Sexta-Feira, 13 de Agosto de 2010 @ 00:00
Salve salve amantes do rádio em todo Brasil e fora dele. Espero que todos estejam muito bem. Nosso papo de hoje é uma reprodução de uma super entrevista de Claúdia Assef com ele, Julinho Mazzei. Se você ainda não tinha tido a oportunidade de conferir, vale muito a pena.
Quando a internet era apenas um sonho de estudiosos e o Brasil vivia isolado do resto do mundo por bloqueios políticos às importações, Julinho Mazzei era uma espécie de Deus para quem queria consumir música nova. Nos anos 80, ele virou referência no FM brasileiro, comandando programas que influenciaram 10 entre 10 DJs que estavam se formando naquela época. Direto de Nova York, ele traduzia para o público tapuia, ávido por informação, tudo o que havia de relevante musicalmente na dance music, no comando de programas como os históricos “Big Apple Show” e “New York Express”.
Misturando inglês e português num ritmo de locução frenético, ele fez escola e transformou a cadeira de disc-jóquei de rádio num posto de aspiração para qualquer DJ. Julinho passou por inúmeras rádios brasileiras, da Antena 1 a Jovem Pan, passando pela histórica Pool FM, que nos anos 80 ousou em focar a programação nos DJs. Agora ele volta ao rádio, só que com uma emissora online, totalmente comandada por ele, a Radio Blog. Direto de Miami, esse verdadeiro ídolo dos DJs brasileiros falou com o TODO DJ JÁ SAMBOU um blog sobre música e os verdadeiros arquitetos dessa arte, da escritora, DJ e jornalista Claúdia Assef, sobre como um brasileiro venceu na Nova York dos anos 70, entre outras “cositas más”.
Nós aqui do Tudo Rádio pegamos uma carona e reproduzimos na íntegra essa super entrevista. Antes de começar a ler a entrevista, aproveita para sintonizar na Radio Blog.
Muitos DJs falam que aprenderam muito sobre música eletrônica e mixagens ouvindo você no rádio. Você tem noção que é um ícone para caras como Marky, Renato Lopes, Mau Mau etc?
Estou honrado em saber disso! Principalmente vindo de profissionais tão especiais e importantes como Marky, Renato e Mau Mau. Sou um grande fã e admirador do traballho deles. Como um dos que viram o movimento da dance music nascer no Brasil, fico muito orgulhoso de ver onde os nossos DJs chegaram. O Brasil evoluiu muito musicalmente e hoje temos DJs sensacionais, entre os mais criativos e respeitados do mundo! Fico muito feliz em saber que de alguma maneira contribuí para esse grande sucesso.
Você se mudou para os EUA em 1975 e foi trabalhar na rádio KTU, de Nova York. Como rolou de começar a fazer o Big Apple Show?
New York na época era o grande centro musical do planeta. A idéia de produzir e apresentar um programa onde pudesse mostrar tudo aquilo que estava rolando lá veio de uma forma muito natural. Naquela época era muito difícil de conseguir os discos, e a informação era muito lenta. O Big Apple Show foi um programa criado no momento e no lugar certos. Desde que pisei pela primeira vez em New York, fiquei apaixonado pelas rádios e pelo estilo de apresentação dos locutores locais – rápidos, dinâmicos, precisos, simpáticos, alegres e sempre usando as músicas como bases de informação. Isso sempre me chamou a atenção. Comecei então a imitá-los, misturando o português e o inglês e com isso pude criar o meu estilo que todos conhecem hoje e que até hoje imitam. (Risos) Comprei um equipamento completo e comecei a produzir o programa. Fazia ele do meu quarto. Ná época eu morava num prédio muito alto no East Side e do meu estúdio eu podia ver toda a cidade pela janela. Aquela vista maravilhosa me inspirava muito a gravar os programas para o Brasil.
Você foi um dos caras que começaram com os remixes no Brasil. Hoje qualquer um com um software de produção consegue remixar uma música. O que acha dessa facilidade que a tecnologia trouxe?
Realmente, a tecnologia facilitou muito o trabalho. Na minha época, o que demorava dois dias pra fazer, hoje faço em uma hora! É maravilhoso editar hoje em dia e ter toda essa nova tecnologia à disposição. Além disso, ela se tornou relativamente barata e muito acessível e com isso muita gente hoje tem a chance de criar seus próprios projetos. Isso é maravilhoso e abre novas oportunidades para uma nova geração de DJs, artistas, remixers e produtores. Hoje todos têm as mesmas ferramentas para criar.
Você foi coordenador da Pool FM, uma rádio que marcou para muita gente. Como foi trabalhar num nicho tão “exótico”, que era o dos DJs, nos anos 80?
