Terça-Feira, 27 de Julho de 2021 @
A trajetória do rádio é repleta de adaptação às novidades e ressurgimentos. Continua e continuará sendo um veículo insubstituível
Comecei trabalhando ainda menino aos 14 anos com Carteira Profissional do Menor. Naquela época podia. Conheci e convivi com os grandes nomes da época. O rádio tinha produtores, redatores, músicos, sim tínhamos uma orquestra que executava ao vivo as atuais vinhetas ou vinhetões que na época chamavam-se de “cortina musical” ou de “BG”.A programação era transmitida nas 24 horas do dia “ao vivo” e muitos programas em auditório com a presença de público que assistia aos programas de rádio. Organizávamos e transmitíamos pelo rádio programas ao vivo diretamente dos bairros como o conhecido “Alegria dos Bairros”. Fizemos Festivais de Música Sertaneja pelo Brasil todo. Promovemos e transmitíamos os Campeonatos Nacionais de Fanfarras e Bandas.
Os comerciais da época denominados “reclames” ou “propagandas” eram lidos pelos locutores também ao vivo. Raramente usávamos um disco metálico com uma camada de resina que rodava em 78 rpm e que chamávamos de acetato. Fazer uma transmissão fora dos estúdios da emissora era uma epopeia, usávamos linhas telefônicas cuja qualidade na maioria das vezes era sofrível. Isto quando tínhamos a previsão da programação externa. Muitas vezes para noticiar um fato ao vivo os nossos operadores de externa tinham que subir nos postes “grampear” um telefone de um assinante qualquer para ligarmos para a central de operações na rádio para colocar a notícia no ar.Com isto tudo fazer rádio era, e é apaixonante. Quantas vezes varávamos a noite na emissora trabalhando para fazer o melhor rádio.
O rádio tem a CRIATIVIDADE e a IMAGINAÇÃO.O rádio usa o mais sensível dos sentidos humanos a audição. O rádio possibilita o despertar da imaginação onde a princesa não é só bonita ela é belíssima. É o grande companheiro de todas as horas no mourão das cercas dos pastos brasileiros aos mais elegantes automóveis. É o único veículo de comunicação eletrônica de massa que possibilita sua audiência desenvolvendo outros afazeres simultaneamente. O rádio evoluiu tecnicamente. Passamos a usar a portabilidade dos gravadores portáteis de áudio. Usamos os famosos comunicadores Motorola nos carros de reportagem. Dos antigos acetatos para transmitir comerciais passamos para as cartucheiras com fitas magnéticas especiais. Esta evolução foi extraordinária mas infelizmente fez com que em alguns momentos nós abandonássemos a interatividade com o nosso ouvinte, o “falar ao pé do ouvido”.
O rádio de hoje tem uma tecnologia invejável. Equipamentos todos computadorizados, usamos IP, inteligência artificial, equipamentos sofisticadíssimos e extremamente velozes mas ao longo do tempo fomos perdendo aquilo que talvez de mais importante tivéssemos a CRIATIVIDADE, a IMAGINAÇÃO e a INTERATIVIDADE com o nosso público ouvinte. Nasci e cresci no rádio em Ondas Médias (AM).
Fui diretor geral durante 20 anos de uma emissora de rádio cuja audiência medida pelos institutos de pesquisa, dela sozinha, era maior do que a da segunda, terceira e quarta somadas. Era a minha querida Rádio Record em 1000 Khz com 200.000 watts de potência. Chegávamos a todo o território nacional. O desenvolvimento das cidades, a rede elétrica, os modernos equipamentos começaram a interferir na qualidade sonora da transmissão e captação em Ondas Médias. Tínhamos que optar por uma alternativa que solucionasse este problema que aumentava a todo instante. O Brasil optou pela migração para a faixa de FM.
COM UM MICROFONE NA MÃO PODEMOS FAZER TUDO!
Outros países buscaram outras tecnologias como o rádio híbrido, ou satélital, ou como os europeus pelo DRM. Com todas estas mudanças o rádio começou a corrigir o seu rumo. Buscou a segmentação da sua programação e comercialização. Encontrou novamente a interatividade com seu público ouvinte. Recomeçou a fazer programas com presença de público e música ao vivo. Ressurgiu.
O rádio moderno migrou hoje para as multiplataformas com a interatividade do vídeo. Está e estará presente numa infinidade de aplicativos. Sua audiência não depende mais do receptor “rádio”. Ele é ouvido e “visto” praticamente em todos os equipamentos de recepção sonora sejam celulares, smartphones, equipamentos de inteligência artificial, etc.
Voltamos as origens onde o público participa e interage com o rádio. Continua e continuará sendo um veículo insubstituível, televisão, internet, a tecnologia nada matou o rádio. O radio adaptou se e integrou se a estas novas realidades, mas sempre vivo e presente.
“A gente nunca se esquece de quem não se esquece da gente”