Terça-Feira, 02 de Junho de 2015 @ 00:00
Já estamos em junho e o Tudo Rádio tem como meta ampliar o número de entrevistas publicadas pelo portal. A idéia é sempre mostrar projetos e profissionais que estão em destaque com a intenção de contribuir com a formação de novos talentos e planejamentos, além de gerar discussões sobre a trajetória passada e futura do meio rádio. Hoje o papo é com o Jorge Ribeiro, radialista conhecido pelo seu trabalho na Mix FM (voz de chamadas da rádio, além de manter um horário ao vivo na emissora em São Paulo). Boa leitura!
Jorge, como você começou no rádio? Foi na Baixada Santista? E como surgiu o seu interesse pela "latinha"?
Olá amigos do Tudo Rádio.com, primeiramente obrigado pela oportunidade de falar para todos os profissionais e amantes do rádio de todo o Brasil. Sim, meu início no rádio foi no ano de 2000, na cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo, na extinta Verde Mar FM. A emissora pertencia ao ex-prefeito da cidade, Dr. Dorivaldo Loria Jr. o Dozinho, que foi o cara que me deu a oportunidade de falar no rádio como locutor pela primeira vez, aos 15 anos de idade.
Eu, literalmente, passei na porta da radio, toquei a campainha e ele atendeu, já saí `impostando` a voz (risos), dizendo que queria ser locutor. Existia um programa de entrevistas no qual ele era o âncora, me colocou no ar, e eu improvisei meia hora falando de um tema sobre educação! Me contratou na hora! Assumi os fins de semana da rádio, e durante a semana eu fazia produção em casa, editando e gravando as vinhetas e chamadas da rádio e levando naqueles disquetes de 1,44 MB. Nessa época, segundo uma pesquisa da Fatec de Praia Grande, conquistamos 60% da audiência do FM na cidade, batendo as grandes FMs de Santos, cidade em que migrei anos mais tarde para trabalhar no Grupo Mussi (98 A Rádio Rock, Litoral FM e Nativa FM). Mas meu início na "latinha" de verdade, foi aos 13 anos de idade, animando as festas juninas do meu colégio. Eu escutava muitas rádios, ia nas emissoras, "pentelhava" os locutores, tanto que quem me ensinou a operar mesa foi o Emílio Surita junto com um dos meus padrinhos no rádio, e hoje grande amigo, o humorista Marcos Aguena o "Japa", em 1997. Bons tempos, eu fazia a "rádio" da escola igual as FMs ... As vinhetas na fitas k7, uma pilha de CDs, tinha até cartucheira, que hoje tá na minha casa! Todo mundo começou assim, acho que vou passar a vida inteira tentando descobrir o que o rádio tem de tão mágico que vicia a gente, que faz a gente sonhar!
E como você parou no rádio em São Paulo?
Em 2005 fui à Rede Mix de Rádio pra fazer uma visita. A rádio ainda era na Paulista 900. A Mix sempre foi uma rádio de excelentes resultados, tanto que a fórmula do sucesso da rádio era tão sigilosa que até as visitas eram (e são) bem restritas. Eu ia jogar fliperama com os amigos na galeria do Ed. Sir Winston Churchill, em 1999, sempre atravessava a Paulista e dava com a cara na porta da Mix inúmeras vezes (risos), sempre me davam um papelzinho com um telefone pra ligar e marcar visita. Eu pensava assim: "vão juntar uma galera pra fazer uma visita guiada na qual eu nunca vou conseguir falar com ninguém do artístico, preciso chegar na rádio de outro jeito".
Daí lembrei que a minha mãe havia trabalhado no grupo Objetivo nos anos 80 (fui alfabetizado com as famosas apostilas) implorei pra ela me dar o telefone de alguém que ela conhecesse rsrsrs. Falei com um, falei com outro e consegui a visita, com a querida Jaqueline, que trabalhava na presidência do grupo. Cheguei na Mix com um pilotinho debaixo do braço e entreguei pra Eliana Chuffi, que semanas mais tarde o ouviu, selecionou e mostrou para o Marcelo Braga, que me chamou pra gravar um teste seis meses depois. Concorri à vaga com 10 locutores, de diferentes idades, tempo de rádio, alguns, feras do microfone que eu ouvia na adolescência, ficaram 5, depois 2, e em 5 de junho de 2006, eu estreava pela Rede Mix de Rádio às 23h de um domingo frio, que marcou a minha vida pra sempre.
Chegou a fazer algum curso? Onde?
