Sexta-Feira, 27 de Setembro de 2024 @
A falta de gestores de produto nas rádios brasileiras compromete a evolução e a relevância das emissoras, resultando em perda de conexão com os ouvintes e queda no valor de mercado
Você aí, na sua rádio, que não tem um gestor de produto: você analisa todos os pedidos musicais dos seus ouvintes? Cria promoções que incentivem a participação ativa deles? E depois, você analisa a faixa etária e a região onde esses ouvintes moram para depois mandar a sua Blitz para o outro bairro que não está ouvindo a sua rádio? Presta atenção no que eles estão pedindo, falando e comentando sobre a emissora? Acessa as redes sociais para entender qual é o perfil do seu público? Ou observa como o público interage com o seu portal e streaming?
Talvez você pense: “Minha rádio funciona bem sem um gestor de produto há ‘TANTOS anos.” Mas eu te pergunto: Será que funciona mesmo? Vamos analisar mais de perto. O rádio, como produto, tem perdido valor de mercado consideravelmente. E não estamos falando apenas da concorrência com o digital. Isso acontece porque o produto não evolui; não há uma gestão contínua e estratégica do conteúdo. O que funcionava décadas atrás não é garantia de sucesso hoje. Quantas rádios populares ainda têm programas românticos com locução ‘orgasmática’ no começo da noite? Praticamente todas. Sem um gestor de produto, o rádio permanece estagnado, e essa falta de evolução está diretamente relacionada à perda de valor comercial.
Pense no seguinte: quando você vendia uma inserção há 10 anos, quanto ela valia proporcionalmente em relação ao faturamento de hoje? Se você fizer o cálculo, verá que o valor de mercado do rádio caiu. E qual é um dos motivos? Porque o produto não se moderniza com a velocidade necessária. A linguagem da locução também está passando por mudanças, influenciada pelo digital. As plataformas de streaming e redes sociais estão moldando um novo estilo de comunicação, mas quem está discutindo isso no meio rádio?
O setor, como um todo, não discute sobre produto, conteúdo, ou programação musical. Um exemplo claro disso é o crescimento das rádios adultas contemporâneas, que explodiram em audiência nos últimos anos. E onde está a conversa sobre os motivos por trás desse sucesso? Ninguém está debatendo ou palestrando sobre o assunto, e as lições que poderiam ser aprendidas são deixadas de lado.
Agora, vamos falar sobre o controle de qualidade. A sua rádio tem o raio-x do que acontece minuto a minuto? E, quando digo isso, refiro-me literalmente a isso: você sabe o que está acontecendo às 7h, às 7h01, às 7h02 da manhã? Já pegou uma planilha e anotou o que é transmitido em cada minuto da sua programação? Esse tipo de análise é fundamental para entender se a programação está coesa e direcionada ao público certo. E quanto ao roteiro? Ter um roteiro bem definido não engessa sua rádio, ele direciona. Ele garante que todos estejam alinhados, desde a programação musical até o que o locutor vai dizer no ar.
E o que acontece quando não há esse controle? É como se a Coca-Cola decidisse mandar embora toda a sua equipe de controle de qualidade e deixasse que cada turno produzisse a bebida de acordo com seu próprio gosto. Teríamos Coca-Cola sem açúcar, outras com muito açúcar, algumas com pouco xarope, e assim por diante. A identidade do produto se perderia. No rádio, o princípio é o mesmo. Quando cada locutor faz o seu próprio horário e monta sua própria programação musical, a rádio perde consistência. Não podemos criar um produto de mosaicos, onde cada parte faz do seu jeito.
Um gestor de produto precisa de habilidades e visão estratégica. Ele deve analisar o que o ouvinte quer e julgar se faz sentido, monitorar as interações nas redes sociais, no WhatsApp, e estar em contato constante com o público. Isso é essencial para garantir que o produto da rádio continue relevante. E, sim, esse trabalho exige tempo e dedicação.
Agora, eu te pergunto: você já convidou 20 ou 25 ouvintes para um café e conversou com eles sobre o que pensam da rádio? Isso não precisa ser uma pesquisa cara e formal. Esse tipo de interação é uma pesquisa qualitativa valiosa e pode revelar insights preciosos sobre como ajustar a programação para atender melhor o seu público.
Por fim, o rádio precisa de uma gestão profissional do produto para garantir sua relevância e valor de mercado. Sem isso, o risco é perder valor e, consequentemente, faturamento. Um produto de qualidade e bem estruturado engaja; se ele engaja, ele vende.
E fica a provocação: Quando teremos um evento de 2 dias para falar somente de produto e conteúdo no rádio?
Consultor de Marketing e Professor Universitário no Curso de Administração de Empresas. Formado em Administração com Pós em Planejamento e Gerenciamento Estratégico. Foi Diretor de Marketing e Artístico da Rádio Paiquerê FM 98.9 de Londrina, Gestor de Implantação da Rede Kairós FM, além de atuar como marketing nas Rádios Folha FM 102.1 e Igapó FM 104.5 (ambas em Londrina), com passagem pela coordenação da 98 FM 98.9 de Curitiba (Grupo GRPCOM), marketing da Rádio Banda B AM 550 FM 107.1 de Curitiba, gestão artística da Massa FM 97.7 de Curitiba e de São Paulo (FM 92.9), além de Head de Digital do Grupo Massa de Comunicação.