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Sexta-Feira, 04 de Março de 2022 @

Desmonte das rádio públicas: Emblemáticos funcionários mais antigos estão sendo dispensados

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Demitido por telefone depois de 42 anos de reconhecidos serviços prestados e ainda em plena atividade profissional! Esta atitude por si só já é de deixar em alvoroço os comentários do Linkedin. Para piorar a situação, foi tomada por quem mais deveria incentivar a integração dos 50+ na sociedade e no mercado de trabalho: o Governo.

Junto com Rubem Confete, muitos outras figuras consagradas estão sendo vítimas de desprestígio na comunicação estatal nos últimos anos. São nomes como: Alpa Luiz, Dayse Lúcidi, Adelson Alves e muitos outros. Em comum, além da faixa etária, a dedicação de suas vidas profissionais à cultura e as pautas populares que até hoje encontram espaços reduzidos ou preconceito na mídia comercial e agora também na pública.

O fim do Confete justamente no período de Carnaval
Rubens Confete é funcionário da tradicional Rádio Nacional, emissora pública englobada pela estatal Empresa Brasil de Comunicação - EBC. Isso até a volta do feriado de Momo, quando passa a valer o seu anunciado afastamento.  A notícia caiu como uma bomba no chamado mundo do samba. Afinal, foi um dos responsáveis pela sua legitimação.
Expoentes estão se manifestando, como a cantora Tereza Cristina e com centenas de manifestações de solidariedade         
 Perfis de Twitter, Facebook e Instagram dos que transitam neste segmento demonstram uma mistura de incredulidade, indignação e ação. Estão se mobilizando na circulando um manifesto.

Não está sozinho: outros 100 na mesma situação
Tratamento semelhante está sendo dado para aproximadamente uma centena de profissionais que atuam nas emissoras da EBC no Rio de Janeiro, Amazônia e Maranhão e em Brasília.  Os atingidas estão com 75 anos ou mais.  
Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Rio de janeiro, a “aposentadoria compulsória imposta” não dá direito a nenhuma indenização. Com a reforma do INSS e da Administração Pública essas pessoas, mesmo com tanta bagagem, saem com “uma mão na frente e outra atrás”. Não tem direito a multas rescisórias, 40% do FGTS e aviso prévio indenizado, além da perda do plano de saúde, que é caríssimo para essa faixa etária, sendo praticamente impossível custeá-la com o provento da aposentadoria.  
Link: https://jornalistas.org.br/2022/02/12/nota-de-repudio-pela-demissao-de-rubem-confete-da-radio-nacional-do-rio-de-janeiro/

Carrega o Carnaval em seu sobrenome
Jornalista, Radialista, Compositor, Roteirista, Ator, Teatrólogo, expoente da cultura afro-brasileira... passou pelas TVs - Globo, Manchete, Gazeta,  Excelsior, Brasil, os jornais - Tribuna da Imprensa, Pasquim e as Rádios - Continental e Roquette-Pinto.
A sua relevância para o segmento é tanta que já foi homenageado por quase todas as escolas de samba do país, chegando até a ter sua vida transformada em enredo.
Foi agraciado com moção de louvor pela Assembleia Legislativa do Rio e com a “Medalha Pedro Ernesto”, a mais importante da Câmara carioca. Tem depoimento gravado para posteridade no Museu da Imagem e do Som. Sua importância cultural é tanta que foi transformado em verbete do Dicionário da Música Popular Brasileira.
O nome Confete se confunde com o da Nacional.
A história desse homem se confunde não só com a do samba e do carnaval, mas também com a da Rádio Nacional.
Coincidentemente nasceu no mesmo ano da fundação da emissora. Numa época em que esse segmento era ainda mais marginalizado, foi um dos responsáveis por transformar a estatal numa das principais porta-vozes da cultura até então excluída
Ao lado de Arlênio Lívio, comandou por mais de 30 anos o programa “Rio de Toda Gente” ficando como solo após a morte do companheiro. Em substituição, no mesmo horário, permaneceu mais de 2 décadas à frente do “Ponto Samba” lançado junto com a cantora Dorina seguindo como titular único após a saída da colega.
No entanto, seu espaço vem sendo reduzido dentro da empresa pública. Uma nota no próprio site da EBC em junho do ano passado já demonstrava isso. O experiente apresentador tinha perdido seus programas e sua atuação reduzida para um quadro semanal no “Armazém Cultural”. E o pior, longe dos microfones que o consagraram, os da Nacional.  A atração vai ao ar pela Mec, outra estação pertencente a EBC, mas sem o mesmo apelo popular e penetração em seu universo, a esfera do samba.  

