conteúdo ao dia a dia do ouvinte, esvai-se boa parte do público.
Aposto, portanto, em termos de rádio jovem, na crescente ampliação dos espaços dedicados a programas baseados no talk: entrevistas, debates, humor, aconselhamentos... É necessário desta forma um investimento em recursos humanos. O futuro do rádio jovem – de outros segmentos também – passa por quem está ao microfone. Comunicadores ágeis, bem informados e com tiradas oportunas e precisas são o amanhã do segmento. Gestores e produtores de conteúdo que saibam aproveitar o talento destes profissionais, em formatos inteligentes de programa ou de programação, também.
Tudo isto passa pela internet? É óbvio que sim. Redes sociais, streaming com vídeo, podcasts... Tudo isto faz parte do mix de marca e de conteúdo que tem no seu centro a emissora de rádio. Há exemplos negativos de quem investe excessivamente na internet e esquece algo simples: rádio é rádio e se constitui na base do processo. O adolescente pode descobrir o mundo acessando a internet, mas o único outro meio que tem a possibilidade de ir junto nesta viagem é o rádio. Afinal, sabe-se que pelo menos 40% dos internautas – de todas as idades – ouvem rádio on-line enquanto acessam sites, portais, redes sociais... É esta particularidade, reitero, que pode e deve ser explorada.
Sobre o rádio e o jovem, essa preocupação constante dos que gerenciam emissoras de outros segmentos mais adultos, parece-me que, por exemplo, não adianta muita coisa juvenilizar conteúdos em emissoras voltadas ao jornalismo. É possível que se perca ouvintes de outras faixas etárias sem que os mais jovens sejam atraídos para a emissora. Fora isto, como expliquei antes, várias rádios tidas anteriormente como musicais jovens e de entretenimento já oferecem conteúdos mais jornalísticos aos seus ouvintes.
O rádio jovem com base na fala, mas tocando música, parece-me, ainda, o melhor caminho para atrair novos ouvintes para o meio. Da adolescência até o momento de entrar no mercado de trabalho, este ouvinte conquistado gradativamente vai ir migrando, ao natural, da emissora jovem para as com mais jornalismo ou para outro tipo de formato radiofônico focado no adulto.
Por fim, outra coisa importantíssima: conhecer o público é fundamental para se obter sucesso com uma programação. Assim, o que dá certo em um determinado mercado pode e deve ser observado. Pode também, ao contrário do esperado, não se adaptar aos ouvintes de outra região. Não há, assim, receitas prontas. Com jovens, muito mais suscetíveis a mudanças, que têm um olho no seu entorno e outro no mundo, desconsiderar esta realidade constitui-se em risco considerável.
Por Luiz Artur Ferraretto
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