Quinta-Feira, 11 de Março de 2010 @ 00:00
O Tudo Rádio.com tem a honra de apresentar uma entrevista exclusiva com Roberto Nonato, profissional da CBN FM 90.5 AM 780 e da Antena 1 FM 94.7, ambas de São Paulo. Boa leitura!
Conte-nos brevemente sobre a sua trajetória profissional para nossos internautas, como começou em rádio? Verdade que foi no litoral norte de SP?
Olá, Fernanda! É verdade, comecei fazendo rádio na Beira Mar, emissora de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Entrei em rádio com 17 anos, inclusive meu primeiro coordenador foi o Wagner Rocha, hoje na 89. Sempre gostei muito de rádio e desde cerca de 15 anos imaginava trabalhar no veículo. Depois, servi o Exército e fui para Antena 1, aos 20 anos. Entrei logo depois na Excelsior, atual CBN, passei no FM pela Jovem Pan 2 e Eldorado e voltei para Antena 1 em 1993. Além disso, já fiz locução de cabine na TV Globo e gravo documentários, além de já ter tido experiência em apresentação de telejornal. Acho que isso é um resumo de atividades. (rs)
Seu trabalho é mais conhecido como o de um jornalista-Âncora da CBN do que propriamente de locutor. Qual gosta mais? Locutor ou âncora?
Acho que como âncora de uma rádio jornalística você tem mais proximidade com o ouvinte, mais interação, e consegue detalhar mais determinadas coisas. Por outro lado, como locutor, tem a interpretação que é sempre um exercício maravilhoso. São coisas que se complementam, mas entendo que o âncora tem mais possibilidades de funcionar como intermediário para auxiliar na vida das pessoas, já que detalha fatos que podem afetar a vida cotidiana.
Você é um dos apresentadores mais antigos da Rede CBN; como foi acompanhar o crescimento da emissora que foi pioneira na transmissão da programação em AM e FM simultaneamente no país? Como foi esse início para a CBN?
Eu estou na CBN desde o início, são 19 anos na rádio, um tempão. Foi um projeto absolutamente corajoso e que desafiava alguns conceitos da época. Será que era possível fazer uma rádio all news? O tempo mostrou que sim e a fórmula foi vitoriosa. Hoje, também temos a tecnologia a favor. Quando entrei na rádio não tínhamos o computador na programação, havia divisão de editorias e jornais com muitos blocos, além de um estilo manchetado. E quando a rádio foi para o FM foi outro desafio. Será que o FM comporta essa programação? Mais uma vez, a decisão se mostrou acertada e a solução deu muito certo.
A CBN sempre foi sinônimo de jornalismo sério e na época de formato inovador, porém diziam que a emissora não daria certo, hoje a CBN é uma das emissoras mais sólidas do sistema Globo de rádio. O que você acha que foi predominante para a rádio dar certo?
Acho que o ponto principal é a credibilidade. Isso só se constrói com o tempo, com seriedade e comprometimento. A CBN fez ampla cobertura das maiores crises políticas e de outros fatos que mexeram com o país. Essa participação ativa, ouvindo sempre todos os lados envolvidos e procurando explicar a informação, é o combustível para que a rádio seja hoje sinônimo de jornalismo sério.
Houve um episódio em que uma afirmação sua causou certa polêmica em alguns blogs e sites especializados durante uma palestra sobre jornalismo e rádio em uma Universidade de São Paulo e que você comentou que o AM estava acabando. Passado algum tempo desde então, as pesquisas mostram que a audiência do AM vem perdendo gradativamente para o FM. Ainda acredita na morte decretada da Amplitude Modulada? Por quê?
O que disse é que o público de AM tem diminuído e hoje poucos ouvem o rádio AM. Alguns entenderam que eu estava deixando a freqüência de lado e ressaltando apenas o FM. O que quis dizer é que se não melhorarmos o som da transmissão poderemos continuar perdendo ouvintes. Hoje em dia, poucos jovens ouvem AM, algo diferente de alguns anos atrás. Acho que é necessário pensar nisso e não ficar apenas imaginando que nada deve ser feito e que tudo tem de continuar como está. Por isso, disse que é necessário ter algum tipo de mudança. O som dos veículos raramente consegue ser bom para o AM, acho isso um problema e tanto, afinal quantas pessoas não passam parte de suas vidas nos carros?
Acho que as rádios caminham para se utilizar da internet também, numa convergência inevitável, e essas ferramentas devem ser usadas pelo AM também. Atualmente, na rádio Globo essas ferramentas são utilizadas com ampla participação do ouvinte, seja pelo Chat ou pelo blog, é esse tipo de mexida que deve resultar em pontos positivos.
Se O AM tem um futuro ainda que incerto, você acredita que as FM´s vêm exercendo um papel relevante ou ainda continua fazendo mais do mesmo?
