Quinta-Feira, 13 de Março de 2025 @
Estratégias do rádio norte-americano que podem fortalecer a radiodifusão no Brasil, com foco em inovação, segmentação e digitalização.
Aqui estão algumas lições valiosas:
1. Segmentação e especialização
Nos EUA, as rádios são extremamente segmentadas. Existem estações 100% dedicadas a rock clássico, hip-hop, country, esportes, política ou cultura pop. Isso cria um público fiel e atrai anunciantes específicos. No Brasil, muitas emissoras ainda misturam estilos e formatos, muitas vezes criando um mix que tenta focar num público-geral para tentar o tão sonhado 1° lugar no Ibope.
Criar rádios mais especializadas pode gerar uma audiência mais engajada e oportunidades comerciais mais estratégicas, lembrando que hoje os anunciantes buscam uma identificação com o target e não apenas volume de ouvintes.
2. O modelo de sindicação e redes nacionais
Nos Estados Unidos, muitas rádios adotam o modelo de sindicação, onde um mesmo programa vai ao ar em diversas emissoras locais, reduzindo custos de produção e ampliando o alcance. No Brasil, esse formato ainda é pouco explorado. Se bem implementado, poderia profissionalizar a programação e dar mais força para marcas e conteúdos de qualidade.
Atualmente existem mais de 6 mil rádios no Brasil, porém muitas delas enfraquecidas e quase sem audiência e conteúdos relevantes, isso muito devido à falta de investimentos, a falta de financiamentos privados ou públicos que auxiliem o meio a se adaptar ao futuro, mas principalmente pelo modelo antigo e obsoleto da radiodifusão que funcionou até a década de 90, mas que hoje sofre com a concorrência das multitelas e as milhares de opções de mídias digitais.
Uma união do meio com certeza traria maior solidez e força ao rádio brasileiro.
3. Inovação e integração com o digital
O rádio americano se adaptou rapidamente ao digital, com integração a plataformas de streaming, podcasts e aplicativos como iHeartRadio. No Brasil, muitas emissoras ainda estão presas ao formato tradicional, sem explorar bem essas novas frentes. O rádio precisa estar onde o público está: no celular, no carro conectado, nos smart speakers.
Uma simples sugestão que sempre falo em meus workshops e consultorias é que a emissora se utilize dos meios digitais e olhe o Facebook, Instagram, Youtube como ferramentas de propagação da rádio e não como concorrentes de mídia, as rádios que ainda não tem seus programas principais no streaming com certeza precisam rever seus conceitos.
4. Modelos de financiamento diversificados
Nos EUA, rádios públicas como a NPR (National Public Radio) operam com um modelo de financiamento misto: recebem patrocínios institucionais, doações de ouvintes e apoio de fundações. No Brasil, rádios culturais e educativas dependem quase exclusivamente de verbas governamentais. Um modelo híbrido poderia garantir mais independência e sustentabilidade para esse segmento.
Existe muito espaço para a evolução do meio rádio no Brasil, mas as entidades de classe precisam se unir para forçar mudanças em todos os âmbitos, se continuarem como estão, paradas no tempo e com pensamento atrasado com certeza passarão por grandes dificuldades até 2050 e apenas as redes mais estruturadas sobreviverão.
5. Programação baseada em dados
Rádios nos EUA utilizam pesquisas constantes para definir suas playlists e programas, garantindo que o que vai ao ar realmente conecta com o público. No Brasil, esse processo ainda acontece de forma mais intuitiva. A adoção de métricas mais sofisticadas pode tornar as rádios mais competitivas em um cenário onde o streaming domina o consumo de áudio.
Hoje utilizar os recursos digitais para entender os dados das emissoras é quase imprescindível, clientes e agências de publicidade compram dados para obtenção de resultados, ninguém faz mais uma campanha de mídia para ter apenas “presença de marca”, todos estão sendo cobrados por resultados, auditados por retornos claros para justificar os investimentos aplicados, as rádios precisam buscar maneiras de apresentar mais claramente esses dados, principalmente aquelas que não são auditadas por institutos de pesquisa, uma forma de fazer isso é usar os dados on-line a seu favor, pois mesmo que uma rádio não tenha Ibope, mas tenha 100 mil seguidores nas rede sociais e milhares de pessoas comentando em seus programas no Youtube com certeza isso tem grande valor na percepção do anunciante, pois mostra que o público consome aquela emissora e existem dados para comprovar isso.
6. Conteúdo de qualidade e formatos diferenciados
Enquanto muitas rádios americanas apostam em programas de entrevistas, debates e jornalismo aprofundado, no Brasil ainda vemos muitas emissoras focadas apenas em música e entretenimento rápido. Diversificar a programação com conteúdos mais ricos pode aumentar a relevância do meio.
Rádios musicais tem sim atratividade ao público, principalmente o mais popular que muitas vezes não está consumindo apps de música como Deezer, Spotify, Apple Music e entre outros, entretanto se você não interage com o público na programação a rádio é apenas um playlist musical e dificilmente conseguirá boas verbas publicitárias, um equilíbrio entre músicas e talk shows geram o engajamento necessário para criar uma habitualidade ao consumo da emissora, pense nisso quando estiver construindo uma grade de
programação.
7. Expansão para modelos premium
Nos EUA, rádios via satélite como a SiriusXM oferecem programação exclusiva sem comerciais, baseada em assinaturas. No Brasil, esse modelo ainda não existe, mas poderia ser uma alternativa para um público que busca mais qualidade e menos interrupções comerciais.
Volto a destacar a importância do diálogo, as Associações precisam conversar mais com o Ministério das Telecomunicações, o modelo tradicional parou no tempo, precisamos reinventar o meio para continuar crescendo.
E o que os EUA podem aprender com o Brasil?
Nem tudo é sobre copiar. O Brasil tem um rádio mais próximo do ouvinte, mais interativo e mais musicalmente diverso do que o modelo americano. A fórmula ideal seria unir o melhor dos dois mundos: a organização e a inovação dos EUA, com a criatividade e a conexão com o público que o Brasil faz tão bem.
O rádio ainda tem um papel essencial na vida das pessoas. Cabe às emissoras entenderem esse novo momento e se reinventarem, com certeza trabalhando essas ideias de
maneira eficiente teremos um período próspero a radiodifusão brasileira.
Vida longa ao Rádio!!!