Terça-Feira, 24 de Junho de 2025 @ 06:44
Campinas - Estudos indicam que o rádio lidera o consumo de música e impulsiona vendas de shows, streams e engajamento de fãs; já modelo do Spotify é apontado como prejudicial a artistas e ouvintes
A Educadora FM 91.7 de Campinas, emissora de formato jovem/pop, iniciou uma campanha de posicionamento em suas redes sociais na qual critica abertamente o modelo de negócios adotado pelas plataformas de streaming, com destaque para o Spotify. A emissora afirma que o sistema atual prejudica artistas e a produção musical autêntica, apontando questões como a baixa remuneração, a interferência algorítmica na curadoria de conteúdo e o uso crescente de inteligência artificial na criação de músicas. O posicionamento acompanha uma série de estudos que indicam o impacto positivo do rádio na indústria musical, especialmente pela sua capacidade de manter canções por mais tempo nas paradas de sucesso.
Entre as mensagens veiculadas na campanha, a Educadora FM questiona a influência dos algoritmos na forma como o público consome música e reforça que os principais prejudicados são os próprios artistas. “Você acha que tá economizando no streaming? A verdade é que quem paga essa conta são os próprios artistas”, afirma uma das postagens da emissora.
A rádio ainda apresenta dados que mostram a desvalorização do trabalho artístico nas plataformas digitais, citando que os músicos recebem apenas US$ 0,004 por reprodução no Spotify. Além disso, aponta que muitas músicas são moldadas para agradar algoritmos, perdendo criatividade e autenticidade. Outro destaque é a preocupação com a presença de faixas geradas por inteligência artificial, o que a emissora vê como um risco à integridade artística.
A campanha também faz referência a protestos de artistas internacionais contra o atual modelo de distribuição digital. Nomes como Björk e Taylor Swift são citados como exemplos de resistência ao sistema adotado pelas plataformas.
Como contraponto ao cenário descrito, a Educadora FM defende o rádio como um espaço onde a curadoria musical ainda é feita por profissionais apaixonados por música. “No rádio, quem escolhe não é o algoritmo. É quem ama música de verdade”, enfatiza a emissora.
A ação reforça o posicionamento da Educadora FM como uma rádio que valoriza a conexão humana, a memória afetiva e a comunidade. “A trilha sonora da sua vida não tá nas mãos de uma máquina. Tá nas mãos de quem vive, sente e compartilha cultura, história, humor e conexão”, resume a campanha.
Campanha da Educadora FM sobre os streamings de música
Rádio, o streaming e a indústria musical
A disputa entre o rádio e os serviços de streaming ganha destaque na concorrência pela atenção dos artistas e também pelas verbas de publicidade, especialmente aquelas voltadas ao ambiente de áudio digital. Nesse ponto, o rádio apresenta vantagem, já que seu consumo é significativamente maior entre todas as plataformas que contam com inserções comerciais, um aspecto que precisa ser cada vez mais considerado pelos profissionais de marketing. Já em relação à visibilidade junto aos artistas, a percepção de uma suposta facilidade de sucesso nas plataformas digitais tem alimentado questionamentos sobre esse modelo. Já na audiência final, o consumo dessas formas de áudio costumam se mostrar complementares.
O tudoradio.com noticiou recentemente que o impacto do rádio vai além da simples reprodução das músicas. Ele impulsiona streams, downloads, vendas físicas e, principalmente, a venda de ingressos para shows — uma fonte de renda essencial para artistas. Em 2023, a receita com apresentações ao vivo no Reino Unido foi de £6,1 bilhões, enquanto o mercado de música gravada gerou £1,4 bilhão, segundo dados da BPI e do Live Music.
Embora ainda existam debates sobre como comparar diretamente uma execução no rádio com um stream em uma plataforma digital, um fato é incontestável de acordo com o levantamento: quando uma música atinge o topo do ranking de airplay da Radiomonitor, ela se torna o maior sucesso do momento, sendo a mais ouvida em todos os meios e formatos disponíveis.
Em agosto passado, o tudoradio.com publicou uma análise da Billboard destacando que o rádio desempenha um papel crucial na longevidade das músicas nas paradas de sucesso. Enquanto faixas que estreiam diretamente no top 10 permanecem, em média, seis semanas no ranking, aquelas que ascendem gradualmente ao top 10 tendem a durar mais de 11 semanas. Essa maior exposição impulsiona vendas de shows, engajamento dos fãs e execuções em plataformas de streaming.
E outro estudo ajuda a explicar essa situação, mostrando que o consumo de rádio é mais elevado: a Edison Research revelou que o rádio AM/FM continua sendo a principal plataforma para consumo de música nos Estados Unidos, superando os serviços de streaming. De acordo com os dados, as transmissões de rádio AM/FM representam 32% do tempo diário de audição musical entre ouvintes com 13 anos ou mais, enquanto as plataformas de streaming, como Spotify e Apple Music, correspondem a 28%. O YouTube, utilizado para música e videoclipes, contribui com 18% desse tempo. O estudo também apontou que a música representa 74% do tempo médio diário de consumo de áudio no país.
+ Análise revela que rádio gera mais exposição para músicas do que plataformas digitais
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