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Quarta-Feira, 24 de Julho de 2024 @

Rádio Bandeirantes AM 840 de São Paulo: História e Desligamento

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Nos últimos dias, a Rádio Bandeirantes de São Paulo divulgou a notícia do encerramento das operações de sua emissora que opera em AM 840 KHz. 

A medida faz parte do processo de migração das estações brasileiras de AM para o FM, iniciado oficialmente em 7 de maio de 2021.

A área de cobertura da Bandeirantes AM, na Grande São Paulo, já conta com sua migrante de FM no ar, em 86,3 MHz, além da emissora em 90,9 MHz, arrendada da VIP FM há cerca de 25 anos. Com isso, o Grupo Bandeirantes já pode abrir mão da tradicional operação de AM 840 KHz, que está no ar há 87 anos.
 
Para os radiodifusores, o desligamento de uma operação em Ondas Médias significa modernização e redução de gastos, afinal, também há sinais disponíveis em FM, na Internet e na TV por assinatura. As operações em AM são realmente onerosas e sujeitas às mais diversas interferências nos dias de hoje, algo que vem se intensificando nas últimas décadas.

Mas, vamos falar um pouco da história das transmissões dos 840 KHz da capital paulista, estação que, hoje, é “vítima” de uma simples lâmpada LED ou de um motor qualquer em funcionamento.

A frequência AM 840 KHz foi o embrião do grande conglomerado de mídia que é o Grupo Bandeirantes atualmente. Ela entrou no ar como PRH-9 - Rádio Bandeirante de São Paulo (ainda sem o “S”) em 6 de maio de 1937, emissora da Sociedade Bandeirante de Radiodifusão. Os primeiros estúdios foram instalados na Rua São Bento, 365, 2º andar, Centro de São Paulo, e o transmissor montado na Vila Vera, Distrito do Sacomã. Os fundadores da emissora foram José Pires Oliveira Dias e José Nicolini, este que depois se tornou diretor da emissora. A emissora pretendia estabelecer novos rumos no rádio paulista e começou irradiando programas religiosos, culturais e educativos, tudo dentro do máximo critério e sensatez. A PRH-9 brilhou com seus programas de auditório. Otávio Gabus Mendes, considerado o maior radialista brasileiro, estava na Bandeirantes, ao lado de Farid Rizkallah, Ivani Ribeiro e tantos outros que brilharam na programação.

Em 1944, a Bandeirantes foi comprada por Paulo Machado de Carvalho, diretor das Emissoras Unidas (rádios Record, Panamericana e São Paulo), que a vendeu, três anos depois, para Adhemar de Barros, futuro governador de São Paulo. No ano seguinte, em 1949, Barros transferiu a AM 840 para seu próprio genro, João Jorge Saad, que montou uma bem estruturada sede na Rua Paula Souza, 181, 4º andar, na zona cerealista de São Paulo. Após grande êxito de popularidade, Saad inaugurou, em 1967, um grande complexo de rádio e televisão no bairro paulistano do Morumbi.

O primeiro edifício construído no país para sediar emissoras de rádio e televisão abriga até hoje as emissoras do Grupo Bandeirantes, sob a presidência de Johnny Saad. Seu pai, João Jorge Saad, formou uma grandiosa rede nacional, composta por dezenas de estações de rádio AM, FM, OC e de TV, esta que foi a primeira a utilizar o sistema de transmissão via satélite na América Latina.

Entre os anos 1940 e 1960, a Rádio Bandeirantes AM 840 lançou diversos programas musicais que fizeram história no rádio paulista, como “Brasil Caboclo” com Capitão Barduíno; “Na Beira da Tuia”, com Tonico e Tinoco; “Almoço à Brasileira”, com Moraes Sarmento; e “Arquivo Musical”, no ar entre 1963 e 2020. Na área jornalística, no início dos anos 1960 entra no ar a equipe de “Os Titulares da Notícia”. O memorável Vicente Leporace estreou em 1962 o jornal “O Trabuco”, antecessor do “Jornal Gente”, que ainda vai ao ar todas as manhãs. As coberturas esportivas da emissora surgiram ainda nos anos 1940, com Ary Silva, Nicolau Tuma, Dárcio Ferreira e tantos outros. Fiori Gigliotti criou o famoso “Escrete do Rádio” em 1963, líder de audiência por vários anos.

