Quarta-Feira, 20 de Março de 2019 @ 00:00
Cavalcante nos conta um pouco mais sobre sua trajetória, o atual momento positivo da Jangadeiro FM e como ele observa o rádio.
Acompanhe:
Fabiano, obrigado por conceder uma parte do seu tempo para esse papo com o tudoradio.com.
Eu que agradeço o convite e a oportunidade dessa experiência.
Para começarmos, conte-nos um pouco sobre a sua trajetória profissional.
Minha vida profissional foi, quase sempre de executivo, nos mais diversos mercados.
Com 21 anos eu fui sócio de uma empresa de terceirização com mais de 1.000 (mil) colaboradores, prestando serviços em 5 (cinco) Estados. Fiz parte da Diretoria de uma Cooperativa de Serviços. Trabalhei como executivo de uma Associação de Negócios da Área de Supermercados que, durante minha participação, se tornou a maior do Brasil... enfim...
No rádio foi meio que, por acaso. Um amigo meu do Rio de Janeiro, Beto Brito, colocou na minha cabeça pra eu fazer um programa de Roberto Carlos aqui no Ceará, porque eu sou muito fã do Rei, e tenho um razoável acervo, o que poderia fazer a diferença. Então, bati na porta de uma emissora, e ela se abriu. Durante vários anos, fazer o programa do Roberto Carlos era um hobby, pois as minhas outras atividades continuaram (executivo de empresa e professor universitário), e elas eram a minha fonte de renda. Até que surgiu a oportunidade de vir para a Jangadeiro FM com o meu programa, mas dividindo a apresentação com o comunicador Paulo Costa. Depois de 6 (seis) anos, programa fazia tanto sucesso, que fui convidado a mudar para a FM 93, que à época era a líder de audiência em todos os horários. Eu fui. Passei dois anos por lá, e depois disso fui convidado pelo meu amigo e irmão Valter Mota a voltar para a Jangadeiro FM, mas dessa vez para Coordenar as emissoras do Sistema Jangadeiro, e liderar o projeto de levar a Jangadeiro FM ao primeiro lugar no Ibope. Achei o projeto viável, e que seria um grande desafio, então aceitei o convite.
Está na Jangadeiro na coordenação de conteúdo desde quando?
Há pouco mais de dois anos e meio.
A Jangadeiro chegou a ser um dos destaques do rádio brasileiro ao quebrar uma longa hegemonia da concorrência na corrida pela audiência. Como isso foi possível? Quais os pontos principais dessas trajetória positiva?
Uma das primeiras providências que eu e o Valter tomamos, foi mudar o foco da Jangadeiro FM para o ouvinte. Embora disséssemos isso no ar, nossas atitudes nos contradiziam. Então, foi preciso mudar a forma de ver e pensar no ouvinte em todos os departamentos, mostrando que cada pessoa aqui, tinha sua importância dentro da estratégia de conquistar o cliente/ouvinte, fosse na seleção musical, no atendimento telefônico, nos conteúdos, na plástica, e é claro, na comunicação; tudo precisava ser feito para agradar o ouvinte, desde o porteiro ao superintendente.
Depois essa fase, passamos a utilizar de forma intensiva o nosso Departamento de Inteligência de Mercado, que disponibilizava diariamente um calhamaço de informações sobre nossos ouvintes. Era preciso entender todos aqueles dados, e transformá-los em ferramentas para tomadas de decisão. Desde então, tudo passou a ser decidido baseado em dados. Acabava o "achismo", e reduzia-se o "feeling".
Tivemos investimentos fortes em infraestrutura, inclusive com a compra de um novo transmissor. Nossas promoções foram repaginadas. Foi criada uma nova identidade visual. Nossa plástica foi montada por um escritório de São Paulo muito conceituado e seguindo a essência e o DNA da rádio, e os objetivos que repassamos para eles. O acolhimento a cada ouvinte, a cada visitante, passou a ser um diferencial. Enfim... foi uma junção de forças e ações de toda uma equipe em busca do objetivo principal. Todos deram as mãos, todos aceitaram o desafio, todos deram o seu melhor.
E, uma das coisas que mais nos orgulhamos de dizer, é que conseguimos chegar ao primeiro lugar, praticamente com a mesma equipe que estava aqui há anos e anos. Nós mostramos que o sonho era possível.
E como a Jangadeiro enxerga o rádio de hoje? Atua em multiplataforma? O que o digital representa para a rotina da emissora?
Ao meu ver, o Rádio passa por um momento de inflexão. Costumo fazer uma analogia com um aquário, onde cada emissora representa um peixinho desse aquário, e a água são os ouvintes. Nos últimos anos a água tem diminuído. Alguns peixes já foram engolidos por outros, morreram, ou perderam a força. O desafio vai ser sobreviver nesse aquário, tendo a certeza de que a água não voltará ao padrão de uma década atrás, e tendo que se reinventar para continuar vivo.
Multiplataforma: estamos sim. Além da transmissão via streaming ,temos programas específicos para a internet; como temos emissoras de televisão, já estamos nos preparando para estarmos lá também. Estamos reformulando nosso aplicativo, que em breve vai ficar mais moderno. Nossas promoções que já funcionam via Whatsapp, passarão a ter uma plataforma específica na internet. E vem muito mais por aí, que ainda não posso comentar...