Me formei em jornalismo, e fiz curso de locução pela Radioficina, onde posteriormente fui professor por alguns anos.
Qual a importância desses cursos de locutores na formação do profissional de rádio?
Essenciais! Antigamente (até à época que comecei no início dos anos 2000) era muito mais fácil começar a trabalhar em rádio sem o registro profissional, de uma forma positiva se adquiria experiência, traquejo, improviso, "com o avião no ar", porém, vícios eram frequentes, como a impostação de voz excessiva, falta de padrão operacional, e as famosas "muletas" que locutor usa pra juntar as idéias no ar. O curso de locução é uma oportunidade de estar em contato com profissionais atuantes em rádio, que estão aptos para formatar, lapidar, e inserir esse profissional no mercado ao nível que ele exige. Claro que cada um tem seu estilo, no entanto deve ser mais natural possível.
Como foi o início de sua trajetória pela Mix? Quais foram os seus horários antes de assumir a faixa das 15h às 19h?
Comecei na folga da Rede Mix, na época sob o comando do amigo Lui Riveglini. Em 2007, passei a fazer a folga falando nos 106.3 de Sampa. Em 2008 me tornei o titular do horário das 03h às 07h da manhã, ao mesmo tempo, fui convidado pelo Marcelo Braga pra fazer a voz padrão das chamadas da Mix TV, uma época de excelentes resultados que me levaram pra um estilo de locução totalmente diferente, a interpretação, o tom. Isso me ajudou a projetar mais meu trabalho dentro do grupo Mix. Cheguei a rejeitar proposta de apresentar um programa numa grande emissora de TV pra continuar no grupo gravando a voz da Mix TV.
E como você chegou a fazer a faixa horária atual na 106.3 FM?
Fui convidado para fazer o horário da tarde em 2010 para substituir o grande profissional e amigo Marcos Braga, que saiu do ar para assumir outro projeto do grupo, com a responsabilidade de dar continuidade ao excelente trabalho realizado por ele, assumindo o horário de pico de audiência da emissora, liderando a faixa horária entre as jovens. Graças a Deus, a liberdade de trabalho que a Mix sempre me deu, e a estrutura da equipe de produção, programação musical e promoção, continuamos liderando no horário e sempre inovando a nossa linguagem pra estar presente onde o jovem está, tocar o que ele curte, e falar o que ele quer ouvir.
Sobre as chamadas da Mix. Como foi esse trabalho de manter o padrão da rádio e como que perceberam em você a possibilidade de manter essa linha da rádio?
Eu já fazia as chamadas da Mix TV, que tinham uma leve semelhança de interpretação com as da rádio, para exatamente, manter o padrão e reforçar o Cross-Media gerado pela junção dos produtos do grupo. As chamadas iam para o ar também na rádio, reforçando o conteúdo da TV nos breaks (numa versão rádio mais acelerada e bem próxima). Quando o Marcelo (Braga) deixou a vice-presidência do Grupo Mix em 2010, era ele quem gravava todas as chamadas. O Alexandre Medeiros (grande amigo e parceiro de rádio a quem deixo aqui meu abraço) que estava à frente da direção artística da emissora, literalmente me puxou pelo braço, do estúdio do ar até o estúdio de gravação, me deu um texto na mão e falou: "Agora é com você lindão" rsrsrs. Junto com ele, na supervisão de Marco Antônio Martins, gerente geral de rede, André Shiro, na produção e Léo Breanza na sonoplastia, naquele ano renovamos o pacote de vinhetas e chamadas ao longo dos anos, sempre mantendo o padrão responsável pelo sucesso da Mix em todo o Brasil.
Faz algum outro trabalho para a Rede Mix de Rádio e também para outro projeto do Grupo Mix?
Atuo como voz-padrão das chamadas e vinhetas locais de todas as afiliadas e emissoras próprias da Rede Mix. As praças tem suas promoções gravadas com o mesmo padrão seguido pela Mix São Paulo e Mix Rio. Trabalho também no departamento de jornalismo da Mega TV, canal do grupo em São Paulo, que possui programação de variedades e varejo, como noticiarista das matérias internacionais que vão ao ar ao longo da programação do canal, e no Jornal Conectado, além disso, apresento os eventos cívicos e comemorativos do Colégio Objetivo / UNIP, além de ser a voz dos comerciais de rádio e TV da instituição, que é a maior rede de ensino do país, detentora do Grupo Mix.
