Segunda-Feira, 07 de Março de 2016 @ 00:00
O rádio de Pernambuco e também de todo o Brasil está acompanhando de perto mais um fenômeno de audiência. Trata-se da tradicional Rádio Jornal, emissora que já liderava a audiência entre as AMs do Recife e, recentemente, resolveu apostar no mercado FM. O resultado foi expressivo: em menos de dois anos no ar em 90.3 FM a estação já ocupa o "top 3" da audiência FM local, segundo o Kantar Ibope Media.
Para falar um pouco mais sobre essa trajetória de destaque da Rádio Jornal o Tudo Rádio bateu um papo com Carlos Miguel, gerente de programação da emissora pernambucana. Acompanhe:
Carlos, primeiro eu gostaria de agradecer a entrevista concedida ao Tudo Rádio. Vamos lá. Na sua opinião, qual o principal motivo para o rápido crescimento da Rádio Jornal no FM?
Assim como nas praças onde já existem grandes emissoras de rádio operando em AM e FM, essa “migração antecipada” só fortaleceu o rádio. As grandes emissoras do país têm programação de AM. Rádios como Gaúcha, Itatiaia, Tupi, Globo, Bandeirantes e tantas outras que não citei são exemplos disso. Quando fomos operar no canal de freqüência modulada, mantivemos a grade de programação que estava no AM. A mesma essência que deu a Rádio Jornal mais de 24 anos de liderança absoluta na faixa. O que não esperávamos, era que o crescimento fosse tão rápido. Nosso planejamento era ficar entre as cinco primeiras em 2 anos. Com 12 meses, já éramos terceiro e na soma dos ouvintes que ainda nos ouvem pelo AM lideramos o ranking na soma das duas faixas, ou seja, resgatamos aqueles ouvintes que sentiam dificuldade de nos ouvir devido a faixa do AM sofrer interferência externa e ainda conquistamos novos ouvintes que sentiam a necessidade de ouvir uma programação que tivesse notícia, prestação de serviços, esportes e também música.
Antes da estreia da Rádio Jornal em 90.3 FM, vocês chegaram a acompanhar os resultados obtidos por outras AMs tradicionais que estão no FM (como Rádio Itatiaia, Super Rádio Tupi e Rádio Gaúcha)? Se sim, o que mais chamou a atenção de vocês?
Sim. Como apaixonado pelo veículo eu já estudava o rádio brasileiro. Li e ouvi muitas experiências das emissoras que já “migraram” e como gerente de programação, a rádio me deu oportunidade trocar ideias com representantes de outras emissoras e aprender muita coisa. Isso também nos ajudou. Mas, o que mais impressionou foi a liderança em tão curto espaço de tempo. O perfil do ouvinte de rádio está mudando. Hoje ele quer, além se informar, opinar e formar a própria opinião, saber como está o trânsito e também ouvir uma boa música. Tudo isso já tínhamos na nossa programação. O mais surpreendente foi conquistar a liderança só com o canal de FM em alguns horários primordiais para o rádio: 03h00 às 08h00, das 12h00 às 14h00 e das 18h00 às 20h00. Justamente os horários onde as pessoas saem para trabalhar, saem para almoçar e voltam para casa e ouvem rádio no carro, no celular, nos aplicativos...
Os ouvintes do AM manifestavam interesse em acompanhar a Rádio Jornal no FM antes da ida para 90.3 FM?
Alguns já pediam sim. Como sabemos, o AM tem dificuldade de transmissão devido a verticalização das cidades. Hoje tudo atrapalha o sinal do AM: um computador, uma lâmpada, tudo. Então além de manifestar interesse, eles corriam para nosso site e aplicativo para ouvir bem a nossa programação. Mas aí o ouvinte ainda dependia de uma boa banda de internet pra ouvir pelas plataformas digitais. Com a ida pra FM, a repercussão foi excelente pra nós.
Qual a meta da Rádio Jornal? Liderança no FM sem considerar a média do AM?
Não tínhamos isso em mente. Nosso planejamento era posicionar o canal de FM entre as cinco primeiras nos primeiros anos de operação, já levando em consideração os resultados obtidos pelas emissoras de fora de Pernambuco que já operam dessa forma. Acompanhamos as audiências no Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e outras praças e as rádios não alcançaram a liderança. Aqui em Recife foi surpresa pra todo mundo o que aconteceu com a Rádio Jornal. Respeitamos muito as emissoras musicais, mas hoje trabalhamos pra isso! O legal é que não fazemos campanha pra levar o ouvinte a acompanhar somente pelo canal 90.3Mhz sempre que divulgamos a rádio, citamos as duas faixas. A cada trimeste, ele chega gradualmente.
Quais as principais diferenças do projeto Rádio Jornal em relação à JC News (que ocupou a sintonia 90.3 FM entre a saída da CBN e a estreia da Rádio Jornal em FM)?
A Rádio Jornal já tem a sua característica e a sua fidelização junto ao ouvinte. Se fôssemos operar no FM e tirar a essência da Jornal, fatalmente estaríamos perdidos. O que fizemos foi preservar a força do Rádio AM com o que de melhor tínhamos na programação da JC NEWS. É preciso reconhecer aqui que a JC NEWS teve um papel fundamental na qualificação do jornalismo da Rádio Jornal. De lá trouxemos alguns comunicadores e programas que hoje são sucesso na Rádio Jornal.
