Clipping: Exigência de ouvinte movimenta maior mercado de rádio do Brasil

A cidade de São Paulo concentra os principais grupos de rádio do país. A combinação entre trânsito e agitação transforma o "dial" em uma importante forma de aliar entretenimento e informação. Entretanto, as mudanças têm sido constantes no mercado radiofônico. Entre fusões e lançamentos o objetivo é único: se aproximar de uma audiência cada vez mais arredia.

Para o especialista em rádio e diretor do portal Tudo Rádio, Daniel Starck, as estações musicais vivem uma crise de identidade. "É importante que as rádios respeitem seu DNA, pois o exemplo do vizinho que deu certo, nem sempre é uma verdade absoluta". Em São Paulo, as musicais lideram, levantamento do Instituto Brasileiro de Opinião Pública sobre o público de rádio aponta que as dez emissoras mais ouvidas na cidade são musicais voltadas a um público jovem. Entre as quatro primeiras estão a Tupi, a Nativa, a Transcontinental e a Mix.

Considerando o potencial de audiência e a necessidade de um ouvinte cada vez mais dinâmico, a saída para as emissoras está na reformulação da linguagem, ou até mesmo na criação de novos produtos. Exemplo recente foi a parceria entre Nestlé e a 89 FM, que originou a rádio Fast89, no ar desde o último domingo (27).

Em novembro de 2010, também foi lançada a Disney FM, 91.3, com a proposta de oferecer conteúdo para um público adolescente e jovem. Para sua chegada a emissora contratou nomes conhecidos do rádio como o jornalista Marcos Vicca, atual diretor artístico que já trabalhou na MIX FM e Roberto Hais, ex-Jovem Pan. A iniciativa da Disney no Brasil seguiu o exemplo da emissora homônima na Argentina. Carlos Massaro, do portal Tudo Rádio, destaca a importância de aliar marca e conteúdo. "Essa associação deixa a marca registrada para sempre, como foi o caso da Esso, que associou seu nome a um jornal de rádio e até hoje é lembrado e respeitado", diz ele.

O radialista e fundador da Radioficina, Cyro César, atribui o aumento de conteúdos diferenciados à realidade digital. "Com a evolução dos veículos de comunicação, por meio da digitalização e da internet, a informação ganhou o aspecto de imediatismo. Principalmente pela velocidade que o ouvinte tem exigido, reflexo do contexto em que vive", comenta.

Parcerias "all news"

Além das musicais, as rádios de notícias também se movimentaram recentemente. Na sexta-feira (25), o Grupo Estado e a ESPN anunciaram o que já era esperado desde o final do ano passado: a criação da Rádio Estadão ESPN, nas freqüências FM 92,9 e AM 700. Segundo as empresas o objetivo da fusão é prezar pela diversificação de conteúdo multimídia. "O resultado é fruto da parceria que mantida desde 2007 nas transmissões de jornadas esportivas".

A nova rádio mantém o formato "all news" com uma programação reforçada de esportes. "O Grupo Estado e a ESPN acreditam que, com essa iniciativa, surge uma nova alternativa de conjugar jornalismo e esportes, tanto no rádio quanto na internet". Entre as mudanças está a criação de um novo estúdio de rádio sendo montado dentro das redações de O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Portal Estadão.

Outra parceria que envolve o Grupo Estado é com a Fundação Brasil 2000, que cria a Rádio Eldorado Brasil 3000, 107,3 FM, com foco em educação e cultura. Luiz Artur Ferrareto, acadêmico e pesquisador, vê nessas mudanças a prova de que os limites estão acabando. "Vivemos uma época em que os limites estão cada vez mais difíceis de serem identificados. Já não é possível diferenciar uma coisa e outra. Ninguém vai ligar o rádio para ouvir só música ou notícia. A audiência busca uma programação completa", aponta Luiz.

Por Luiz Gustavo Pacete - Redação Revista IMPRENSA