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Quinta-Feira, 17 de Julho de 2025 @

Fadiga Digital: Menos Tela, Mais Rádio

O rádio pode se reposicionar como antídoto à fadiga digital, diante do excesso de telas, superficialidade online e cansaço informacional.

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Vivemos um ponto de virada no consumo de mídia. A fadiga digital é real, crescente e mensurável, e o rádio, mais do que qualquer outro meio tradicional, está diante de uma janela de oportunidade histórica. Mas essa não é uma crítica ao digital. O digital não vai acabar. As pessoas vão continuar conectadas. O que está mudando é a forma como elas se relacionam com o conteúdo.

O cansaço com o excesso de telas, notificações, plataformas e conteúdos irrelevantes está levando o público a buscar curadoria, clareza e conexões mais humanas. É exatamente aí que o rádio pode – e precisa – se reposicionar.

Novo sintoma: “Brain Rot”
O fenômeno da fadiga digital atualmente também é chamado de “brain rot” (apodrecimento cerebral), descrevendo o esgotamento mental causado pelo bombardeio de informações rasas, vídeos curtos e estímulos sem propósito. Pesquisas recentes mostram queda de foco, memória e produtividade, indicando que o cérebro humano não foi feito para suportar uma sobrecarga informacional tão intensa. Este cenário ressalta a urgência de meios que ofereçam uma experiência mais contemplativa e menos fragmentada – algo inerente ao rádio.

Não há como suavizar: as pessoas estão cansadas de vídeos curtos que não entregam nada, do excesso de influenciadores com conteúdo superficial, e de rolar a tela por horas sem se sentirem verdadeiramente informadas ou tocadas. Não por acaso, o tempo médio de retenção no TikTok já está em 3 segundos por vídeo, e o engajamento médio no Instagram caiu 28% só no último ano. Essa superficialidade não satisfaz a busca por conteúdo de valor e conexão genuína.

Impactos neurológicos recentes
Pesquisas apontam que a fadiga digital pode remodelar áreas do cérebro ligadas à atenção e à tomada de decisão, com ativação excessiva de gatilhos emocionais, resultando em fragmentação da atenção, aumento de ansiedade e o chamado “eco digital”: reações automáticas diante de notificações.

Diante disso, a pergunta é: cadê as campanhas das rádios falando disso? Cadê os comunicadores puxando esse debate com o ouvinte? Cadê a indústria do rádio mostrando com clareza por que ouvir rádio é uma forma de se informar e se entreter sem ansiedade e esgotamento? É crucial que o rádio assuma esse discurso, posicionando-se como um antídoto à sobrecarga digital.

Exemplo pífio de campanha:

Não basta afirmar “rádio é companhia”; é preciso mostrar como ele combate a fadiga digital:

Mensagem-âncora: “Descansa os olhos, sintonize 99.9”.

Segundo o relatório Digital 2025 da DataReportal, o Brasil fechou o início de 2025 com 183 milhões de pessoas conectadas à internet, o que representa 86,2% da população total. O brasileiro passa, em média, 9 horas e 9 minutos online todos os dias (muito acima da média global), e 56,8% desse tempo é dedicado ao uso do celular. A conectividade móvel predomina: 98,4% dos internautas utilizam o celular para acessar a web.

Além disso, há 144 milhões de usuários ativos em redes sociais (67,8% da população nacional). O dia a dia digital, segundo o DataReportal, é marcado por comunicação, entretenimento (vídeos, música, streaming), redes sociais, pesquisas e compras online. 61% das últimas compras foram feitas pelo celular, reforçando o papel central do smartphone no cenário brasileiro. No entanto, o uso extensivo dessas plataformas não significa satisfação plena, mas sim uma busca constante por algo que preencha o vazio informacional.

Estratégia de ação:

  • Escolha 1 ou 2 quadros campeões da sua programação (ex.: jornalismo de trânsito, humor local);
  • Produza versões curtas em vídeo e podcast;
  • Publique com regularidade, focando em qualidade e não em volume.

Vamos agir?

A pesquisadora Gloria Mark (University of California, Irvine) mostrou que as pessoas ficam apenas 47 segundos na mesma tarefa digital antes de mudarem de foco. Em 2004, esse número era de 2 minutos e meio – um forte declínio na atenção sustentada. Para quase metade dos jovens da Geração Z, esse uso intenso resulta em fadiga digital em períodos de apenas 30 dias.

Durante a pandemia, o aumento das telas e videoconferências impulsionou também o consumo de conteúdos só de áudio, como forma de aliviar o cansaço visual. Um estudo da IPG MediaBrands (Magna) com o Spotify revelou que 70% dos americanos relataram fadiga de tela, e 42% passaram a ouvir mais áudio digital para fugir da saturação visual. Este dado é um forte indicativo de uma tendência, não apenas de um fenômeno isolado.

Esse cenário favoreceu a redescoberta do valor do áudio – e o rádio se mantém forte, mas com a oportunidade de ser uma nova luz. É um retorno à essência, onde a voz e a imaginação prevalecem sobre a sobrecarga visual.

