Sexta-Feira, 05 de Setembro de 2025 @ 11:34
São Paulo - Estudos revelam riscos à atuação humana no rádio com avanço da IA, mas alertam para perdas na eficácia publicitária com uso indiscriminado da tecnologia
Um levantamento divulgado nesta semana identificou que funções estratégicas no rádio estão entre as mais vulneráveis à substituição por inteligência artificial. No entanto, outro estudo alerta que o uso indiscriminado da tecnologia, especialmente na criação de comerciais, pode comprometer os resultados das campanhas no meio. Os dados reforçam a importância de um equilíbrio entre automação e expertise humana no setor, ao mesmo tempo em que expõem os desafios enfrentados por profissionais das áreas de conteúdo, vendas e produção diante da crescente adoção de soluções automatizadas nas emissoras.
De acordo com um estudo publicado pela plataforma norte-americana Linkee, três categorias profissionais ligadas diretamente ao rádio foram listadas entre as mais expostas à automação por IA. O levantamento, divulgado nesta quinta-feira (4), avaliou riscos de substituição, projeção de crescimento de emprego e escore geral de vulnerabilidade.
A função mais ameaçada é a de redator publicitário, com 85% de risco de automação e crescimento negativo de –3,4%, pontuando 90 numa escala que mede o grau de vulnerabilidade. Em seguida, aparecem os agentes de vendas de publicidade (57% de risco e pontuação 74) e os gerentes de promoção (52% e pontuação 66), cargos fundamentais nas operações comerciais e de marketing das emissoras de rádio. O estudo ressalta o avanço das plataformas automatizadas de compra e venda de mídia, que têm reduzido o espaço para profissionais que atuam no contato direto com agências e clientes.
Publicidade criada com IA perde efetividade no rádio, segundo estudo
Em contraponto à possibilidade de automação total de funções criativas e comerciais, um estudo recente da yaman.AI aponta que o uso indiscriminado da inteligência artificial na criação de comerciais de rádio compromete a eficácia dessas peças publicitárias. A pesquisa foi realizada entre fevereiro e julho deste ano, em 108 mercados locais dos Estados Unidos, incluindo as dez maiores metrópoles do país.
O levantamento revelou que apenas 39% dos comerciais criados com IA obtiveram nota igual ou superior a 8 (em uma escala de 0 a 10), patamar considerado ideal para anúncios que geram impacto real. Isso significa que mais de 60% dos conteúdos não atenderam ao padrão mínimo de qualidade, falhando em aspectos como clareza de mensagem, apelo emocional e chamada para ação (call to action).
Segmentos como jurídico (média 4,0), automotivo e varejo (média 5,0) apresentaram os piores desempenhos, enquanto campanhas do setor de saúde registraram os melhores índices (média 7,0), ainda assim abaixo do ideal. A yaman.AI também alertou que, em muitos casos, rádios locais têm eliminado a atuação de redatores e produtores humanos, delegando completamente a criação dos comerciais à IA. A prática visa reduzir custos, mas tem impactado negativamente a performance das campanhas.
Outro relatório, o "AI in Content Creation 2025", da Wondercraft, reforça essa tendência: 21% dos profissionais de marketing já utilizam IA para locução e produção de conteúdos para rádio, especialmente para campanhas regionais ou testes rápidos. Apesar do crescimento, os dados sugerem que a qualidade ainda depende de curadoria humana.
Equilíbrio entre automação e criatividade humana
A análise conjunta dos estudos indica que o rádio enfrenta um dilema estratégico: enquanto cresce o uso da IA para tarefas criativas e comerciais, sua aplicação sem critérios pode comprometer o desempenho da mídia junto aos anunciantes. Especialistas sugerem que a inteligência artificial seja usada como aliada, e não como substituta dos profissionais humanos. O ideal, segundo os levantamentos, é a adoção de modelos híbridos, com supervisão editorial e criativa em todas as etapas da produção publicitária.
A automação de processos rotineiros pode, sim, trazer ganhos de eficiência para o setor. No entanto, a personalização, a empatia e o conhecimento do público-alvo — aspectos essenciais para a comunicação eficaz no rádio — ainda dependem, em grande parte, da atuação humana.
Risco à frente, mas também oportunidade
Apesar dos riscos indicados para certas funções do rádio, o contexto também abre espaço para uma redefinição de papéis e valorização de competências humanas complementares à tecnologia. Criatividade, storytelling, sensibilidade cultural e gestão de relacionamento com o mercado são atributos que seguem indispensáveis, mesmo em cenários de alta automação.
Os estudos reforçam que a transformação digital no rádio deve ser estratégica e cuidadosa, buscando preservar a efetividade do meio sem abrir mão da inovação.
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E por qual razão olhar para lá fora?
O tudoradio.com costuma observar esses pontos de curiosidade dos números do rádio internacional para mapear possíveis mudanças de hábitos e a manutenção do consumo de rádio em diferentes países. Assim como ocorreu no ano anterior, periodicamente a redação do portal irá monitorar o desempenho do rádio nos principais mercados do mundo e, é claro, fazendo sempre uma comparação com a situação brasileira. E, como de costume, repercutindo também qualquer número confiável sobre o consumo de rádio no Brasil.
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Com informações do portal Radio INK