O aspecto educativo tem que estar presente na rádio pública e, por extensão, em qualquer tipo de rádio. E isso deve ocorrer não só na educação formal, mas principalmente na formação do cidadão. A tese foi defendida na semana passada (22) por Luiz Ferrareto, coordenador do Núcleo de Pesquisa de Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (Intercom), no 1º Fórum Nacional de Rádios Públicas.
“Não existe rádio, não existe comunicação bem feita, em um país pobre, sem a questão da formação, que é fundamental”, assegurou. E acrescentou que isso não significa, entretanto, que a emissora procure transformar o ouvinte no que ela quer que ele seja.
Essa formação, disse, "vai na direção da verdadeira formação política, da consciência política, do fato de o sujeito se posicionar de modo crítico em relação à sociedade e se entender como pessoa, como indivíduo participativo da sociedade". E envolveria também os aspectos educativo e cultural. Segundo Ferrareto, as rádios públicas deve falar a mesma linguagem da sociedade, a partir do conteúdo por elas administrado.
“Elas têm um conteúdo válido e nós também podemos aprender com essas pessoas e tornar essa relação mais igualitária. Ir ao encontro dessas pessoas e formar, para que gradativamente elas cresçam”, indicou.
Na avaliação do especialista, a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) que o governo está criando pode ser um passo para se chegar a uma rádio pública. “Mas o rádio público não pode ser confundido com rádio estatal”, advertiu.
“Nós temos grandes experiências no rádio brasileiro que se aproximam do rádio público. Mas eles não são rádio público ainda”, lembrou Ferrareto, para quem a experiência que mais se aproximaria do rádio público são as rádios comunitárias, mais ainda que as rádios educativas.
E citou um exemplo de rádio comunitária que, segundo ele, faz rádio pública: “É a Rádio Favela, de Belo Horizonte, até porque ela foi gerada dentro da comunidade e pelo contato próximo com as pessoas. Pode até não estar formalizada, não ter um conselho que faça a rádio ser discutida com a comunidade. Mas no momento em que ela está no ar e tem a participação de comunicadores da comunidade, ela se torna pública.”
Ferrareto destacou, também, que cerca de 70% das rádios comunitárias estão nas mãos de políticos ou igrejas evangélicas. Mas ressalvou não ser contra a presença da religiosidade nas rádios: "Sou contra o domínio de uma religião sobre o veículo, independentemente de qual religião seja. Rádio nunca pode ter apenas uma voz. Rádio, necessariamente, tem que ser feito com mais de uma voz – ou não existe diálogo e não se tem o outro lado."
O rádio público, segundo o especialista, não pode ter controle estatal, "tem que ter controle da sociedade". Na avaliação dele, a criação da EBC pelo governo poderá abrir a discussão sobre rádio pública. Se forem dados novos passos para as pessoas discutirem o tema daqui a dez anos, acrescentou, já fazendo rádio e televisão públicas, o esforço não terá sido em vão.
“Agora, se ficar nisso aí, nós vamos ter a mesma coisa que a gente sempre teve. Só mudou uma coisa: hoje nós vivemos numa democracia e antes era uma ditadura militar”, disse.
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