O rádio: o maior produtor de conteúdo com credibilidade diária

O rádio é o maior produtor de conteúdo diário entre todos os meios de comunicação. Se a rádio for musical, a cada 3 minutos, tem um novo conteúdo no ar. Se for news, a cada 60 segundos. O rádio mobiliza notícias, serviços à comunidade, música, campanhas, entrevistas e informativos – tudo de maneira ágil, próxima e com credibilidade. Os comunicadores, com 103 anos de voz no ar no Brasil, são os influenciadores mais antigos do país e mantêm um patrimônio afetivo único. Essa longevidade e a capacidade de se reinventar demonstram sua resiliência e relevância cultural.

E por que o rádio parou no tempo e não está aproveitando tudo isso? Por favor, não me diga que está – pois não está. O conteúdo é o mesmo. A fórmula é a mesma desde 1922.

Para aproveitar esse momento, o rádio deve abandonar a programação feita apenas por instinto ou rotina e investir em conteúdos construídos a partir de pesquisas reais com o público: que música, que vozes, quais opiniões a audiência quer acompanhar? Não há mais espaço para achismo em um mundo em constante mudança. A personalização e a relevância são chaves para fidelizar o ouvinte neste novo contexto.

O digital não morreu – e não vai morrer. Ele precisa ser ressignificado.

Você pode perguntar: “Agora o rádio não precisa mais do digital?” Pelo contrário – não cometa essa burrice.

Os novos dados do Global Digital Report 2025 (Brasil) mostram:

  • YouTube: 144 milhões de usuários
  • Instagram: 141 milhões de usuários
  • TikTok: 92 milhões de usuários
  • LinkedIn: 63 milhões de usuários (com crescimento de 13 milhões entre 2024 e 2025)

O digital é e sempre será fundamental. Mas o rádio precisa se posicionar estrategicamente nesses ambientes, levando para o digital o que tem de melhor – sem se distorcer pela lógica superficial das redes. Isso significa usar o digital como um complemento para estender o alcance e a interação, não como um substituto de sua essência.

Menos “on demand”, mais linearidade

A chamada “fadiga de streaming” já aparece no universo do áudio. As pessoas não querem mais pagar por vários serviços e decidir o que ouvir o tempo todo. O relatório Share of Ear aponta:

  • O número de pessoas com mais de duas assinaturas de áudio caiu de 13% (2022) para 6% (2025);
  • Pessoas com apenas uma assinatura subiram de 28% para 35%;
  • O Spotify registrou queda de 5% nos assinantes pagos nos EUA em 2025 (número contestado pela empresa).

O rádio é o meio de áudio mais consumido quando falamos de conteúdo gratuito suportado por publicidade, mesmo num mundo repleto de apps e plataformas digitais. Isso reflete não só hábitos enraizados, mas também a preferência do público por uma experiência sem paywall, sem login e sem esforço – basta ligar e ouvir.

Quando o “on-demand” é exagerado, vira ansiedade de escolha. O rádio resolve isso com curadoria, linearidade e presença humana: o ouvinte não precisa escolher nada, nem pular faixas – recebe valor imediato e sem estresse. Essa característica "sem esforço" é um diferencial competitivo valioso em um mundo de escolhas infinitas.

Então você me diz: “Que bom, Cristiano. Então nem precisamos mexer muito. Os ouvintes virão atrás do rádio.”

Não é bem por aí. Se você está esperando algo orgânico, melhor parar de sonhar. O rádio precisa se mostrar presente, com conteúdos relevantes e um produto consolidado.

Concluindo

Para gestores e profissionais do setor de rádio, a fadiga digital não é só um alerta – é uma grande oportunidade. As pessoas buscam menos tela, menos escolhas, menos superficialidade – e redescobrem o valor do áudio, da linearidade e da voz.

É hora de abandonar o comodismo, investir em pesquisa, valorizar a experiência sonora e produzir conteúdo propositado. O rádio precisa estar presente no digital, sem perder sua identidade. O futuro do rádio não está em competir com o digital em seus próprios termos, mas em complementar e oferecer o que ele não pode.

Tags: rádio, telas, digital, mudanças, comportamento, estratégia, consumo

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Colunista
Cristiano Stuani

Consultor de Marketing e Professor Universitário no Curso de Administração de Empresas. Formado em Administração com Pós em Planejamento e Gerenciamento Estratégico. Foi Diretor de Marketing e Artístico da Rádio Paiquerê FM 98.9 de Londrina, Gestor de Implantação da Rede Kairós FM, além de atuar como marketing nas Rádios Folha FM 102.1 e Igapó FM 104.5 (ambas em Londrina), com passagem pela coordenação da 98 FM 98.9 de Curitiba (Grupo GRPCOM), marketing da Rádio Banda B AM 550 FM 107.1 de Curitiba, gestão artística da Massa FM 97.7 de Curitiba e de São Paulo (FM 92.9), além de Head de Digital do Grupo Massa de Comunicação.










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