A Pool foi uma rádio muito especial, um ninho de talentos que gerou uma enorme quantidade de profissionais. Muitos deles nasceram lá e atuam com enorme sucesso em diversas áreas. Existem hoje excelentes programadores, locutores, produtores/remixers e DJs que foram praticamente descobertos e “lapidados” na Pool. A minha função lá era, além de ter criado todo o estilo da rádio, plástica e programação, de também coordenar toda aquela equipe maravilhosa. Confesso que não era fácil!! Foi realmente uma época muito especial onde todos nós estávamos fazendo história sem saber. Os DJs chegavam lá, e colocávamos eles dentro do estúdio para ensiná-los a editar e criar seus próprios remixes. Abrimos espaço para muita gente nova. A Pool era um laboratório musical! Uma rádio pioneira, livre, democrática e inovadora. Acho que nunca mais teremos uma igual… espero que esteja errado quando falo isso. Que possam vir mais “Pools” por aí abrindo espaços, oportunidades para todos que tenham talento, e trazendo um bom conteúdo musical e informativo.
Como um brasileiro conseguiu se estabelecer musicalmente na Nova York dos anos 70?
Nova York nunca foi uma cidade fácil de viver ou trabalhar. Mas, ao mesmo tempo, sempre abriu portas para aqueles oportunistas com idéias novas e uma certa visão de mercado. Eu fui um deles! Aproveitei uma brecha que ninguém estava explorando na época – a de levar ao Brasil pelo rádio todas as maravilhas que estavam acontecendo. Veja bem, naquela época não existia a internet! Era um outro mundo, e a informação demorava muito pra chegar a outros lugares. Pra você ter uma idéia, fui eu que dei a notícia da morte do John Lennon em primeira mão para o Brasil, pelo simples fato de estar perto da área onde o assassinato ocorreu. Como só tinham dois telefones públicos disponíveis no quarteirão do Dakota (lembre que os celulares ainda não existiam), demorou quase quatro horas para poder ligar para a central de jornalismo da Rádio Jovem em SP para dar a notícia no ar. Se isso tivesse acontecido hoje, a história seria bem diferente. Era um mundo mais lento em tudo. Os anos 70 foram brilhantes musicalmente. Um berço dourado de estilos e fusões. A música estava literalmente no ar em todos os lugares daquela cidade. Uma loucura mesmo. Foi graças à música que consegui viver naquela selva de pedra maluca, musical e maravilhosa por muitos anos.
Você está tocando uma rádio online, a Radio Blog, conta um pouco como rolou?
A Radio Blog sempre foi um grande sonho meu, e agora com a chegada e a popularização da banda larga, redes de wi-fi e outras novas tecnologias, o sonho se tornou uma realidade. Hoje seria quase impossível pra mim ter uma rádio convencional. O custo operacional é muito alto. Por outro lado, uma rádio online tem um custo bem menor e uma penetração muito maior! Com a chegada da banda larga, hoje todos podem ouvir não só em seus computadores como também em diversas redes de celulares. A maioria da audiência da Radio Blog vem de acessos diretos através de celulares. A idéia de criar a RB aconteceu há dois anos. Estava cansado de gastar meu precioso tempo e talento trabalhando para outras pessoas e, como a vida é muito curta, tomei a importante decisão de seguir em frente “voando solo” e focando o meu tempo e energia no que eu mais amo fazer: rádio!! Acho que nesta vida a gente tem sempre que seguir o que o coração pede. Sempre tive essa enorme vontade de ter a minha própria rádio onde pudesse ter um controle total da coisa. Trabalhei em muitas rádios, mas nunca tive a liberdade de falar ou tocar o que realmente queria. Por muitos anos estive preso a regras e estilos determinados pelas empresas em que trabalhava. Agora não!! A Radio Blog é o meu grito de independência, um espaço onde finalmente posso expressar livremente todas as minhas as emoções falando e tocando o que eu quiser. A mesma coisa acontece com toda a equipe da RB. Todos aqui são livres para expressar seus sentimentos. É uma rádio democrática. A Radio Blog é o nosso canal de expressão, onde todos participam com suas idéias e sugestões.
Hoje com tanta informação solta pela internet ainda dá para fazer algo tão marcante quanto o Big Apple Show?!
O Big Apple Show foi um programa que rolou numa época onde a informação musical demorava pra chegar ao Brasil. Estar transmitindo um programa ao vivo daquela cidade pra o Brasil era como hoje alguém estar transmitindo um programa de Marte (Risos), era uma loucura!! As pessoas não entendiam direito como aquilo era possível. Todos no Brasil estavam com sede de informação e não tinham como consegui-la. O programa entrou com essa missão, de levar ao público informação rápida e interessante. Sempre existirão novas pessoas com novas idéias e tenho certeza que outros programas marcantes também surgirão ainda mais agora que temos todas essas ferramentas tecnológicas à nossa disposição. Hoje só não cria quem não quer! Que venha essa nova geração de profissionais e programas turbinados cheios de bom conteúdo musical e falado.