Você também conta com trabalhos fora da Mix, apresentação de programas em rádios de outras cidades. Como isso funciona e como foi o início disso?
Sim, sempre gravei conteúdos para rádios de outras cidades, bem como campanhas publicitárias para comerciais de rádio e TV, narração de documentários, vídeos institucionais, mas no rádio, exceto publicidade, mantenho parcerias somente em praças em que a Rede Mix não está presente, com o aval acordado dentro do grupo Mix de gravar, desde que fora da atuação comercial e de concorrência da rádio. Fizemos esse acordo pois a procura e proposta das rádios eram muito grandes, então a Mix me liberou. Além disso apresento e produzo conteúdos radiofônicos, como o programa Slow Motion, da Rádio Conteúdo, do amigo Robson Ferri. O programa está no ar na faixa horária da noite e é a realização de um grande sonho. O Robson sabia dessa minha vontade, e quando lançou o Rádio Conteúdo me convidou, é um estilo totalmente diferente, falo diretamente ao coração das pessoas e procuro passar mensagens positivas!
Qual a sua expectativa quanto ao futuro do rádio na internet e também via ondas (FM)?
O rádio nunca morrerá. Isso é fato. Enquanto existirem pessoas nesse mundo, o rádio sempre as atingirá da maneira mais ágil. O FM continua, teremos a faixa estendida em breve, aumentando a gama de rádios no dial FM aqui no Brasil. O conteúdo será mais segmentado ainda e a oferta de empregos também aumentará. Além disso o rádio vai usar a internet pra se propagar e se fortalecer ainda mais. Hoje a internet traz a possibilidade de termos o rádio On Line, disponibilizado em diferentes plataformas, as FMs que sabem trabalhar sua marca On Line já distribuem bem sua audiência entre dial e streaming via site e apps. Esse é o futuro, o conteúdo do rádio convencional continua, com a entrega também On Line.
As marcas também terão no rádio mais um canal de comunicação com seu público. Elas poderão usar o rádio On Line para direcionar seus investimentos em projetos customizados com conteúdo atrativo e que interessa a esse consumidor específico. Você busca ele na rede, traz pro seu canto e o fideliza! Esse tipo de ação já é bem sucedida por várias marcas, mas foram profissionais do rádio que levaram isso pra dentro das agências, e elas tem que saber buscar no rádio seus profissionais pra traçar estratégias eficientes. Gente que tenha a sensibilidade de saber fazer, na veia, gente do ramo, fazendo brainstorm com quem é de criação, de atendimento, mas o rádio assim tem que ser feito por quem é de rádio! Existem inúmeros profissionais capacitados para o mesmo, é só valorizar! Dá resultado!
Você vê hoje o rádio mais competitivo ou precisando se reinventar?
O rádio se reinventa silenciosamente. Você, que ouve a Mix hoje, se pudesse ter acesso a 30 minutos das fitas de censura da Rádio Cidade em 1981, da Rádio Excelsior em 1970 percebe que os formatos mudaram ao longo dos anos, e se eu gravar 30 minutos do meu horário num pen drive e ouvir daqui 15 anos, vou notar mais diferença ainda. É a competitividade do mercado e a evolução do comportamento da sociedade que molda o rádio para ela. Por isso que quem faz rádio não deve ficar alheio ao que acontece no mundo. O ser humano evolui e o rádio acompanha essas mudanças pois é feito 100% por seres humanos.
E o que você prospecta para o seu trabalho e para a Mix FM em São Paulo para os próximos anos?
Tenho 29 anos de idade, 14 de profissão, e um caminhão de lenha pra queimar rsrsrs. Além do rádio desenvolvo trabalhos de locução para campanhas publicitárias de rádio e TV, documentários, vídeos institucionais e ofereço esses trabalhos ao mercado e também diretamente aos clientes, bem como consultoria artística, branding e reposicionamento de marcas.
Voltando ao rádio, continuo evoluindo com trabalho à frente do microfone da Mix FM, que realizo já há 9 anos. Todos os dias quando abro o microfone, ainda sinto aquele friozinho na barriga, aquela sensação boa de estar falando na "latinha" que só quem é de rádio sabe. Todos os dias quando entramos no ar, construímos um novo currículo no rádio, por isso devemos nos esforçar sempre pra entregar o melhor resultado. Obrigado especial aos que me ajudaram nessa trajetória, entre eles TODOS os nomes que citei nessa entrevista, que tiveram suma importância em todos os meus momentos no nosso bom e velho rádio, e que venham muito mais bons momentos por aí.
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.