A conferência de abertura do 2º Simpósio Nacional de Rádio, que aconteceu na manhã desta terça-feira, dia 4, na ESPM-Sul, contou com a participação da jornalista e pesquisadora Sylvia Moretzsohn, professora do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Justiça Administrativa da Universidade Federal Fluminense (UFF). Sylvia Moretzsohn é jornalista formada pela UFF (1981), com mestrado em Comunicação também pela Universidade Federal Fluminense (2000) e doutorado em Serviço Social pela UFRJ (2006). E é colaboradora regular do Observatório da Imprensa, site de crítica de mídia. Sua atividade acadêmica está voltada para o estudo da relação entre jornalismo e informação em "tempo real" e as transformações que essa relação implica nas rotinas profissionais.
Na abertura do Simpósio, a diretora do curso de Jornalismo, Janine Lucht, destacou a importância do evento. “É uma oportunidade valiosa para discutirmos o rádio, a troca de experiências e conhecimento e principalmente para motivarmos a produção de conteúdo de qualidade”, ressaltou. Com o tema “A necessidade do jornalismo no tempo das redes sociais”, Sylvia abordou o jornalismo tradicional e sua expressão na internet, e o encontro foi mediado pela professora Adriana Kurtz. Para a jornalista, as mudanças na comunicação têm ocorrido de forma extrema, intensa e rápida, e falar sobre jornalismo e redes sociais é falar sobre tudo que nos cerca e afeta. “Quanto ao rádio, especificamente, observei em alguns estudos que não era citado quando se falava em interatividade, e o rádio sempre foi interativo por natureza”, destaca.
Segundo a pesquisadora, o campo aberto pela internet para a disseminação de informações e a manifestação pública de pessoas comuns despertou o entusiasmo de teóricos apressados, que anunciavam o fim do jornalismo e a inauguração de uma nova era em que tudo poderia comunicar em igualdade de condições, livremente. Para a estudiosa, o jornalismo continua sendo necessário porque é no rigor da apuração e com critérios para estabelecer o que é notícia ou não que se tem um instrumento para fazer uma filtragem que sirva de referência com credibilidade. “Será por meio destas informações bem apuradas e embasadas que poderemos confiar para tomar decisões”, ressalta.
Por isso, Sylvia afirma que, “nesta época da reprodutibilidade das redes – para tomar emprestada uma famosa expressão de Walter Benjamin –, o jornalismo é mais do que nunca necessário: para filtrar o turbilhão de informações que circula no mundo virtual e separar fatos de boatos ou mentiras. Ocorre que não se pode falar de jornalismo abstratamente e, nas condições concretas em que é praticado, o jornalismo de maior influência – inclusive pelo que repercute nas redes – é o que se produz nas grandes empresas, que normalmente mascaram seus interesses e apresentam o noticiário como puro, simples e isento relato de fatos”.
Para exemplificar seu raciocínio, Sylvia utilizou o recente episódio da revista Veja, no período das eleições, quando as tensões se multiplicaram, e as tentativas de interferir no processo decisório frequentemente ultrapassam os limites da ética. “Foi o que ocorreu com a denúncia publicada pela revista às vésperas do segundo turno, a respeito da corrupção na Petrobras. Discutir especificamente este caso e seus desdobramentos permitirá demonstrar a complexidade do mundo em que o jornalismo atua: a revista foi obrigada a publicar direito de resposta, mas outros boatos passaram a circular pela internet, em uma onda aparentemente incontrolável”.
Para a pesquisadora, são questões como essas que põem em causa a necessidade do jornalismo e sua relação com a defesa da democracia. “É necessário um jornalismo ético, decente, não como solução milagrosa, mas com critério. O jornalista é um mediador, aquele que filtra o conteúdo por meio de critérios e não um mensageiro”. E acrescentou: “Nesse sentido, as redes criam um ambiente novo e muito mais complexo, é preciso entender como o jornalismo se processa porque ele é fundamental para a democracia, mas também pode ser contra ela,” alerta.
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