Os DJs de rádio foram fundamentais na história da profissão, mas talvez nem todo mundo se dê conta disso. Você ressente não ser tão reconhecido pelo grande público quanto um DJ de clube, por exemplo?
As rádios em geral abriram enormes portas para os DJs. Foi e continua sendo uma grande vitrine para mostrarem seus trabalhos. Em Nova York, por exemplo, grandes DJs foram descobertos no rádio!! John “Jellybean” Benitez, Tony Humphries, Carl Cox, Tony Moran, Little Louie Vega… nossa! Existe uma lista grande deles. DJs que hoje viraram ícones, verdadeiras lendas vivas e tudo porque o rádio abriu portas para que eles pudessem expressar seus talentos. Hoje em dia isso ainda existe, mas a gente sabe que muita coisa mudou. Os grandes festivais e eventos especiais rolando pelo mundo servem agora como a plataforma ideal e mais direta deles se promoverem. Um grande exemplo disso é o Winter Music Conference, aqui em Miami. Todos os anos milhares de pessoas, produtores, donos de gravadoras, fabricantes de equipamento e investidores chegam aqui para ver as “estrelas” em ação e também conhecer a nova geração de DJs/produtores/remixers, que aproveita o evento para mostrar seus trabalhos. Tuta Aquino e Julinho: dupla que ajudou a popularizar a dance music no Brasil. Hoje em dia eu sou muito mais conhecido como um cara de rádio do que um DJ! Apesar de mixar no ar e tudo o mais eu tenho me dedicado mais à produção e ao microfone… mas sempre que tenho uma oportunidade de mixar faço com o maior prazer e alegria. Não existe nada melhor do que estar cara a cara com o público recebendo toda aquela energia maravilhosa da pista.
Você é um dos caras mais citados no livro TODO DJ JÁ SAMBOU, sabia?
Fico muito honrado com isso. Muito obrigado meus queridos DJs que amo e respeito tanto por não terem esquecido de mim!
Bate-Bola Rápido
Eu sou: Julinho Mazzei
Mas poderia ser: Lance Armstrong
Rádio Blog: um sonho realizado
Um fone: Sony MDR-V700
Um microfone: Electro Voice R20
LM Music: Meu programa favorito.
Uma rádio: Radio Blog
Time do coração: Santos Futebol Clube
Um DJ: Louis Benedetti
Eu recomendo dançar no: (Paradise Garage - NY) quem conheceu sabe.
Eu recomendo jantar no: Tu Casa (Miami Beach – Florida)
Amor: música
Brasil x USA: amo o Brasil, mas prefiro viver nos USA.
Música especial: é impossível ter uma só!
Radio Flight: um momento marcante na carreira
Um arrependimento: não tenho
Uma grande voz: Marcelo Zamarian
Um grande profissional: Hélio Ribeiro (R.I.P)
Uma grande lembrança: pescarias com o meu Pai e Avô
Um sonho: um mundo mais justo para todos
SP x Miami: Miami
Sou grato a: aos meus pais
Mais amigos ou colegas: amigos
Esporte: Surfe
Julinho Mazzei by Julinho Mazzei: “O show da vida é muito curto!! Por isso, dance, cante, pule, ame, de muitas risadas, viaje, ajude, crie, viva o momento, seja agredecido pelo que tem, não pense no amanhã, seja sempre positivo, plante árvores, leia bons livros, desligue a televisão, use filtro solar, se alimente bem, cuide do seu corpo, trabalhe com amor… viva a vida em total plenitude….viva!!...antes que a cortina se feche, meu amigo!!”
*Pronto! Esse é um dos mais consagrados locutores de todos os tempos; Julinho Mazzei, que cedeu essa bela e riquíssima entrevista ao blog TODO DJ JÁ SAMBOU e que nós do Tudo Rádio, reproduzimos para você. Agradecimentos especiais, a jornalista Claudia Assef pela cortesia e gentileza em nos ceder esse arquivo e ao próprio Julinho Mazzei pela cordialidade em nos receber. Valeu!
Rodrigo Viriatto, conhecido no meio como Tubaraum. Quatorze anos como locutor, profissional formado. Atualmente está na Sete Colinas FM em Uberaba/MG, mas já teve passagens por algumas rádios da cidade e região do Triângulo Mineiro. Futuro jornalista, tem 34 anos de idade e é mineiro de Itaúna.