Quinta-Feira, 20 de Fevereiro de 2025 @
Rádio precisa se reinventar e comunicar que é um meio multiplataforma, não apenas um aparelho com aparência ultrapassada
O rádio insiste em se vender como nostalgia. Como um objeto vintage, um aparelho velho empoeirado na estante, um ícone do passado glorioso que um dia foi o centro da sala. O próprio meio rádio alimenta essa visão retrógrada, enquanto ignora o ponto mais importante: rádio não é um aparelho. Rádio é um meio de comunicação.
E, pior, o próprio rádio não conta isso para as pessoas. Não há campanhas explicativas, não há comunicação clara para as novas gerações. O rádio continua tratando sua identidade como se o futuro fosse um acidente natural – como se, em algum momento, por alguma razão misteriosa, os jovens espontaneamente desenvolvessem o hábito de ouvir rádio. Mas não vão.
Rádio está presente, mas poucos sabem
O consumo de rádio continua massivo, só que de formas diferentes. Milhões de pessoas estão ouvindo conteúdos de rádio sem nem saber que aquilo é rádio. Quando assistem a uma live de uma emissora no Instagram, quando ouvem um podcast produzido por uma rádio, quando escutam um programa no carro via streaming, quando pedem para a Alexa tocar uma estação, estão consumindo rádio – mas não têm consciência disso. Para elas, tudo isso é apenas “digital”. Porque ninguém explicou que rádio não é o aparelho. Rádio é o MEIO.
Quer um exemplo? Tempos atrás, eu estava no carro com minha sobrinha de 16 anos e mais três amigas dela. Fiz a pergunta: Que rádio vocês ouvem? A resposta das quatro adolescentes foi unânime: A gente não ouve rádio. Eu respondi: Mas vocês ouvem sim. Isso que vocês estão ouvindo dentro do carro agora é rádio. Elas ficaram confusas: Como assim? E eu expliquei: A Jovem Pan é rádio. A reação delas? Ah, isso é rádio? Meu pai sempre vê a Jovem Pan no YouTube. Ou seja, nós não estamos contando para as pessoas o que é rádio de fato.
O rádio está presente na vida das pessoas, mas poucos sabem. E a culpa disso é do próprio rádio, que não explica sua relevância. Não explica as formas de consumi-lo. Enquanto isso, o próprio meio segue alimentando uma imagem equivocada. O discurso do rádio continua preso ao passado, como se um rádio de madeira na estante fosse sua maior identidade. A mensagem vendida ao público é a da saudade, do “tempo bom” em que todo mundo ouvia rádio no dial. Mas a pergunta é: até quando vamos sustentar essa visão ultrapassada? Quando o rádio vai parar de romantizar o passado e se posicionar como o que ele realmente é: um meio de comunicação atual, dinâmico e multiplataforma?
Não estou falando da extinção do rádio a pilha, mas há muito tempo, o rádio está além desse dispositivo.
O rádio precisa contar sua nova história
O problema é que ninguém explica isso. Não há campanhas publicitárias mostrando que rádio está presente em pelo menos 10 tipos de redes sociais e acessível em mais de dez tipos de dispositivos. Ninguém fala sobre isso. O próprio setor de rádio não investe em comunicação para reforçar sua presença digital. E pior: ele não investe nas novas gerações.
O rádio parece acreditar que, magicamente, em algum momento, os jovens vão “descobrir” o hábito de ouvir rádio. Só que hábito se cria por influência, por exposição, por marketing – e o rádio simplesmente não faz isso. Enquanto o streaming de música, os podcasts e as plataformas digitais investem pesado para conquistar audiência, o rádio segue esperando que sua relevância seja espontânea.
A campanha que falta
O rádio precisa mudar sua mentalidade urgentemente. Precisa explicar para as pessoas que ele não depende de um dial para existir. Que ele pode ser consumido em qualquer plataforma, em qualquer lugar. O rádio pode ser transmitido ao vivo no YouTube, pode estar dentro do TikTok, pode ser acessado via aplicativo, pode ser ouvido em um carro conectado ou em uma caixa inteligente. O rádio está em todos os lugares – mas ninguém conta isso para o público.
E, enquanto o rádio se prende à nostalgia, estamos a um passo de ouvir o absurdo final: radialistas e radiodifusores defendendo uma campanha para incentivar a compra de aparelhos de rádio. Porque, do jeito que ainda tratam o meio, não seria surpresa se alguém sugerisse “vamos incentivar a compra de Roadstar AM-FM para carros ao invés de Multimídias”.
Mas rádio não é um aparelho. Rádio é um meio de comunicação. E, se o próprio rádio não começar a comunicar isso, ele vai perder relevância para sempre.
Consultor de Marketing e Professor Universitário no Curso de Administração de Empresas. Formado em Administração com Pós em Planejamento e Gerenciamento Estratégico. Foi Diretor de Marketing e Artístico da Rádio Paiquerê FM 98.9 de Londrina, Gestor de Implantação da Rede Kairós FM, além de atuar como marketing nas Rádios Folha FM 102.1 e Igapó FM 104.5 (ambas em Londrina), com passagem pela coordenação da 98 FM 98.9 de Curitiba (Grupo GRPCOM), marketing da Rádio Banda B AM 550 FM 107.1 de Curitiba, gestão artística da Massa FM 97.7 de Curitiba e de São Paulo (FM 92.9), além de Head de Digital do Grupo Massa de Comunicação.