Sexta-Feira, 08 de Agosto de 2025 @
Números inflados por acessos não-humanos colocam em risco a credibilidade das emissoras e como adotar métricas que representem, de fato, o nosso público
Mas qual a diferença entre ouvinte e acesso?
A primeira diferença está no propósito da métrica. Acessos, tem como objetivo medir navegação e interação com páginas. No streaming, é simplesmente o instante em que um software – seja um navegador, um player de app, um smart-speaker ou até um robô de busca, monitoramento ou fiscalização – inicia uma conexão com o áudio da emissora. Ele até pode ser chamado de “Sessões”, “Audiência” ou “Ouvintes” no painel, mas ele não carrega, por si só, nenhuma informação sobre quem está do outro lado, quanto tempo permanecerá sintonizado ou se voltará a ouvir amanhã.
Já o conceito de “ouvinte” exige um filtro a mais: é preciso identificar um dispositivo único, garantir que essa sessão ultrapasse um tempo mínimo que descarte varreduras automáticas e, sempre que possível, consolidar reconexões do mesmo usuário para não contar a mesma pessoa várias vezes.
Em outras palavras, acesso é tráfego; ouvinte é público.
Vilões da credibilidade: O Tráfego Não-Humano
Segundo o último “State of the Internet” da Akamai, 42% de todo o tráfego web já é gerado por bots — muitos deles maliciosos e especialistas em “puxar” streams só para testar links ou raspar dados. Na WiseStream, de acordo com a Cloudflare, foram barrados cerca de 5 milhões de acessos em 12 meses, de bots não identificados nas mais de 500 emissoras que são atendidas na plataforma.
No universo do áudio, o alerta soa ainda mais alto: a Deezer detectou que até 70% dos plays de faixas criadas por IA eram inflados por fazendas de bots, uma fraude que distorce qualquer métrica de audiência. No rádio, já tivemos inúmeras situações de erros de programação em players de sites e alguns agregadores que geraram milhares de “ouvintes”, inflando e causando ruído nas métricas das emissoras.
E nem todo robô é criminoso — ferramentas de monitoramento de execução musical, verificadores de inserção publicitária como Audiency ou ConnectMix e os próprios “health-checks” da TI da rádio fazem acessos que entram nos logs como se fossem gente ouvindo.
Por isso, pensar na programação ou colocar números no Mediakit que são baseados em acessos, principalmente de rankings não validados, podem colocar a credibilidade em risco.
O caminho que as principais emissoras estão fazendo
Manter a credibilidade e transformar acessos em inteligência exige cuidado: é preciso consolidar reconexões num mesmo device, aplicar limites de inatividade para fechar sessões, descartar players silenciados e, principalmente, filtrar tráfego não-humano que distorce o alcance real.
Por isso, rádios do mundo todo escolhem empresas que possuem metodologias aderentes aos padrões do Media Rating Council (MRC), que define pré-requisitos para qualquer métrica séria e REAL, determinando auditoria no lado do cliente, duração ponderada por segundo e remoção obrigatória de tráfego inválido (Invalid Traffic - IVT) simples e sofisticado antes de reportar ouvintes ou impactos.
Assim, relatórios minuto a minuto do streaming deixam de ser simples “painéis de controle”, com telas visualmente bonitas, para se tornarem insumos táticos de negócio: eles alimentam calendários de promoções, quantificam o push de cada locutor (via variação de sessões enquanto o microfone está aberto) e o cálculo de Impactos/GRPs de um plano de mídia para disputa de concorrências.
Até a Kantar já se movimentou, após divulgar parcerias com a Triton Digital e a Nextdial, agora incluem em seus relatórios as novas métricas de "Ouvinte Digital Estendido" e "Alcance Consolidado". A base de tudo isso: fornecedor de streaming que permite a AUDITORIA e acesso ilimitado e irrestrito a essas empresas.
Por onde começar
Faça um inventário simples:
1) confirme que seu streaming entrega áudio limpo, sem clipping nem variações bruscas de loudness — bitrate alto não significa qualidade e má qualidade sonora derruba tempo médio de audição antes mesmo de qualquer métrica;
2) verifique se o RDS ou metadata do stream (artista, música, programa) está corretamente configurado e atualizado a cada break, pois ele alimenta players, smart-speakers e até o carro;
3) contrate um fornecedor que possua um serviço de monitoramento que diferencie acessos humanos de robôs, adotando filtros que descartem o tráfego inválido;
4) consolide essas informações num relatório ou dashboard que una audição qualificada, promoções e performance de locutores.
5) estimule toda equipe da rádio a tomar decisões baseadas em dados.
Conclusão: Qualidade Sobre Quantidade
A era digital exige do rádio uma nova maturidade analítica. A busca por números volumosos, mas vazios, deve dar lugar a um compromisso com a precisão e a transparência. As emissoras que desejam prosperar e provar seu valor em um mercado competitivo precisam investir em ferramentas e plataformas de analytics que apliquem essas metodologias consagradas.
Ao filtrar o ruído dos robôs e focar em métricas qualificadas, as rádios não apenas obtêm um retrato fiel de sua audiência, mas também fortalecem sua posição junto ao mercado publicitário, tomam decisões mais inteligentes e, finalmente, honram a conexão real que constroem com seus ouvintes. A verdadeira força do rádio digital não está no número de acessos que ele pode gerar, mas na comunidade de ouvintes que consegue, de fato, cativar.
As métricas do streaming são o início de um planejamento de 3 passos que leva a um conhecimento profundo sobre a audiência, seus comportamentos, interesses e intenções, transformando conteúdo e promoções em oportunidades comerciais e de faturamento.
No próximo artigo escreverei sobre os 3 passos, mas se quiser saber mais rápido, me procure e vamos conversar: [email protected]
Rodrigo Garcia é especialista em inovações para a transmissão de áudio e vídeo pela internet, fundamentando sua carreira em estudos avançados e pesquisas sobre tecnologias disruptivas aplicadas ao setor. Com foco em métricas, streaming, inteligência artificial e transformação do rádio, Rodrigo alia conhecimento teórico à prática inovadora para revolucionar a comunicação no universo digital. Atualmente, por meio da WISE TECNOLOGIA, ele lidera projetos que padronizam a tecnologia de streaming, aprimoram a mensuração e o business intelligence (B.I.) da audiência, e Monetizar o digital utilizando estratégias inteligentes e orientadas por dados.