Quarta-Feira, 09 de Abril de 2025 @ 06:50
Las Vegas (EUA) - Flores falou sobre a importância da presença do rádio em celulares e veículos, e defendeu ações para fortalecer o jornalismo, combater a desinformação e reduzir assimetrias regulatórias no setor
Live NAB Show 2025 - Rádio brasileiro no streaming e digital - entrevista com Cristiano Flores - veja acima
Durante cobertura especial do NAB Show 2025 em Las Vegas, nesta terça-feira (8), o tudoradio.com realizou uma conversa exclusiva realizada por Daniel Starck e Cristiano Stuani com Cristiano Flores, diretor executivo da ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), que compartilhou importantes reflexões sobre os rumos do rádio brasileiro diante da evolução digital e os desafios globais enfrentados pelo setor. A entrevista completa está disponível no YouTube do tudoradio.com e também no vídeo acima. E o tudoradio.com cobre o NAB Show 2025 direto dos EUA, com os apoios da AMIRT, BRLogic e da ASSERPE.
Streaming é realidade, mas ainda subutilizado no Brasil
Cristiano destacou que, embora o streaming seja uma realidade consolidada nos Estados Unidos, com conteúdo exclusivo e modelos de monetização bem definidos, o Brasil ainda está em estágios iniciais. No país, a maioria das emissoras utiliza o streaming apenas como espelho do sinal de broadcasting, sem explorar o potencial de segmentação de audiência, anúncios personalizados e programações dedicadas ao digital.
"Estamos quebrando uma primeira barreira de resistência ao digital. Mas precisamos mostrar ao mercado publicitário que o streaming é um espaço valioso, com audiência fiel", afirmou. Ele defendeu também que é papel de instituições como a ABERT fomentar conhecimento e soluções nesse sentido.
Diferença entre rádio digital e streaming ainda é mal compreendida / Presença garantida: rádio nos celulares e veículos
Cristiano também ressaltou os avanços obtidos pela radiodifusão brasileira para assegurar a presença do rádio em diferentes plataformas. Ele destacou as conquistas envolvendo o chip FM nos celulares e a legislação que obriga a presença do rádio nos carros fabricados no país, inclusive com a faixa estendida do FM.
"No Brasil, trabalhamos com a indústria de telefonia e automobilística para garantir que o rádio estivesse presente em todos os dispositivos possíveis. Isso é um diferencial importante que nos coloca à frente em alguns aspectos quando comparados a outros países", explicou.
Flores apontou ainda uma lacuna crítica: muitos profissionais do setor confundem rádio digital terrestre com streaming. O rádio digital trata-se da transmissão por espectro, enquanto o streaming é via internet. A falta de compreensão limita o uso estratégico das duas frentes, sendo essencial investir em capacitação e disseminação de informações.
Flexibilização da Voz do Brasil e impactos na audiência
A discussão também passou pela Voz do Brasil. Segundo Cristiano, a flexibilização do horário do programa foi positiva, mas não eliminou o problema da fuga de audiência. Estudos indicam que os ouvintes abandonam a programação minutos antes da exibição do programa e não retornam, comprometendo toda a grade noturna.
Uma das soluções propostas é o uso do streaming para oferecer uma programação alternativa durante a Voz do Brasil. No entanto, essa possibilidade ainda é pouco utilizada no Brasil. "Vale a pena investir nisso, mas são poucas as rádios que realmente aproveitam esse recurso", pontuou.
Métricas e publicidade precisam refletir a realidade do setor
Cristiano também citou as atuais formas de medição de audiência e faturamento, que não contemplam o interior do país. Segundo ele, cerca de 95% das receitas das rádios do interior vêm da venda direta ao anunciante, e isso não é refletido em pesquisas baseadas em dados de agências.
"Esse tipo de métrica subnotifica o papel do rádio, prejudicando seu reconhecimento como meio eficaz", avaliou. Ele defendeu a valorização dos dados regionais e uma visão nacional mais precisa sobre o consumo de rádio.
ABERT mira quebra de assimetrias regulatórias e fortalecimento do jornalismo
Outro ponto levantado por Cristiano foi a necessidade de combater as assimetrias regulatórias entre o rádio e outras plataformas digitais. Segundo ele, essa é uma das principais bandeiras da ABERT atualmente. "Conversamos com o setor norte-americano e vimos que enfrentam o mesmo problema, com uma diferença: as big techs são empresas nacionais para eles, o que cria uma resistência diferente. No Brasil, não temos esse freio nacionalista, por isso podemos estar mais avançados em algumas pautas".
Ele destacou ainda o foco da associação no combate à desinformação e na valorização do jornalismo profissional como pilares para a defesa da democracia, papel histórico da radiodifusão brasileira.
A força emocional do rádio
Encerrando a conversa, Flores compartilhou a história do navegador Amir Klink, que encontrou consolo ao ouvir uma rádio brasileira no meio do mar. "Isso mostra a força do rádio como companhia, como amigo. Essa é a fortaleza do nosso meio".
A entrevista reforça que, apesar dos desafios, o rádio continua sendo um meio resiliente e essencial, com enorme potencial de crescimento na era digital. Cabe agora às lideranças do setor e às próprias emissoras aproveitarem as oportunidades que já estão ao alcance.
Daniel Starck, Cristiano Flores e Cristiano Stuani durante a live de entrevista, direto do NAB Show 2025 / crédito: ABERT
Especial NAB Show 2025
A cobertura especial do tudoradio.com no NAB Show 2025, que será realizado de 5 a 9 de abril no Las Vegas Convention Center, conta com a parceria da AMIRT (Associação Mineira de Rádio e Televisão), da BRLogic, empresa de tecnologia especializada em soluções digitais para emissoras de rádio, e também da ASSERPE (Associação das Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco).
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