Em relação ao digital, é o nosso alvo atual. Estamos trabalhando e estudando as melhores práticas no Brasil e no mundo, para nos tornarmos referência também nesse campo. E esse processo interno também está acelerado, mas também não posso revelar muito, ainda.
E ações de rua, promoções e eventos? Agregam muito para a rotina da Jangadeiro?
Fazemos tudo isso. As ações de rua vêm sendo aperfeiçoadas para obtermos melhores resultados. As promoções foram reformuladas, como falei acima, e hoje já estão direcionadas para atingir os maiores desejos de nossos ouvintes – e temos dados que nos mostram que isso já mostrou sua eficiência. Em relação aos eventos, fizemos parcerias com os principais escritórios do Estado e passamos a estar presentes nos eventos mais badalados, e naqueles que tenham cumplicidade com os objetivos da Jangadeiro FM.
Fortaleza é um dos dials brasileiros com mais formatos de radios disponíveis para o público. Isso tem atraído a atenção da audiência? O mercado está mais competitivo?
É verdade. Fortaleza tem um número gigantesco de concorrentes, mas eu vejo pelo lado positivo. Pra mim, o copo está meio cheio, ou seja, a concorrência é grande, mas Fortaleza é uma das 3 capitais onde mais se ouve rádio no Brasil.
Não buscamos a unanimidade, buscamos uma massa crítica significativa que nos permita uma fatia de mercado maior do que qualquer outra emissora, e a permanência de um volume significativo de ouvintes, para justificar os permanentes investimentos dos acionistas na Rádio Jangadeiro FM. Matematicamente é isso. Não to dizendo que é fácil, mas é esse o trabalho.
Vocês atuam como rede no interior do estado? Pode nos contar um pouco mais sobre a experiência da Jangadeiro em outras praças?
Sim, temos uma Rede de rádios no interior. São 7 atualmente. Se contarmos com a de Fortaleza, são 8, e juntas cobrimos quase 80% do Estado. Sem falar na Tribuna Band News, que é uma rádio eminentemente de notícias.
Antes desse projeto - idealizado pelo Valter e Coordenado por mim - iniciar, as nossas rádios do interior não tinham uma identidade formal rígida. Por exemplo: ao visitarmos a cidade de Sobral, tínhamos a impressão que a Jangadeiro de lá era diferente da Jangadeiro do Cariri, e completamente diferente da Jangadeiro de Fortaleza. Embora as vinhetas fossem iguais, não havia homogeneidade, as regras não eram claras, e cada Gestor conduzia a comunicação da equipe por caminhos diversos. Como o alvo inicial do projeto era Fortaleza, as mudanças na Rede foram mais homeopáticas, mas já se consegue identificar claramente as linhas principais da Jangadeiro, seja em Iguatu, seja em Quixeramobim, ou qualquer uma das nossas emissoras da Rede... Ainda há muito por fazer, e vamos fazer... Mas sempre, respeitando as características locais, porém com o foco nos nossos objetivos: audiência e faturamento.
A Jangadeiro FM integra um sistema, um grupo de comunicação, correto? Há alguma integração com os outros veículos do grupo?
O Sistema Jangadeiro de Comunicação é formado pela TV Jangadeiro, que retransmite o sinal do SBT; pela NordesTV, que retransmite o sinal da Band; pelas 9 emissoras de rádio (8 Jangadeiro e a Tribuna Band News); o Portal Tribuna do Ceará; a Multiplataforma Vós; dentre outros...
Fico feliz em dizer que nossos acionistas e nossa Diretoria entendeu, há alguns anos, que seria preciso uma integração real entre os veículos. Para isso contratou uma consultoria para nos orientar nesse processo. E hoje, cada Gestor está sendo incentivado a pensar todas as ações como Sistema, e não mais como veículo. Acho que será um outro grande passo que estamos começando a dar agora. É uma mudança de cultura, de hábitos e de procedimentos, mas o sentimento é extremamente positivo.
Para finalizarmos, qual a sua impressão para o rádio em Fortaleza e no Brasil para os próximos anos? O que os profissionais da área precisam ter como atenção?
Acho que o momento é delicadíssimo. A água desse aquário está se esvaindo rapidamente. Nós que pensávamos que tínhamos todas as respostas, nos deparamos com novas perguntas. Os cenários mudaram, os players mudaram, a forma de divulgação de música mudou... E temos diante de nós uma geração que já nasceu ouvindo música em outros meios, e o envolvimento deles com o rádio é cada vez menor. Estamos falando do futuro que está batendo na nossa porta. Todos nós precisaremos entender melhor como conquistar os corações desse público... e rápido!!!
Não se trata de uma guerra contra pendrives, spotifys, youtubes... Já vimos isso na Revolução Industrial, quando as pessoas entravam nas fábricas, quebrando e incendiando as máquinas que estavam causando o desemprego. Isso não vai resolver. Como disse uma vez o Rei Roberto Carlos “eu não sou contra o progresso”. Todos esses “novos concorrentes” têm muito a nos ensinar e quem sabe, se tornarem aliados.
Nossa missão é continuarmos dando relevância ao rádio.
Agradeço a sua atenção com os leitores do tudoradio.com.
Eu que agradeço a oportunidade de falar um pouco para o público do tudoradio.com. Contem comigo.
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.