Na década de 1970, a Bandeirantes AM crescia vertiginosamente e suas transmissões passaram a ser feitas com maior potência a partir de uma nova área montada na região do Parque Zoológico de São Paulo. Entre 1972-73, novos sucessos foram lançados: “Correspondente Musical”, com Hélio Ribeiro; e os jornalísticos “Ciranda da Cidade” e “O Pulo do Gato”, com Gióia Júnior e depois com José Paulo de Andrade — programa no ar até hoje com Silvânia Alves e Pedro Campos.

Com todo esse histórico de bons programas, a Rádio Bandeirantes é uma das principais emissoras do país, seguindo com foco na cobertura esportiva e no jornalismo.

Nos anos 2010, foi celebrada uma parceria técnica com a Fundação Padre Anchieta, visando transferir seus transmissores para junto das instalações da Rádio Cultura AM 1200 (atualmente Rádio Cultura Brasil), onde passou a compartilhar a antena transmissora.

É neste local, situado às margens da Represa Guarapiranga, que a transmissão do sinal de AM 840 KHz será interrompida no dia 5 de agosto de 2024, data oficial do encerramento das operações em Ondas Médias da Rádio Bandeirantes.

Nas redes sociais, é grande a insatisfação de muitos ouvintes acerca do desligamento de emissoras de Ondas Médias. Entre as reclamações mais comuns, está o caminho escolhido pelo governo e os radiodifusores, há cerca de 10 anos, para resolver o problema das emissoras de AM — alto custo, baixa qualidade de áudio e queda de audiência. Ao invés de migrar para o FM, a solução que os ouvintes mais apontam é a digitalização das transmissões em Ondas Médias, por meio de tecnologias disponíveis como IBOC e DRM, com experiências bem-sucedidas em alguns países.

Outra questão que é muito discutida quando se fala em desligar uma estação de AM é o devido aparelhamento da população com receptores eFM (FM estendido), que é a nova faixa, usada nos grandes centros, para as operações das migrantes do AM. Diferentemente das mudanças da TV em preto e branco para colorida; da TV VHF para UHF; e da TV analógica para digital, hoje em dia o ouvinte do rádio tem outras opções para continuar ouvindo a emissora migrante, sem a necessidade de investir em um receptor específico com eFM. O número de receptores compatíveis vem crescendo, mas aquém do necessário.

Ao ouvinte dos grandes centros urbanos, o desligamento de uma emissora de AM não traz tanto prejuízo como nos rincões do Brasil. O problema é que há cidades mais isoladas no interior do país onde não há serviço de internet e sequer sinal de rádio FM. Para resolver essa questão, é previsto o aumento da potência das emissoras AM regionais que não optaram por migrar para o FM, levando os sinais para mais longe, bem como manter no ar algumas emissoras estatais de alta potência, como a Rádio Nacional da Amazônia.

Esteja ele localizado na capital paulista ou em distantes cidades do país, onde a Rádio Bandeirantes AM é bem sintonizada, principalmente à noite, o fiel ouvinte agora espera que a emissora reconheça a importância da frequência dos 840 KHz, por onde o Brasil e o mundo puderam ouvir programas inesquecíveis. Que se promova uma justa homenagem antes do desligamento do transmissor Harris de 50 kw da inesquecível… ZYK-687!

E que o ouvinte assíduo do AM esteja preparado para mais notícias do gênero, muito em breve…

Tags: rádio, AM, migração AM-FM, Rádio Bandeirantes, trajetória, desligamento, São Paulo

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Colunista
Maurício Viel Maurício Viel é jornalista e historiador do rádio e da TV. É coautor do livro “TV Tupi: Do Tamanho do Brasil” e membro do MBRTV - Museu Brasileiro de Rádio e Televisão.










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