Segunda-Feira, 05 de Maio de 2025 @ 06:42
São Paulo - Relatório da indústria fonográfica na Alemanha reforça liderança do rádio como principal meio para ouvir música em 2024
Mesmo diante do crescimento do streaming e da multiplicação de canais digitais, o rádio segue na liderança entre os meios utilizados para ouvir música na Alemanha. É o que revela a nova edição do anuário “Musikindustrie in Zahlen”, publicação do BVMI (Bundesverband Musikindustrie), entidade que representa a indústria fonográfica alemã. Em 2024, os alemães destinaram 28,9% do seu tempo semanal de consumo musical ao rádio, em comparação aos 25,5% registrados no ano anterior — um crescimento significativo que consolida a força do meio em múltiplas plataformas: terrestre, digital e online.
O relatório destaca que o rádio, mesmo em um cenário amplamente digitalizado, continua sendo o meio mais utilizado para ouvir música na Alemanha. A constatação é ainda mais relevante quando se observa que a segunda forma de consumo mais comum — o streaming de áudio premium — ficou com 24,9% do tempo semanal, abaixo do rádio, apesar de também ter crescido em relação a 2023 (23,4%).
O relatório enfatiza: “Independentemente da forma de interpretação, quando os alemães ouviram música em 2024, eles fizeram isso majoritariamente via rádio”. Essa prevalência do rádio é um indicativo claro de sua relevância persistente, mesmo diante das mudanças nas plataformas de mídia e hábitos da audiência.
O perfil multicanal fortalece o rádio na era digital
Segundo o BVMI, um dos fatores que sustentam a posição do rádio é sua capacidade de adaptação aos formatos digitais. O acesso via dispositivos conectados, aplicativos, smart speakers e transmissão online complementa a recepção tradicional em FM e DAB+. Esse comportamento multicanal fortalece o papel do meio como curador musical e elo entre artistas, repertórios e o público.
E a Alemanha conta com uma estrutura híbrida entre emissoras públicas e privadas, o que contribui para a ampla cobertura e variedade de conteúdos oferecidos pelo rádio. A publicação destaca que as estações públicas continuam relevantes no fornecimento de programação musical diversificada e regionalizada, enquanto o setor privado inova com formatos comerciais e segmentados — ambos reforçando a presença do meio no cotidiano do público.
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O rádio no contexto do relatório BVMI
Além da escuta, o BVMI reforça o papel do rádio como canal de promoção musical e ferramenta essencial para o desenvolvimento da indústria fonográfica. Desde 1977, a entidade coordena a coleta e análise dos dados para as Offizielle Deutsche Charts, em parceria com institutos especializados. E, desde 1975, concede certificações de Ouro, Platina e Diamante para artistas que atingem metas de vendas — muitas vezes impulsionadas pela exposição no rádio.
O anuário ainda alerta que a publicação costuma ser “folheada rapidamente e arquivada”, mas que os profissionais de rádio — especialmente os responsáveis pelo conteúdo musical — deveriam encarar o material como leitura obrigatória. “Mesmo sendo produzido sob o ponto de vista da indústria fonográfica, o anuário traz dados que afetam diretamente o rádio como meio de massa”, afirma o documento.
Rádio cresce e lidera entre os públicos mais velhos
A publicação aponta que o rádio concentra 47% da escuta musical semanal entre pessoas com mais de 60 anos. Em contrapartida, na faixa de 16 a 19 anos, esse percentual é de apenas 2%. Já o streaming premium cresceu de 23,4% (2023) para 24,9% neste ano, recuperando parte da perda em relação a 2021, quando atingiu 27%.
Vale lembrar que, entre as maiores economias do planeta, a Alemanha é um dos países cuja idade mediana da população está mais avançada, hoje indicada como 47,8 anos segundo dados do World Population Review.
Além dos dados de consumo, o relatório contempla informações sobre perfis de ouvintes, preferências por gênero musical e a evolução do mercado global.
Pop internacional segue como gênero mais ouvido
O pop internacional foi o estilo mais ouvido por alemães com menos de 70 anos. Entre os ouvintes de 50 a 59 anos, 76% apontaram esse gênero como favorito. Na faixa de 16 a 19 anos, o índice foi de 64%. Já o pop alemão teve seu maior índice de aceitação também entre pessoas de 50 a 59 anos, com 62%.
Entre as demais preferências, destaque para os gêneros das décadas de 80 e 90, que agradam principalmente ouvintes entre 40 e 59 anos. Já o rap internacional foi mais expressivo entre os menores de 30 anos, com até 36% de adesão. O mesmo ocorre com a Electronic Dance Music, que teve maior aceitação nas faixas abaixo dos 50 anos.
Gêneros como Schlager, música clássica e oldies têm maior adesão entre os mais velhos. Entre os maiores de 70 anos, 44% preferem Schlager e 33% apontaram a música clássica como favorita. O rock internacional, por sua vez, teve boa presença em todas as faixas etárias, especialmente entre os 40 e 69 anos.
A relevância do rádio na indústria musical
Conforme já destacado anteriormente pelo tudoradio.com, o impacto do rádio vai além da simples reprodução das músicas. Ele impulsiona streams, downloads, vendas físicas e, principalmente, a venda de ingressos para shows — uma fonte de renda essencial para artistas. Em 2023, a receita com apresentações ao vivo no Reino Unido foi de £6,1 bilhões, enquanto o mercado de música gravada gerou £1,4 bilhão, segundo dados da BPI e do Live Music.
Embora ainda existam debates sobre como comparar diretamente uma execução no rádio com um stream em uma plataforma digital, um fato é incontestável de acordo com o levantamento: quando uma música atinge o topo do ranking de airplay da Radiomonitor, ela se torna o maior sucesso do momento, sendo a mais ouvida em todos os meios e formatos disponíveis.
Em agosto passado, o tudoradio.com publicou uma análise da Billboard destacando que o rádio desempenha um papel crucial na longevidade das músicas nas paradas de sucesso. Enquanto faixas que estreiam diretamente no top 10 permanecem, em média, seis semanas no ranking, aquelas que ascendem gradualmente ao top 10 tendem a durar mais de 11 semanas. Essa maior exposição impulsiona vendas de shows, engajamento dos fãs e execuções em plataformas de streaming.
E outro estudo ajuda a explicar essa situação, mostrando que o consumo de rádio é mais elevado: a Edison Research revelou que o rádio AM/FM continua sendo a principal plataforma para consumo de música nos Estados Unidos, superando os serviços de streaming. De acordo com os dados, as transmissões de rádio AM/FM representam 32% do tempo diário de audição musical entre ouvintes com 13 anos ou mais, enquanto as plataformas de streaming, como Spotify e Apple Music, correspondem a 28%. O YouTube, utilizado para música e videoclipes, contribui com 18% desse tempo. O estudo também apontou que a música representa 74% do tempo médio diário de consumo de áudio no país.
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Com informações do portal Radioszene e dados da BVMI (Bundesverband Musikindustrie). Colaboração de David Duck
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.