Dayse Lúcidi
Pouco antes de morrer no início da pandemia de Covid, a estrela da Rádio Nacional desde os tempos da radionovela vinha se ressentindo. A atriz Dayse Lúcidi, consagrada também por atuar simultaneamente em dezenas de telenovelas da Globo, reclamava de seu trabalho diminuído.
Foi pioneira com programas comunitários nos meios de Comunicação. O “Alô Dayse” lançado em 1971 fez escola e influenciou outros apresentadores e emissoras. Sua linha de prestação de serviço hoje é seguido pelas Rádios Tupi, Bandnews e os telejornais locais da Rede Globo, assim como o Balanço Geral da Record.  
Nesses 39 anos ( não chegou a comemorar os 40 anos) o programa sempre figurou como campeão de audiência da Nacional, o que não impediu que nos últimos tempos tivesse perdido espaço deixando de ser diário para ser veiculado apenas uma vez por semana, para desagrado da veterana que não escondia sua insatisfação.

Adelson Alves
Outro expoente na abertura do espaço do samba e do carnaval na mídia é Adelson Alves, um dos primeiros a sofrer desprestígio dentro da EBC por conta da sua linha popular-cultural e a idade.
Acumula a experiência de mais de 50 anos. Seus programas funcionavam como trampolim para a entrada na mídia da música popular e de cantores e compositores desconhecidos. Ganhou fama como “amigo das madrugadas” pelas ondas da Rádio Globo, emissora líder de audiência, mas que também vinha preparando um processo contínuo de desconstrução de sua programação popular e dos profissionais mais experientes.
Porém, Adelson vinha nas últimas duas décadas trabalhando na EBC. Há exato um ano, nesta mesma gestão, também foi burocraticamente comunicado de sua dispensa, estando fora da mídia até hoje.
Isso faltando apenas uma hora para entrar no ar e sem direito a despedidas!  
No entanto, a perseguição já vinha ocorrendo nos últimos tempos como trocas constantes de horários na grade.
Mas a pá de cal foi a proibição do comunicador fazer o que sempre o consagrou e que não abre mão: levar, durante todo o ano, ao vivo, para os estúdios os cantores e artistas pobres que fazem o carnaval mas não aparecem nos holofote televisivo do dia dos desfiles.
 E era justamente esse o oxigênio da atração que funcionava em regime “de portas abertas”.
Não era preciso marcar. Era só chegar que tinha seu espaço garantido.  Isso acontecia desde o expoente Zeca Pagodinho até a mais humilde integrante da ala das baianas ou os tradicionais divulgadores das escolas, hoje praticamente órfãos de atrações que abram espaço para suas ações.
Suas rodas radiofônicas de samba ao vivo e suas entrevistas - do mais famoso ao mais simples - fruíam por madrugadas a dentro suas rodas radiofônicas. Era um espaço cativo conquistado para toda a comunidade carnavalesca.
Lançou grandes nomes como Clara Nunes, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Alcione, Almir Guineto entre outros. Ao mesmo tempo garantia voz a medalhões esquecidos pelo restante da mídia como Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Zagaia, Silas de Oliveira...