Antes da estreia da JC News já existia a intenção de levar a Rádio Jornal para o FM? Ou esse planejamento surgiu quando?
A intenção era operar com as duas em FM. Infelizmente o processo de migração aqui no Brasil impediu a realização desse sonho. A idéia de levar a Jornal pra FM tinha no mínimo 7 anos. Mas o canal já estava ocupado com outra programação e havia uma dificuldade enorme de encontrarmos um canal disponível na cidade para aquisição.
Foram realizadas algumas mudanças ou adaptações na Rádio Jornal para a estreia no FM ou é exatamente o mesmo projeto que antes era exclusivo do AM?
90% é a grade da Rádio Jornal AM, mas trouxemos da JC NEWS três comunicadores e três programas, ou seja, nos horários onde tocávamos música, optamos por dar mais conteúdo.
Existe algo da JC News na atual grade da Rádio Jornal ou os projetos não tem relação?
Sim. Os programas: “Edição do Meio-dia” (Um resumo rápido das notícias da manhã e as primeiras da tarde) veio tal qual era exibido na NEWS, inclusive com o comunicador. Outros dois projetos: “Ponto Musical” (que entrevista artistas locais e nacionais) e “Comportamento” (que debate os assuntos do cotidiano) também vieram no mesmo formato e apresentadoras.
Vocês costumam confrontar os resultados de vocês com a CBN (que já foi um projeto do grupo). Não existe diferença de perfil entre os dois projetos ou dá para dizer que são “concorrentes diretas”?
Não podemos fazer essa comparação. Seria injusto pelo perfil que as duas emissoras tem. Nem podemos comparar a Rádio Jornal com a JC NEWS. Nossa programação é ampla e ainda tocamos algumas músicas. Falamos para todos os públicos de todas as camadas sociais. Mesmo nossa programação sendo de 90% notícia e apenas 10% música. A CBN é uma emissora que tem seu público específico e sua fatia específica na audiência.
Quais são os principais destaques de audiência da atual Rádio Jornal no AM e FM?
Esperávamos perder a liderança no AM depois de 24 anos. Curiosamente isso não aconteceu. Perdemos ouvintes gradativamente de uma faixa para a outra. Mas, continuamos na liderança na média geral do AM. O universo de ouvintes em amplitude modulada também caiu. A maioria das emissoras que operam no AM em Recife são de programação evangélica o que ajudou a manter a liderança mesmo perdendo muitos ouvintes. Detalhe interessante é que no FM conseguimos liderar em horários cruciais que é na hora de manhã (horário nobre do meio rádio), na hora do almoço e no início da noite. Reconquistamos o ouvinte do carro que tinha dificuldade de acompanhar nossa programação. Aliás, abrindo um parêntese rápido: o que mais me dói é ver os carros saindo das fábricas sem o rádio AM ou uma boa antena para recepção. O AM ainda é muito importante. Os números do AM é que nos dão a liderança.
E o que o crescimento em audiência refletiu no faturamento da rádio?
Sim. Mesmo com um 2015 de crise no país, nossos clientes e parceiros acreditaram no projeto que começou em dezembro de 2014. Então tivemos todo o ano de 2015 para mostrar a força do rádio junto aos anunciantes.
Esse avanço da Rádio Jornal mudou o comportamento dos ouvintes no Recife e região, ampliando a concorrência por colocações no ranking FM. O que mais poderá acontecer na audiência de rádio do Recife na visão de vocês?
É uma opinião bem particular. Não podemos cravar, mas baseado nos números, creio que daqui a alguns anos, o ouvinte de rádio vai optar por uma programação diferente. A música hoje está no pen drive, no celular, na internet e a programação que vem do AM na minha opinião é mais completa: com notícia, esporte e também a música que não podemos desprezá-la. Mas creio que programação com conteúdo será o futuro do rádio o que é bom para todos os profissionais que terão espaço no mercado que já é tão fechado.
A migração AM-FM vai afetar as demais emissoras da Rádio Jornal no interior? Como que funciona a rede de vocês? A marca já conta com uma FM em Petrolina, correto?
Correto. Da rede da Rádio Jornal Petrolina já nasceu em FM. As demais são todas AM. Já está no planejamento migrar todas e isso vai acontecer de uma forma bem rápida.
E com a migração a AM que hoje transmite a Rádio Jornal vai permanecer no AM ou vai pro FM? Se for pro FM, há algum projeto planejado para ela ou continuará como Jornal?
Até o desligamento do AM, a ideia é transmitir a mesma programação. Em Recife também vamos receber na migração natural um outro canal de FM, mas ainda é segredo o que irá ser transmitido no canal. Mas uma coisa o ouvinte pode apostar: será um projeto com a cara de Pernambuco!
E quais as expectativas da Rádio Jornal para 2016?
Bom, esperamos continuar crescendo em audiência e estarmos bem mais próximo do ouvinte. Além disso, uma meta pra este ano é investir cada vez mais em plataformas digitais. Hoje, além da web, estamos nos smartphones, nas redes sociais e cada vez mais ampliar essa distribuição da nossa programação. Cada vez mais fortalecer o slogan: “Pernambuco Falando para o Mundo”. Aproveito o espaço também para agradecer aos pernambucanos pela audiência.
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.