Sexta-Feira, 27 de Outubro de 2023 @
Embora possa parecer um problema exclusivo do Brasil, rádios de mercados internacionais, como o americano, também enfrentam dificuldades para manter músicas por um longo período em suas programações, sendo obrigados a incluir flashbacks. Os programadores musicais lutam para manter uma música por mais de 6 meses em suas playlists, o que contribui para uma programação mais equilibrada ao longo do dia. O que me inquieta é que, sendo uma das principais funções do rádio apresentar o melhor ao ouvinte, está se tornando difícil encontrar e ouvir boas músicas atualmente, principalmente nas estações mais populares.
Talvez este seja um sinal do passar dos anos para mim, mas percebo um declínio acentuado na música popular. Uma evidência desse declínio é a crescente popularidade das estações de rádio que optam por programações mais clássicas, mesclando flashbacks com o contemporâneo de qualidade. Não seria isso um grito de socorro do público por originalidade e excelência? Em meio a esse mar de banalidade, aceitamos o que gravadoras e artistas nos empurram, como se fôssemos apenas consumidores de um produto mal elaborado.
O sertanejo, antes um gênero repleto de narrativas e sentimentos, parece ter perdido sua essência. A transformação do sertanejo em um conjunto de canções superficiais e passageiras é lamentável. Atualmente, somos bombardeados por músicas efêmeras que mal permanecem três meses nas paradas. É notável o desespero de alguns artistas que lançam várias músicas simultaneamente e sempre com os mesmas duetos. Muitos podem argumentar que a popularidade em shows e nas paradas de sucesso contradiz minha opinião, mas esclareço: é o poder do marketing. Uma campanha bem executada pode induzir ao consumo, porém a transitoriedade dessas músicas demonstra sua superficialidade. Canções que permanecem em nossa memória por décadas são os verdadeiros tesouros, enquanto as passageiras logo são esquecidas.
Houve um tempo em que o pagode, o pop rock e o pop eram campos férteis para inovações musicais. Agora, parece que dependemos de artistas “sertanejos” para nos oferecer um pseudo-pop, um retrato da crise criativa que vivenciamos. Ao examinar as playlists de amigos próximos em plataformas digitais, notei uma tendência: eles estão explorando artistas menos conhecidos, em busca de algo genuíno em meio à mediocridade predominante.
Desta forma eu pergunto: Estamos realmente atendendo aos anseios de nossa audiência? Ou apenas fornecendo conteúdo genérico? Um fenômeno notável é a recorrente inclusão de midbacks e flashbacks na programação, numa tentativa de combinar o antigo com o recente, talvez para suprir a carência de qualidade atual.
Neste cenário, resta perguntar: até quando as rádios continuarão a aceitar músicas descartáveis?
Consultor de Marketing e Professor Universitário no Curso de Administração de Empresas. Formado em Administração com Pós em Planejamento e Gerenciamento Estratégico. Foi Diretor de Marketing e Artístico da Rádio Paiquerê FM 98.9 de Londrina, Gestor de Implantação da Rede Kairós FM, além de atuar como marketing nas Rádios Folha FM 102.1 e Igapó FM 104.5 (ambas em Londrina), com passagem pela coordenação da 98 FM 98.9 de Curitiba (Grupo GRPCOM), marketing da Rádio Banda B AM 550 FM 107.1 de Curitiba, gestão artística da Massa FM 97.7 de Curitiba e de São Paulo (FM 92.9), além de Head de Digital do Grupo Massa de Comunicação.