Acho que são relevantes. É claro que tem muitas que fazem mais do mesmo, mas hoje observamos também uma segmentação maior. Algumas buscam um público adulto, tem as que procuram os jovens, outras seguem pelo rock, sertanejo, popular. Isso tudo, além das jornalísticas. Nesse sentido, entendo que há uma evolução, que é mesmo lenta, mas, me parece, consistente. São segmentos com concorrentes, o que é bom para o ouvinte.
Com o grande volume de informações e notícias, é possível levar ao ouvinte uma informação de qualidade? Como vocês trabalham isso na CBN?
Acho que o fundamental é levar uma informação na absoluta certeza, por isso a checagem é importante. A informação deve ser dada somente quando todos os lados foram ouvidos, sem a necessidade de ser o primeiro, mas ser o correto. É isso que faz com que uma emissora possa ter credibilidade e informação de qualidade.
É notório que muitas emissoras foram parar nas mãos de grandes grupos de comunicação, mostrando assim certo monopólio e também muitas igrejas assumindo o controle de certas freqüências. Qual é sua opinião sobre isso em relação ao rádio: pode sair desse ‘bolo’ algo bom?
Acho que isso depende de quem faz essa emissora. Se o grupo for conduzido por pessoas que entendem do veículo, certamente teremos algo bom. Você pode até não concordar com aquele veículo, mas ele será bem feito e você terá os concorrentes para comparar. Portanto, essa seleção fica a cargo dos ouvintes, como outros meios de comunicação.
Falando um pouco sobre seu trabalho como locutor, muitos ouvintes não sabem, porém além da CBN você também faz horário na Antena 1 de SP e as manchetes jornalísticas. Como é fazer locução em uma das rádios onde quanto menos o locutor fala, melhor? É menos trabalho?
Em relação a jornalismo é menos trabalho que na CBN, até porque a emissora é totalmente voltada para a música. Mas, apesar de menos trabalho, tem a seleção que afunila, o que realmente interessa para o ouvinte? Como escolher a nota jornalística que vai ao ar? Por ser, uma rádio absolutamente musical, procuramos trazer notícias que não sejam necessariamente aquelas que estão na capa dos jornais. Buscamos notas menos divulgadas, mas que sejam interessantes. É claro que, dentro de um cenário que não possa ser ignorado, a notícia será dada. Casos como terremotos, morte de alguma personalidade e coisas do gênero não ficarão de fora.
Em relação a locução, quanto menos se falar é melhor, pois entendemos que o ouvinte quer a música. Mas, isso não deixa de ser um complicador, pois o pouco que se fala deve ser bem pensado e, ao mesmo tempo, mostrar que tem alguém ali. É necessário ter um equilíbrio entre essa pouca fala e essa demonstração de que o locutor está ali, o que não é tão simples.
Como foi trabalhar na rádio Excelsior? Lembra de alguma história curiosa para dividir com a gente?
Foi uma época de aprendizado. Trabalhei com locutores mais antigos, aprendi a controlar a ansiedade, aprendi com jornalistas mais experientes sobre o que era mais relevante numa cobertura jornalística e coisas assim. Quanto à história, tenho uma engraçada: certa vez, estava fazendo um programa e o operador caiu da cadeira. Mas, a cadeira foi para trás e ele ficou com os pés levantados, quase operando a mesa com os pés. Na hora, fiquei preocupado que ele pudesse ter batido a cabeça e, ao mesmo tempo, deu vontade de rir, pois a cena ficou engraçada. O pior de tudo é que o microfone estava aberto e tive de continuar fazendo a locução sem ajudar o rapaz e sem demonstrar qualquer aflição. No final, deu certo e ele não se machucou.
Qual estilo você gosta mais de fazer em rádio: jornalístico ou musical e por quê?
Essa é uma pergunta difícil, pois gosto das duas funções. O rádio musical é aquele usado para relaxar, embalar seus momentos, e fazer rádio musical com programação que você gosta é melhor ainda. Eu falo que é uma diversão. Por outro lado, como sou jornalista, adoro o rádio desse segmento. Tem interação com o ouvinte, você traz informações que podem alterar o dia da pessoa que está ouvindo, se mantém informado. Gosto mesmo dos dois estilos, mas, se tivesse que escolher, seria o jornalismo.
O que acha das rádios hoje em dia? Acredita que tem qualidade ou elas usam das mesmas ‘técnicas’ para obter audiência sem grandes inovações? Acha que com o uso da internet, Ipod´s e MP3 o interesse em ouvir rádio continuará o mesmo?
Eu acho que sempre há alguma inovação. Além disso, você tem reinvenções, atualizações, algumas com mais qualidade e outras com menos. As novas ferramentas tecnológicas estão aí, cabe se adaptar e acho que o rádio faz isso, na medida em que você tem emissoras nos celulares, na internet. Sem contar que o rádio continua funcionando como um companheiro para muitas horas. Acho que tem espaço para todos e, ao mesmo tempo, uma integração é inevitável.
