Quinta-Feira, 16 de Setembro de 2021 @
O mesmo aconteceu com as Olimpíadas. Ficou nítido que os departamentos esportivos e comerciais radiofônicos são excelências em cobertura de futebol, mas que não conseguem a mesma performance em outras modalidades esportivas.
Ao contrário da Rede Globo, SporTV, Globoplay e o portal GE, que investiram nos jogos e garantiram coberturas de patrocinadores, o Sistema Globo de Rádio não conseguiu explorar o filão da mesma forma que as suas irmãs globais. Nem mesmo as surpreendentes performances recordistas de nossos atletas, que tanto empolgaram o público, garantiram espaço equivalente nas grades programações.
Foi praticamente zero na “desconfigurada” Rádio Globo. Na CBN, observou-se um esforço da equipe em manter atualizados os resultados e os quadros de medalhas através da leitura de textos de agências de notícias.
Porém, desperdiçaram o que poderia ser o seu diferencial. Mesmo não enviando equipe própria, poderiam ter utilizado a estrutura da TV Globo em Tóquio, que detém os direitos de transmissão. Ressaltamos que já utilizou desse artifício inúmeras para enriquecer a programação e se diferenciar das demais na ausência do envio de seus próprios repórteres. Praticamente fez essa “casadinha” durante todo o tempo em que a Rede Globo possuiu os direitos da Fórmula I.
Já que falamos em F1, os novos donos, os Saad, bem que tentaram manter os ouvintes da Bandnews bem informados durante os Jogos Paralímpicos. No entanto, também se resumiram aos textos de agências.
Só para contextualizarmos... Se antigamente poderia funcionar o recurso das agências, ou fazer um off-tube de alguma emissora de televisão, o mesmo não funciona da mesma forma nos dias atuais em que a Internet disputa com o rádio em agilidade. Ou seja, é preciso complementar com um diferencial.
Na EBC não foi diferente. Embora no mesmo grupo estatal da TV Brasil – intitulada como a “emissora oficial dos Jogos Paralímpicos” e ter anunciado uma cobertura similar em suas emissoras de rádio, o mesmo não aconteceu na prática.
As provas, que anunciavam transmissão em cadeia da Nacional com a TV Brasil, sequer foram incluídas nas programações diárias anunciadas no portal da Rádio, tanto no canal de Brasília, como no da emblemática Nacional do Rio de Janeiro. As mesmas não foram reproduzidas pela pioneira Rádio MEC carioca que pertence ao mesmo grupo. Os noticiários dessas emissoras também não garantiram o espaço merecido às coberturas, assim como as devidas repercussões em seus tradicionais programas populares, culturais e educativos.
Lamentável a atuação dessas estações estatais que também desperdiçaram os direitos oficiais de transmissão que adquiriram no pacote EBC. Poderiam ter feito a diferença diante das demais, se beneficiando da audiência negligenciada por suas concorrentes comerciais. Além disso cumpririam a missão social de uma emissora pública.
Ou seja, as tradicionais Nacional e MEC deixaram escapar um filão que certamente, se incentivado por seus diretores, teria total ressonância entre seus competentes e engajados profissionais. Esses que, incansavelmente, mantém com suas experiências e obstinação, a qualidade e dinamismo dessas emissoras, apesar do pouquíssimo investimento governamental.
Destacamos que quando falamos em rádio, o seu processo produtivo é infinitamente mais simples, ágil e barato do que os demais. Com bem menos recursos dá para preencher com qualidade a programação e despertar o público através das vibrantes características comunicacionais deste meio. O fato de não ter imagem e de usar o telefone como canal operacional, facilita e agiliza o processo em relação aos outros meios.
Lembro que nas Paralimpíadas de Londres em 2012, eu estava à frente da direção da Rádio Roquette-Pinto, emissora pública-educativa do estado do Rio de Janeiro. Mesmo não tendo os direitos de transmissão, pouquíssimos recursos financeiros e uma equipe reduzida, conseguimos, graças ao emprenho do grupo e as facilidades comunicacionais do meio rádio, mantermos uma programação especial.
Baseamos a cobertura em informações educativas sobre as modalidades esportivas e suas adaptações paraolímpicas. O pouco material que as agências de notícia produziam em tempo real eram imediatamente reproduzidos no ar. Para preencher o restante da lacuna, abrimos espaços para entrevistas por telefone com alguns atletas que estavam em Londres, ou parentes e os treinadores que estavam no Brasil.
A nossa apuração junto ao Comitê Paralímpico Brasileiro foi fundamental para nortear a cobertura. Embora o espírito das paralimpíadas tenha contagiado toda a equipe, destaco aqui o empenho de 2 profissionais que, coincidentemente nos deixaram recentemente. O repórter Fernando Ventura, que assumiu o plantão esportivo nessa ocasião, e o veterano produtor Alpa Luiz na marcação das entrevistas.
Emissoras de TV já despertaram para filão das paralimpíadas
Dividindo a transmissão entre as TVs abertas, estão a TV Brasil da estatal EBC e a Rede Globo junto com o seu SportTV2 entre os canais fechados. Ao contrário das edições anteriores, esse ano os Jogos Paralímpicos contaram com um forte patrocinador privado, ao contrário do passado em que eram apoiados de forma paternalista por estatais a mando do governo. Assim, as transmissões e flashs do grupo Globo contaram com o conforto do aporte financeiro. A presença de um dos maiores bancos mostra o interesse do mercado publicitário pelo evento.
Já entre as demais fica visível a comparação da cobertura dada entre as Olimpíadas e as Paralimpíadas. Isso demonstra uma total miopia dos executivos dessas outras empresas que não conseguem vislumbrar o despertar do interesse do público, do mercado publicitário, a melhora das performances de nossos atletas, além do maciço apoio de internautas nas mídias sociais, como no investimento de marcas em associar seus nomes ou produtos a esse evento inclusivo.