Captar, em um rádio de ondas curtas, as captações de um espírito. É o que garante ter feito o técnico em eletrônica João Pedroso, mais conhecido como Jota Pedroso. O que ele diz ter captado são manifestações do espírito do padre Landell de Moura, o homem considerado o pai do rádio no Brasil. A técnica usada por Pedroso é conhecida como "fenômeno de voz eletrônica". Conforme alguns acreditam, espíritos usam instrumentos para manifestar a própria voz, que poderia ser gravada junto com os ruídos do rádio.
Segundo Pedroso, o espírito do padre teria chamado seu próprio nome. "Eu disse ‘Landell de Moura está no estúdio’, e a voz vem e me diz: ‘sacramento, João Pedroso, estou aí’". Ele diz ter recebido a mensagem em agosto de 2014. Junto com o primeiro chamado, o padre teria dado uma sugestão que ajudaria a evitar as longas buscas por aviões desaparecidos.
Landell de Moura teria proposto o uso de uma caixa preta virtual, que transmita as informações de qualquer aeronave imediatamente, por telefonia via satélite. Pedroso explica como funcionaria o equipamento. "Essa caixa preta virtual ao mesmo tempo que vai gravando no avião, internamente, ela é gravada também externamente, via satélite".
"Como ele mexia com eletricidade, com o magnetismo, ele estava a um passo de tudo isso. Isso está ligado com eletricidade, magnetismo, radioatividade", explica Ivan Dorneles Rodrigues, mantenedor de um museu particular uma das maiores coleções de documentos sobre Landell de Moura. Uma das histórias envolvendo o padre conta que ele tentou monitorar um exorcismo usando os equipamentos que inventou quando estava em Mogi das Cruzes, em São Paulo.
A resposta para entender se padre Landell de Moura acreditava neste tipo de comunicação pode estar guardada no Instituto Histórico e Geográfico, em Porto Alegre. Lá estão guardados dezenas de manuscritos deixados por ele.
Vanessa Gomes de Campos é arquivista do instituto e conta sobre a experiência que teve com os documentos. "Já vi escritos dele em papel que antigamente se embrulhava pão; em papeis rabiscados a lápis, a caneta ou o lápis azul, colorido, vermelho. O que ele tinha a mão ele escrevia", conta.
Decifrar as mensagens encontradas nesses documentos, entretanto, não é simples. O padre escrevia misturando latim, português e inglês. Vanessa usa a paleografia, técnica de leitura de manuscritos antigos, para tentar compreender. E já encontrou escritos em que o padre atribui o espiritismo à intervenção do mal. Por essas dificuldades, até hoje, parte do pensamento padre permanece inexplorada.
Padre Roberto Landell de Moura viveu entre os séculos XIX e XX e atuou em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Considerado o pioneiro do rádio no Brasil, entrou para a história. Com os equipamentos que inventou, Landell de Moura conseguiu transmitir, pela primeira vez, a voz à distância.
Em seus diários, Landell escrevia sobre a aura humana, psicologia e sonhos premonitórios. Transferido para Porto Alegre e como pároco da Igreja do Rosário, ele logo começou as experiências. Os jornais da época publicaram que, nele, Landell de Moura iria provar os fenômenos do hipnotismo e do espiritismo agindo sobre o sistema nervoso central.
Por volta de 1916 o padre abriu ao lado da igreja o que chamou de gabinete de antropologia experimental. Landell atendia pessoas com sintomas de doenças psicológicas, que na época se acreditava serem manifestações espíritas.
Há relatos de que ele fez até demonstrações de levitação dentro da igreja. O padre chegou a estabelecer uma recompensa para quem fosse capaz de provar que os espíritos eram capazes de produzir fenômenos. A ideia não agradou o vigário-geral da época. Novamente Landell de Moura foi chamado para dar explicações e teve de parar seus experimentos.
Em 2012, após decreto sancionado pela presidente Dilma Rousseff, Landell de Moura transformou-se no mais novo Herói da Pátria, com seu nome sendo incluído no Livro de Aço depositado no Panteão Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Landell de Moura fez as primeiras transmissões públicas da voz pelo ar, sem fio, no final do século 19, entre a Avenida Paulista e o alto do bairro de Santana, na capital de São Paulo, em evento documentado pela imprensa e presenciado por autoridades brasileiras e estrangeiras. Contava com pouco mais de 30 anos de idade quando realizou as experiências na Avenida Paulista.
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Rádio. Landell de Moura, transmissão, Porto Alegre