Quinta-Feira, 02 de Dezembro de 2021 @
Fernando Morgado analisa o impacto do metaverso e fala como ele pode gerar novos negócios para as emissoras
Há muita confusão a respeito do conceito de metaverso, mas uma coisa é certa: ambientes tridimensionais e virtuais habitados por avatares estão longe de ser algo novo. O Second Life, criado em 1999 e lançado em 2003, já oferece isso. A recente lufada de frescor veio do Facebook, que, no fim de outubro de 2021, lançou uma nova marca corporativa (Meta) e tornou público os seus investimentos em metaverso. Assim, buscou lustrar sua imagem corporativa, que anda muito opaca, e renovar seu portfólio, que, apesar de valiosíssimo, enfrenta uma concorrência crescente, principalmente entre os usuários mais jovens.
O simples pronunciamento de Mark Zuckerberg já abriu a porteira para novos negócios. Mais aparelhos conectados são anunciados. Imóveis virtuais atraem investidores. Recentemente, por exemplo, um terreno no jogo on-line Decentraland foi vendido por cerca de 13 milhões de reais. Quem lida com criptomoeda, que tem tudo a ver com metaverso, esfrega as mãos, ansioso com a valorização do seu patrimônio. Mas o que os veículos de comunicação, notadamente as rádios, podem esperar disso tudo?
A ambição do Facebook, ou seja, da Meta, é grande: quer levar para um patamar muito superior as relações atualmente estabelecidas nas redes sociais. Hoje, tais relações se dão basicamente através de conteúdos: fotos, textos, vídeos etc. No metaverso, espera-se que as conexões ocorram de forma mais direta entre indivíduos e marcas em ambientes que misturam elementos concretos e virtuais.
Caso essa transição ocorra, o rádio terá espaço, por exemplo, para reforçar uma de suas maiores vocações: a realização de projetos especiais. Casas de shows, lojas, praças e ruas construídas no metaverso permitiriam a realização de ações on-line tridimensionais. Isso mudaria até as promoções mais simples. Emissoras sorteariam desde equipamentos para uma melhor experiência do usuário, como óculos e luvas, até artigos puramente virtuais, como bonés e camisetas para avatares. No metaverso, os posts medidos por likes dariam lugar a ações cujas métricas, até o presente momento, não estão claras. De todo modo, já se sugere uma mudança de paradigma.
É cedo para enxergar o futuro com nitidez. Vivemos a fase das especulações. Há muito por descobrir, principalmente quanto aos próximos passos que a Meta dará. Também há muito por fazer até que o metaverso se torne acessível para boa parte da população. Apesar do leilão do 5G, realizado recentemente, ainda falta para o Brasil entrar nessa nova era tecnológica. Muitos lugares continuam sofrendo com péssimas condições de conexão à Internet.
De todo modo, é preciso permanecer atento. A Meta é muito mais que uma empresa tecnológica, afinal, nos dias que correm, qualquer empresa é (ou deveria ser) tecnológica. A Meta é uma empresa de mídia, disputando o tempo da audiência e a verba dos anunciantes. Sendo assim, seus movimentos impactam todos os veículos, inclusive as rádios, que nos últimos anos moldaram suas áreas de conteúdo e marketing para atuarem no velho Facebook e agora correm o risco de mudar tudo outra vez para se adequarem ao metaverso. Só espero que, ao contrário do que se vê nas redes sociais de hoje, o metaverso não abra espaço para desinformação e traga uma remuneração justa para aqueles que, como as rádios, se dedicam à produção de conteúdo profissional.