Terça-Feira, 07 de Outubro de 2025 @
Fernando Morgado rebate teses negativas sobre o rádio com dados de institutos internacionais e pesquisas em diversos países
Uma das teses mais absurdas relaciona a popularidade do rádio no Brasil à pobreza que, lamentavelmente, atinge parte da população. É como se o rádio não fosse instrumento de integração e progresso, mas sintoma de atraso e subdesenvolvimento. Essa tese, fruto da ignorância e do preconceito, diz mais sobre quem a defende do que sobre a realidade dos fatos.
Rádio é forte em diferentes países e continentes
Por isso, em homenagem a todos que fazem o rádio no Brasil e a todos aqueles que ainda duvidam da força desse meio de comunicação, trago uma relação de 14 países e o percentual de suas populações que escutam rádio toda semana. Entre eles, há algo em comum: o consumo semanal de rádio supera 70%.
Vamos aos números de alcance: Irlanda 90%, Países Baixos 90%, Reino Unido 88%, Bélgica 86%, Itália 84%, França 84%, Finlândia 84%, Portugal 83%, Canadá 82%, Austrália 81%, Estados Unidos 80%, Alemanha 78%, África do Sul 74% e Nova Zelândia 74%.
Esses dados de consumo de mídia foram coletados pela World Radio Alliance e divulgados no início de 2025. Repare que essa relação abrange quatro continentes – África, América, Europa e Oceania – e diversos patamares econômicos e sociais. Vai dos Países Baixos, que estão empatados com Hong Kong no 8º lugar do ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), à África do Sul, que ocupa o 106º lugar nesse mesmo levantamento, mais de vinte posições atrás do Brasil.
Outro aspecto importante que rebate os argumentos de quem nega a realidade: esses percentuais foram levantados por diferentes institutos de pesquisa de mídia, o que afasta qualquer narrativa baseada em preferências pessoais por um instituto ou outro.
A variedade de países também representa distintos níveis de desenvolvimento tecnológico. Na Irlanda, por exemplo, onde 9 em cada 10 pessoas escutam rádio toda semana, 98,9% da população usa a internet, conforme dados do início deste ano do DataReportal. Ou seja, as pessoas consomem rádio mesmo utilizando a web. Uma coisa, portanto, não exclui a outra. Pelo contrário, afinal, o rádio também está na internet através da transmissão via streaming.
O lugar do rádio no presente e no futuro
Quando exponho esses dados, já testemunhei diferentes reações de pessoas que negavam a realidade do rádio. Uns (poucos) espumavam de raiva por verem, em poucos instantes, seus achismos se destruírem como um castelo de cartas (ou de areia). Mas a maioria, na verdade, acaba se surpreendendo e aceitando a minha tese de que vivemos em uma sociedade caótica também em termos midiáticos, na qual cada meio, seja tradicional, seja novo, se acumula e se reposiciona no mundo como uma pessoa que se vê obrigada a embarcar em um ônibus lotado.
Só que aqui, em vez de tratarmos de um espaço físico, tratamos de um espaço temporal, que é limitado e cada vez mais disputado. Mas uma coisa é certa: o rádio tem o seu lugar no presente e, sendo capaz de seguir se readaptando às mudanças de contexto, garantirá também o seu lugar no futuro do consumo de mídia.