Segunda-Feira, 08 de Julho de 2019 @
Se a base, que é a entrega de conteúdo ao vivo, não estiver alinhada com as necessidades de seu público, a realidade poderá ser bem diferente do que é apontado atualmente pelas pesquisas
Para quem acessa o tudoradio.com regularmente, é possível acompanhar uma enxurrada de notícias positivas sobre o meio rádio. Todas elas baseadas em pesquisas realizadas aqui no Brasil e lá fora. Dados sobre consumo do meio, como alcance, afinidade, entre outros pontos, podem até indicar uma 'nova era de ouro' para o rádio. Mas para que isso seja uma realidade para as emissoras, é preciso considerar uma série de ações que devem ser tomadas. Praticamente uma cartilha obrigatória.
O mundo está mais competitivo. E isso gera dois pontos principais: oportunidades de ampliar a distribuição de conteúdo, mas também gera mais concorrência. E as emissoras de rádio precisam considerar várias estratégias, desde as ações mais básicas (e aparentemente mais próximas de suas realidades), como aquelas que saem um pouco de seu mundo original: o digital.
Vamos novamente para as "básicas", porém nem sempre fáceis: tudo começa pelo conteúdo disponibilizado no ao vivo. O conteúdo é rei? Sempre se fala nisso. Mas antes pense na sua cidade/região (seu público). A partir disso, monte uma grade de programação condizente com os desejos de seu público, mas utilizando como base os conceitos básicos de programação. É importante se basear em exemplos que funcionam em outros locais e traduzi-los para a realidade (e necessidade) de sua cidade.
Exemplo: uma rádio de formato adulto-contemporâneo é uma alternativa? Ok, mas qual projeto será executado? Não é qualquer programação musical, não é copiar algo que esteja dando certo em outro local. Tirando o conceito de redes (que partem de uma linha de projeto que teoricamente deve funcionar em qualquer praça), é necessário entender quais adaptações devem ser feitas para que seu projeto funcione. Lembre-se: uma rádio FM local de Belo Horizonte não é igual ao projeto executado localmente em Curitiba (para citar dois exemplos de cidades diferentes e relativamente distantes).
Essas mesmas dúvidas devem ser respondidas para projetos atuais, mesmo que seja para mante-los nos mesmos formatos, considerando que precisam de ajustes ou se preparar para mais concorrência futura (sejam de outras rádios ou de outras plataformas de mídia).
Um ponto importante é o equilíbrio de sua programação. Por incrível que pareça afirmar isso, é fundamental que sua rádio seja previsível na grade, isso vai criar empatia com ela e rotina de audiência. E, na sequência, o equilíbrio com conteúdos diferentes, como a grade musical, os comerciais, blocos de conteúdo falado, entre outros pontos.
Algo que tem se observado no Brasil (e também em outros locais do mundo), é que projetos mais definidos em seus conceitos e formatos, tem retido mais audiência. Ou seja, se sua rádio é talk, aposte de cabeça no conteúdo falado. Se ela é musical, não fuja dessa linha (claro que contando com locuções e blocos pontuais, que geram afinidade e conteúdos distintos). Isso tem ampliado o tempo médio de audiência nessas emissoras e consequentemente o volume do universo de ouvintes no meio rádio. Claro que, quanto mais rádios “estiverem em seu galho”, melhor ainda, pois assim ampliaremos a oferta de conteúdo “no ar / ao vivo”.
As oportunidades são diversas, ampliadas pela realidade que 'parece estar distante' na rotina do rádio, que é o digital. Rádios musicais podem investir em conteúdo falado em plataformas digitais, complementando os seus produtos. Para isso, podcasts são maravilhosos. Você pode criar blocos em sua rádio com uma pequena amostra desse conteúdo, canalizando a audiência também para acompanhar no digital. Isso também gera oportunidades comerciais e relevância no digital.
Para as rádios faladas, é ainda mais fácil trabalhar com os podcasts. Mas é sempre importante considerar a criação de conteúdo próprio para o digital, além daquela ação de disponibilizar de forma on-demand o conteúdo que foi anteriormente ao ar no ao vivo. Quanto mais a linguagem de comunicação estiver adaptada para a plataforma de distribuição, maior vai ser a relevância, pois o produto estará atendendo a experiência que o público deseja ter em cada situação.
Pesquisas apontam que várias plataformas digitais atuam de forma complementar ao rádio, participando da rotina do público. O podcast funciona da mesma maneira, podendo aumentar de forma considerável o tempo que o seu público-alvo estará consumindo algum conteúdo gerado por uma determinada emissora/marca.
Coisas que também parecem óbvias, como ter uma boa qualidade sonora no FM e no streaming, atuar com RDS, estabilidade em todos os canais de transmissão e trabalho de fortalecimento de marcas (e conceitos) são a base de qualquer trabalho. Se estiver 'manco' em alguma dessas áreas, a chance de insucesso é considerável e aí sim, pesquisas positivas sobre o meio rádio não vão refletir a realidade dessa emissora.
Por fim, quero chamar a atenção para as duas matérias abaixo (links disponíveis nos títulos).
Pesquisa Ipsos reafirma força do rádio, crescimento do áudio e a convivência do meio com os podcasts
Nielsen aponta que "midia tradicional" serve de referência para consumo de conteúdo on-line
Nos próximos meses, eu devo abordar mais pontos sobre isso em artigos e também nas próximas edições do Painel tudoradio.com. E conto com as impressões de todos, assim a troca de informações irá enriquecer o debate. Espero o seu contato no e-mail [email protected] ou nos canais sociais do tudoradio.com.
Um abraço e até a próxima.
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.