O rádio no Brasil passou por diversas mudanças ao longo dos anos, notadamente o rádio FM.
Quem acompanha essa história há décadas (ou mesmo há poucos anos), como ouvinte ou profissional, sabe bem disso.
No início, onde seguimos o padrão norte americano, de locutores/operadores, com agilidade, linguagem descontraída, humor. Até na programação musical, nos ritmos, estilos, plástica, formatos de grade, comercial, padrões, promoções e por ai vai.
Aos poucos fomos adaptando esse tipo de rádio ao nosso público, ritmos musicais locais e tradicionais, exigências de mercado e clientes. Num país com dimensões continentais era o esperado.
Com a base desenvolvida ao longo dos anos 80, na década de 90 o FM teve seu grande momento de se firmar com muita criatividade e inovações: as grandes Redes via satélite, as promoções extremamente criativas, as variações de estilos os programas diferenciados. Isso porque os profissionais foram se criando, aprendendo e trabalhando em cima dessa base forte e sólida que os inspirou.
Os anos 2000 vieram e a tendência era de cada vez o rádio no Brasil se firmasse, no novo milênio, como um dos mais importantes e fortes no mundo, com pessoas capazes de usar o legado deixado por 2, 3 ou mais gerações de profissionais e voar mais alto. Foi assim? Tenho minhas dúvidas.
Apesar de tudo o que tivemos no mundo, das mudanças econômicas, políticas e tecnológicas, que claro, afetaram nosso país, vivemos de 2000 a 2009 uma década de estagnação. As FMs não trouxeram grandes mudanças e permaneceram praticamente as mesmas.
Bebendo na fonte das décadas anteriores, usando velhas fórmulas, conceitos e ideias que já não surtem mais o efeito desejado.
E até agora?
Até aqui, 2016...tudo bem? Infelizmente não!
As rádios continuam estagnadas, reciclando o que já se foi, transmitindo o que nunca será, nunca mesmo.
E os profissionais seguiram essa linha. Não temos mais grandes talentos que despontam e fazem sucesso como antes, não temos comunicadores que sabem o que falam, com propriedade, segurança e conhecimento. Não temos radialistas preparados para fazer acontecer. Claro que não podemos generalizar, ainda grandes nomes estão nas FMs, tendo destaque e sendo competentes. Mas isso não basta.
Os limites impostos pela padronização excessiva, pela busca pela audiência, de certa forma, aniquilam qualquer forma de talento ou habilidade que surge. Ou se faz como o mercado quer, ou está fora. Ou se adapta ao "jeito atual de se fazer rádio", ou esquece. Ou se transforma numa "cópia, da cópia, da cópia", ou não serve.
A culpa afinal é de quem? Dos diretores artísticos que deveriam ser mais criativos? Dos locutores que deveriam se aprofundar em seu trabalho? Dos profissionais de qualquer área que poderiam se integrar mais ao meio, ao mundo e uns aos outros? A culpa é de todos.
Sim, todos! Num mundo onde somos "bombardeados" por informações o tempo todo, de tecnologia "louca e desvairada", de facilidades que beiram a insanidade, até certo ponto aqui no Brasil nós desaprendemos a fazer rádio.
Se você der uma girada no dial, na sua região, vai sentir isso. Pessoas robóticas, rádios idênticas, sem charme, força ou apelo. Apenas reciclando o que já passou. E te levando do "nada ao lugar nenhum" ou melhor, "ao lugar comum".
Lógico que pode se culpar a crise e seus efeitos devastadores na economia, porém isso só não justifica.
O rádio é esse veículo impressionante, forte, atuante, decisivo, mas precisa urgentemente se reciclar. As grandes emissoras precisam apostar mais em grandes profissionais em todas as áreas, voltar a trabalhar melhor seus talentos e valorizá-los, exercer com mais determinação seu papel. Parece fácil, não é, mas pode ser feito. Se as cabeças que dominam entenderam que precisam mudar e ousar para buscar novos caminhos. De uns tempos para cá parece que todo mundo entende de rádio, sabe fazer como ninguém, é expert, etc, etc. E não é assim...quem faz o rádio precisa entender que é preciso estudar, sentir, viver, atualizar, se envolver emocionalmente com o trabalho. Poucos ainda são assim.
Num momento difícil, onde tudo pode ser descartado, o talento e o grande profissional precisam ter mais espaço.
Um exemplo vem lá dos Estados Unidos: Broadway Bill Lee.
O cara começou nos anos 70, atravessou 3 décadas com uma dos grandes nomes do FM de lá, uma referência para mim e para muitos.
Num mercado que busca incessantemente inovações, há alguns anos, ele de volta a New York pela CBS FM, é o maior nome do rádio americano. Chega a ser engraçado nas redes sociais por aqui vermos pessoas postando seus vídeos fazendo as "cabeças" de músicas, cantando junto, rimando, fazendo RAP. É um deleite, mas para muitos o cara é um E.T.
Pensar que já tivemos gente nesse nível aqui no Brasil...ainda temos, mas que não tem o mesmo destaque.
Os "entendidos" do rádio no Brasil atual dizem que precisamos de atrações diferentes, de conteúdos inovadores, de programas sensacionais. OK, mas e se esses "entendidos" fazem somente "mais do mesmo", reciclando fórmulas desgastadas e sem vida. Isso vale? Me faz ser mais "entendido" do que outros? Também não.
Vivemos um novo momento no país, eleições, mudanças, acertos, erros. Quem sabe teremos um horizonte melhor, com mais força para o rádio nos próximos anos. O ditado "na vida, aqui se faz, aqui se paga" pode para nós ser trocado por "no rádio aqui se erra, aqui se refaz e se acerta". Bom, pelo menos é por isso que eu torço.
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Um grande abraço!
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