Terça-Feira, 07 de Agosto de 2018 @
É preciso não deve seguir exemplos sem questionar antes se aquilo realmente funciona para sua praça ou até mesmo se tem a ver com a sua maneira de “ver” o rádio
Durante boa parte dos anos eu ouvi uma frase que sinceramente não sei se é uma verdade ou se é apenas mais uma mentira que foi contada muitas vezes: O radialista gringo gosta do jeito que o brasileiro faz rádio.
Se a frase é verdadeira, achei alguns motivos: Talvez pela produção ou pela maneira criativa e irreverente que o brasileiro fazia as coisas acontecerem no rádio.
Nos anos 90 (época em que ouvia essa frase), o rádio brasileiro estava efervescente. Os textos eram ótimos, locutores eram como celebridades no ar e em muitas emissoras havia certo espaço para mostrar talento. Se hoje muitas rádios aceleram os locutores dando-os pouco tempo de fala, naquela época as rádios permitiam que seus locutores se tornassem artistas o que não significa que eles falavam em excesso ou sem critério.
Fora isso, na década de 90 o rádio brasileiro conseguiu unir textos bem escritos com boas produções. O resultado disso era um rádio instigante, provocativo, irreverente e criativo. Talvez essa tenha sido a última fornada de profissionais que sonhavam trabalhar no rádio. Obviamente o veículo hoje também conta com profissionais apaixonados, mas o que percebo é que o rádio definitivamente não foi sonho da imensa maioria dos profissionais que nele estão.
O rádio brasileiro me parece menos criativo do que em anos anteriores e esta é a minha opinião mesmo não sabendo o exato porquê dessa afirmação. Talvez, pela debandada dos apaixonados pelo rádio, ou de profissionais que queiram se destacar ali e usar o rádio apenas de trampolim pra algo que ele julga ser melhor.
Tem muita gente talentosa SIM, mas talvez não o suficiente pra grandes movimentações criativas.
Normalmente as rádios de cidades grandes ditam o que as rádios de cidades menores vão fazer. As rádios das grandes cidades são a referência e o que sinto é que essas rádios, tidas por muitos profissionais como exemplo, não acreditam que a criatividade é um fator importante ou competitivo e esta ideia se espalha rapidamente como um vírus.
A ideia “menos é mais” - que eu gosto - tem sido usada mais do que deveria e o resultado disso são rádios com um aspecto monótono e que salvo um detalhe ou outro, fazem que todas no Brasil as emissoras soem muito parecidas. Temos ótimos exemplos de rádios que buscam o diferente no que diz respeito a sua comunicação e colhem resultados bons de audiência e isso é ótimo para comprovar que criatividade não rivaliza com bons resultados.
A impressão que tenho quando ouço algumas rádios de fora do Brasil e comparo com as nossas é que eles continuam buscando a criatividade e que as emissoras daqui fazem o movimento inverso.
Aliás, saindo do rádio e indo pra TV, por exemplo: A TV Globo adaptou muito sua maneira de conceber as chamadas de programas, novelas e jogos de futebol. Mudou o conceito e pelo que parece têm o exercício de tentar algo diferente a cada peça. E isto nada tem a ver com duração, às vezes as chamadas são até mais curtas do que as de algum tempo atrás. Fazendo um paralelo com nosso rádio, estamos cada vez mais dentro de um padrão de execução que em muitos casos não existe nem um motivo ou partem de conceitos vazios como “ouvinte não liga pra isso”.
O remédio para isto talvez seja questionar mais. Não seguir exemplos sem questionar antes se aquilo realmente funciona para sua praça ou até mesmo se tem a ver com a sua maneira de “ver” o rádio. Não consigo ver criatividade como algo desnecessário ou como perda de tempo e apesar de dar mais trabalho, esta pode ser a solução que irá diferenciar sua rádio das outras. Pensar dá trabalho, mas é bom. Não é à toa que eu uso o slogan “Isso soa diferente” para a Galla Produções, busco um texto legal, um locutor que se acrescente no texto com uma interpretação legal e fico horas buscando uma trilha e um efeito como eu imaginei. Tudo isto é um exercício diário que é trabalhoso mas que traz resultados excelentes.
Experimente! O rádio fora da caixa pode soar melhor!