Alpa Luiz - o afilhado de Elza Soares
Mas a ingratidão corporativa e a falta de reconhecimento aos seus talentos mais experientes não estão acontecendo somente nas rádios da federal EBC. Uma gestão anterior da Roquette-Pinto, tradicional emissora pública do estado do Rio de Janeiro, fez algo semelhante com profissional Alpa Luiz.
Ingressando na emissora como talento mirim nos programas de auditório, permaneceu fiel a ela por mais meio século até ser demitido há cerca de 2 anos, não resistindo e morrendo poucos meses depois.
Ademir na certidão de nascimento teve nome artístico cunhado pela madrinha Elza Soares, que achava que o de batismo não combinava com a carreira artística. Juntou as iniciais e formou Alpa. Mas achando que precisa de um sobrenome que desse mais peso na sonoridade, escolheu o Luiz, “nome de um policial que a cantora estava namorando na época” – relembrava sempre Elza quando encontrava com o saudoso comunicador.
Seus programas foram importantíssimos não só para o samba, mas na abertura de espaços para gêneros ainda desconhecidos ou rejeitados pelo restante da mídia
Junto com o produtor musical Monsieur Limá introduziu o soul, a black music e o funk através de seu programa “Discomania”. Alpa Luiz fez introduzindo no dial o gênero discoteca no final dos anos 70. Foi trampolim para a então moçada da MPB da década de 80. O movimento “Rock Brasil” também deve muito a esse apresentador que foi um dos pioneiros na Rádio Fluminense, a Maldita – celeiro de toda essa geração.
Paralelo a isso sempre manteve programas destinados ao mundo do samba e do carnaval tanto na Roquette como nas Rádios Imprensa, Manchete e 1440.
Comandou premiadas equipes de transmissão dos desfiles desde antes da construção do Sambódromo.
Vinha se dedicando a função de comentarista da área que tanto conhecia. Era reconhecido e reverenciado desde a Velha Guarda aos mais novos sambistas.
Foi o braço direito de Marlene Mattos – pré Xuxa - quando esta dirigiu junto com Maurício Sherman a Roquette-Pinto. Nos últimos anos dividia seu tempo entre os microfones e a produção de outras atrações para a emissora.  
Tive o privilégio de tê-lo como produtor do programa “Primeira Página” que apresentei por 8 anos no período em que dirigi essa estação.
Uma das figuras com 'mais histórias para contar" que eu já tive o prazer de conviver. Conhecia todo mundo. Participou de inúmeros movimentos. Ajudava a todos.  
Com ele não tinha tempo feio. Por mais difícil que fosse considerado o entrevistado pautado, ele dava um jeito de fazer contato e trazer. O convite através dele era irresistível.
Não se restringia ao e-mail, a empresários ou assessores. Fazia questão de telefonar antes para conversar com a personalidade. Para os que estavam estreando, que poderiam ainda não conhece-lo o vozeirão, a educação, simpatia e humildade conquistava em pouquíssimos segundos depois do início da ligação.
Sabemos que a sociedade é cruel e vive um paradoxo. Os que deveriam ser valorizados no mercado de trabalho por acumularem mais experiência possuem espaços reduzidos em quase todos os segmentos. Mas o quadro fica mais escandaloso quando essa política e falta de reconhecimento vem do próprio governo que deveria ser o primeiro a dar exemplo da importância desses profissionais. 
 

Tags: rádio nacional, MEC, EBC, desmonte, rádios públicas, história

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Colunista
Luiz André Ferreira Luiz André Ferreira - jornalista, professor universitário. Mestre em Bens Culturais e Mestre em Projetos Socioambientais. Pioneiro em 2002 com lançamento da "Coluna Responsabilidade.com" sobre sustentabilidade no Jornal Le Monde. Passagens pela Reuters e grupos Folha, Estadão, Globo, Bandeirantes e Jornal do Brasil.

Rádios: Tupi, Globo, CBN, Eldorado, Estadão, JB, Bandeiranres, Bandnews, Roquette-Pinto
Contato: [email protected]










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