Terça-Feira, 14 de Outubro de 2025 @
Compartilho minha trajetória para refletir sobre a força do rádio, sua reinvenção nas plataformas digitais e a importância de conteúdo e inovação para o futuro do meio
O único rádio que quase morreu (essa é uma pergunta que sempre me fazem), é o aparelho físico.
Você lembra a última vez que viu um rádio com botões?
O meio, por outro lado, está mais vivo do que nunca. O rádio é, por legado, dono do áudio. E isso inclui música, podcast, jornalismo, entretenimento e tudo que se constrói à partir do áudio.
Experiência pessoal: quando tudo começou
Eu nasci em uma cidade pequena no Pará, em uma casa sem energia elétrica ou água encanada. Nesse cenário de sobrevivência, o rádio foi o principal meio de comunicação — e a porta de entrada para o universo da imaginação.
A primeira referência que me marcou foi a voz feminina de Tia Heleninha na Rádio Nacional da Amazônia, ela contava histórias para crianças. Foi ali que descobri que uma mulher também poderia ocupar aquele espaço na caixinha.
Aos 12 anos, depois de visitar a Rádio Tropical de Paragominas com a escola, recebi uma proposta de trabalho como locutora mirim. Minha avó, que me criou como mãe, autorizou. E foi imitando os comerciais e apresentando um programa infantil que dei meus primeiros passos na comunicação.
A força do veículo: vínculos e impacto
O rádio cria vínculos, constrói realidades e fortalece a imaginação.
A história da transmissão de "A Guerra dos Mundos" por Orson Welles em 1938 é um marco da força do rádio como veículo de impacto. Milhões de pessoas acreditaram que a Terra estava sendo invadida por alienígenas — um episódio que revelou o poder da linguagem sonora e da narrativa ao vivo.
No Brasil, a era de ouro do rádio nas décadas de 1930 e 1940 consolidou o veículo como centro da produção cultural, com programas de auditório, radionovelas e astros como Orlando Silva e Ary Barroso.
Evolução do rádio: da FM à era digital
Nos anos 1980, a chegada das rádios FM trouxe qualidade de áudio superior e impulsionou a programação musical.
Lembro da minha experiência em uma das cinco melhores FMs do Brasil, onde tinha apenas uma hora de programa e precisava me destacar. Criei o quadro "Tradução" para explicar letras de músicas internacionais, e aprendi, com humor, que tradução literal nem sempre funciona (pra entender essa, só assistindo o meu TEDX).
Hoje, o rádio se expande para o digital.
Segundo o estudo Inside Audio 2025 da Kantar IBOPE Media, o rádio permanece como um dos meios de maior alcance e credibilidade, em um país onde 92% da população ouve rádio, música, streaming ou podcasts em um recorte de 30 dias.
A média diária de escuta é de 3h47, e em capitais como Belo Horizonte, Porto Alegre e Fortaleza, o índice é ainda mais alto — reforçando a força local que sustenta o vigor do meio.
Programação e conteúdo: mais do que música
Quando olho para essa evolução, vejo que o rádio não tem mais exclusividade sobre a música. Várias plataformas assumiram o papel de lançadoras de músicas e o rádio se tornou um curador dos grandes sucessos, em meio à tantos artistas.
Por isso, penso que a programação de uma emissora precisa ir além: jornalismo, informação, entretenimento e conteúdo relevante são essenciais, junto com a programação musical.
Curadoria e inteligência editorial precisam ser uma constante para observar o comportamento do ouvinte e ajustar a programação.
O futuro do rádio: inteligência e tecnologia
Depois dessa reflexão, considero que o futuro do rádio passa por três pilares:
1 - FORMATOS: o rádio não é apenas som, pode ser imagem também. Se a tecnologia permite assistir rádio, por que não? Podemos produzir os videocasts, conteúdos em vídeos para redes sociais, criar o canal do Youtube da rádio… isso só pra falar das possibilidades mais óbvias.
2 - RECEPTORES: quando olho pro futuro, vejo o rádio forte, adaptado à novos comportamentos, formatos e com o som em diversos receivers. Tanto através das ondas eletromagnéticas da antena, quanto pelas ondas e cabos de fibras ótica da internet. O rádio no carro, nas caixas inteligentes, nas smarts TVs, nas caixas de som. É essencial estar em todos os lugares possíveis.
Por isso, esqueça essa associação do MEIO rádio com o velho objeto de botões para girar e achar a frequência.
3. PESSOAS: 3. gestores e comunicadores precisam pensar de forma disruptiva. Investir em estrutura, tecnologia e pessoas excepcionais é um dos principais pontos do novo rádio. Os radiodifusores e gestores precisam contratar profissionais com visão crítica, capacidade de adaptação e preparados para usar a tecnologia para inovar.
Diariamente na minha posição como diretora artística, pratico essa visão do novo rádio. Acompanhar esta evolução do meio, desde os meus 12 anos de idade tem sido uma diversão desafiadora.
Se você trabalha no meio, colabore comigo nessa reflexão.