A rádio comunitária Paraty FM 87.5 de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, conta com um radialista que integra a equipe esportiva que é portador de cegueira total. Felipe Augusto Diogo, de 30 anos, é deficiente visual de nascença e precisa de atenção redobrada e ouvido atento à narração das partidas para fazer seus comentários. Para ele, intensidade e velocidade da voz do narrador que o acompanha na cabine de transmissão são indicativos fiéis do que se passa em campo.
Segundo o radialista, a narração do jogo cria o ambiente para os comentários. "O rádio é descritivo. Ele cria um ambiente para você enxergar o jogo", diz. As palavras são usadas por ele para compreender o que se passa em campo. Não tem chute. Felipe analisa o que acontece no gramado a poucos metros dele. "O gol é tudo. Ele premia o mais eficiente. Porque nem sempre quem joga melhor, marca", comenta Felipe.
Na equipe fixa da rádio desde 24 de junho de 2013, os parceiros de jornada são essenciais para o desenrolar dos comentários de Felipe. "Eles já dão a deixa, falam se a jogada aconteceu pela direita ou pela esquerda… Dão as indicações", revelou.
Acima de tudo, o trabalho é facilitado pelas características de Felipe, atento ouvinte e dotado de sensível capacidade para assimilar dados, guardar detalhes de jogadas, jogadores e os números da partida. Todos esses fatores, aliados ao apoio da torcida - o termômetro real das partidas -, são bons macetes para entender com precisão o que acontece ou pode acontecer durante a partida. No estádio, assegura o comentarista, tudo ganha mais vida. Nas vezes em que esteve na Vila Belmiro para acompanhar o Santos, seu time de coração, não era nada difícil saber quando a bola chegava aos pés de Neymar. "O aplauso é sempre maior, a ansiedade da torcida é maior".
Antes da Paraty, Felipe foi colaborador da rádio Nove de Julho AM 1600 de São Paulo por oito anos. Nesse período, quem auxiliava o estudante do Instituto de Cegos Padre Chico era o jornalista Edson Natale. Mais ou menos nessa ocasião Felipe visitou as instalações das emissoras Globo AM 1100, Trianon AM 740 e Record AM 1000. Em 2005, fez questão de ir ao encontro de Fiori Gigliotti quando o narrador recebeu o título de cidadão da cidade, na Câmera dos Vereadores de Diadema, também no ABC. O comentarista não assume diretamente, mas a paixão pelo rádio parece ser uma herança do pai, o metalúrgico Josué Diogo, 61. "Quando ele me acordava para ir à escola, acabava ouvindo O Pulo do Gato, do José Paulo de Andrade", que vai ao ar pela Rádio Bandeirantes AM 840 FM 90.9.
Além de Gigliotti, completam o "dream team" radiofônico de Felipe, os narradores Éder Luiz, Osvaldo Maciel, Ulisses Costa, José Silvério e Oscar Ulisses. Esse último, Felipe fez questão de entrevistar para o "Espaço da Inclusão", programa que ele toca sozinho, no maior estilo "bate-escanteio-e-corre-para-cabecear". Focado nas dificuldades, mas também nas soluções práticas para os deficientes, o programa vai ao ar aos sábados, das 13h às 14h. Oscar Ulisses foi um dos que já conversaram com Felipe ao vivo.
Com informações da Globo.com
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