Quinta-Feira, 30 de Abril de 2015 @
A tentativa de antecipar o futuro do rádio FM após a polêmica decisão da Noruega é perigosa para o meio.
A decisão da Noruega de encerrar o serviço de transmissão via FM como conhecemos (88 FM a 108 FM) não ficou restrita ao país europeu. Então o FM já tem data para ser encerrado por aqui? Não necessariamente, mas a enxurrada de artigos e matérias sugerindo o encerramento do FM em todo o planeta não tem contribuído com a boa saúde do meio. Previsões relacionadas aos avanços tecnológicos buscam estabelecer uma data de encerramento do FM, ignorando que o meio continua com excelentes números de massa quando o assunto é penetração e audiência, fato que não é uma exclusividade do Brasil. Inclusive na Noruega, onde quase 200 estações de rádio são contra o encerramento, além do novo sistema digital que será o substituto não atingir nem 50% da população local, número que seria o ponto de partida para um possível desligamento (saiba mais).
Não estou negando a evolução tecnológica, muito menos as mudanças no formato de consumo por parte da população quando o assunto é mídia. É inegável que o consumo de rádio via internet aumentou, inclusive com a ajuda dos já difundidos “smartphones” e a tendência é de crescimento. Também não dá para negar o consumo de outras mídias, além da divisão da atenção das pessoas para diferentes formatos: elas ouvem, assistem, leem, comentam, compartilham e criam conteúdo. Porém o FM via ondas terrestres tem papel fundamental nisso: ele municia a internet, além da internet funcionar como um completamento às suas atividades.
Isso pode mudar? Claro, também não dá para negar isso. Mas também não podemos cravar que a transmissão via FM é obsoleta e precisa de uma data para o seu encerramento. Longe disso: esse formato de transmissão é gratuito para quem recebe o conteúdo e não há limitação de quantos ouvintes uma sintonia pode abrigar. É importante discutir e praticar o incremento da rádio no mundo on-line, são situações que devem caminhar juntas nos próximos anos, com a evolução dos serviços virtuais e também dos receptores em FM (hoje temos mais opções de receptores do que no passado, mais portáteis e de melhor sintonia das estações locais). Basta olhar para preços, modelos (incluindo celulares) e a presença dessa tecnologia nos veículos automotivos.
Outro detalhe interessante é a política pouco amigável das operadoras de telefonia quando o assunto é dado de navegação (internet móvel). O ano de 2015 começou marcado pela interrupção do serviço de internet quando o usuário atinge uma franquia baixa de navegação (geralmente 10 MB de download diários para usuários de serviços pré-pagos, maioria esmagadora no país). Agora a velocidade não é reduzida, mas a navegação é interrompida. De certa forma estamos mais off-line, salvos pelos pontos de WI-FI. Claro que isso pode mudar no futuro com políticas de planos mais amigáveis para o usuário, mas sempre vai custar algo. Ah, nem preciso comentar a qualidade da cobertura de sinal nas cidades e nas estradas. No momento o mundo ideal é a união do conteúdo on-line com o acesso ao FM (situação vista na maioria dos celulares). E a Apple já foi avisada disso nos Estados Unidos, lembrando que o iPhone possui chip de captação de sinal FM, mas está inativo (saiba mais). Talvez para não "matar" comercialmente o seu iPod Nano (que possui um belíssimo receptor FM).
Existe uma ansiedade de tentar prever o futuro, principalmente no mundo tecnológico. Claro que existem planejamentos para os próximos anos em vários setores. Mas estimar uma data e um fato é muito perigoso. Para o rádio é necessário investir em conteúdo, fortalecer seu modo de comercializar suas atividades, em transmissão na internet (computadores e serviços móveis) e incrementar a sua transmissão em FM, sempre buscando uma melhor qualidade de áudio e cobertura.
Algum comentário? Crítica? Sugestão? Mande para [email protected]. Um abraço e até o próximo texto.
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.