Nós profissionais questionamos muito a questão de vários profissionais não qualificados para a função de locutor atuarem como tal. Hoje, vemos muitos cursos inclusive pela internet que não garantem a qualidade e o preparo necessário para a função. Acredita que a vocação da locução se aprende em escolas? Qual sua opinião?
Acho que vocação não. Mas, nas escolas ocorre um aperfeiçoamento, você conhece técnicas, estuda estilos e melhora sensivelmente. Por isso, é importante verificar o local para um curso.
Quais suas expectativas futuras em relação ao rádio?
Acho que o rádio continuará com seu papel de informação, prestação de serviços e entretenimento por muito tempo. Talvez, com uma segmentação cada vez mais sólida. Com a presença de novas mídias, o veículo ganhou concorrentes, mas, como disse anteriormente, tem espaço pra todo mundo e o rádio vai se reinventando e continuará atraindo ouvintes e interessados.
Com a não exigência do diploma de jornalismo pelo STF para exercício da função isso pode acarretar futuramente uma queda na qualidade dos profissionais que trabalham com a informação. Na CBN a formação de um futuro profissional para ser contratado na emissora é levado em conta? O que acha dessa decisão jurídica?
Sim, a formação é levada em conta. Particularmente, acho que é necessário ter algum tipo de qualificação, pois é uma maneira de disciplinar a atividade. Nos bancos escolares ou universitários, você aprende noções de ética, as diferenças entre textos para os vários veículos, a importância de checar a informação ao máximo. Certamente, um profissional que tenha acesso a isso terá mais condições de se adaptar a uma redação e desenvolver um trabalho melhor.
Tem alguma coisa que gostaria de fazer em rádio ainda?
Sinceramente, não sei. Talvez coordenar uma rádio direcionada à música Black. Adoro o estilo (rs)
Soube que você é palmeirense roxo. Conseguiria narrar um jogo do seu time sem tomar partido (com ele perdendo) para o Corinthians ou qualquer outro time sem se abalar? (hehehe) Você acha que é possível haver esta imparcialidade no rádio?
Tinha que ser para o Corinthians? (rs) Fernanda, tenho certeza que conseguiria, sim. Acho que você pode ser isento. Ou seja, sou palmeirense, mas trato o Corinthians com isenção e qualquer outro time. Na rádio Globo, gravo as chamadas do futebol e gravo para o jogo do Corinthians com a mesma empolgação. Acho que na vida temos de ser isentos e assim conseguimos ter um bom retorno de nossas atividades, pois trataremos todos com o mesmo peso, apesar das preferências.
Tem alguma história ou gafe que já aconteceu com você no rádio? Conte pra gente!
Sinceramente, a única que lembro foi tirar a música que estava no ar. Isso foi no início da carreira, ainda em São Sebastião, tocando vinil. Mas, essa acho que todos que trabalham com música já fizeram. (rs)
Qual conselho você daria para aqueles que querem seguir uma carreira no rádio; seja como jornalista, seja como radialista?
Acho que o fundamental é se manter focado naquilo que quer fazer. É importante gostar de ler, pois somente bem informado é possível desenvolver um bom trabalho. E humildade sempre.
O que um futuro locutor precisa para desenvolver um bom trabalho?
Desenvoltura, criatividade, estar bem informado, prestar atenção na dicção e estar disposto a aprender sempre, pois as coisas estão sempre mudando, seja na tecnologia ou na linguagem do veículo.
Gostaria que seu filho seguisse seus passos ou recomenda escolher outra profissão?
Se ele quiser, não vejo problemas.
A segmentação do rádio ainda continua como tendência para os próximos anos? E o advento do rádio digital, o que muda para o rádio e para o profissional, haverá alguma mudança positiva?
Sim, acho que a segmentação será algo cada vez mais sólido nos próximos anos. Quanto ao rádio digital, não sei. Pelo que vejo, ainda vai demandar muito tempo.
Deixo este espaço aqui para suas considerações finais e seu contato disponível para os leitores do site.
Fernanda, obrigado pelo espaço, é sempre um prazer falar de rádio e jornalismo. Isso leva a uma troca de idéias e considerações, o que é sempre recomendável em qualquer segmento da vida. O e-mail é [email protected] ou [email protected]. Abraços.
Para finalizar, gostaria de fazer um jogo rápido:
Roberto Nonato por Roberto Nonato:
Sonho: mais segurança
Lugar especial: minha casa (sempre)
Comida preferida: simplesmente um bife com fritas
Paixão: coca-cola
Uma frase: não tenho uma frase preferida
Uma música: No meio de tantas, dizer apenas uma é um pecado
Palavra que não gosta de ouvir no rádio: plantão!
Se não fosse locutor, seria... dj, músico ou produtor, enfim algo ligado à música
O rádio para mim é: um veículo fascinante e companheiro de várias horas.
Fernanda Lima é jornalista e radialista. Apresenta e produz programas para as produtoras TalkRadio e I9 Sua Radio. Docente de locução no Senac-SP e sócia da produtora http://www.eccovoz.com.