Quinta-Feira, 04 de Junho de 2020 @
Não pensei duas vezes e priorizei aquela opção, mesmo sendo mais cara. Diversos estudos já indicam que as tendências do consumo durante a pandemia são focadas no local, no sentimento de ajuda mútua e com atenção voltada ao coletivo. Se individualmente estamos pensando em consumir e ajudar ao mesmo tempo, esperamos que as empresas tenham esse mesmo norte.
As grandes empresas, claro, já perceberam isso e tentam se apropriar desses conceitos, mesmo sendo um grande absurdo imaginar uma multinacional criando campanhas que sinalizam que ser cliente dela ajudará localmente e fortalecerá o coletivo. E pode funcionar, assim como já vinha funcionando com outras questões, como a sustentabilidade ambiental.
Essas mudanças não começaram na pandemia. Há tempos já eram observadas alterações no modo de consumir, com uma busca cada vez maior pelo consumo consciente. A última edição do estudo Elderman Earned Brand no Brasil mostrou que 69% da população escolhiam ou boicotavam alguma marca de acordo com seus posicionamentos – políticos, sociais, ambientais etc.
Além disso, 63% dos brasileiros declararam acreditar que as empresas carregam um poder de mudança maior até do que os governos. De acordo com um levantamento do site ReviewBox, cresceu o número de buscas que associam nome de empresas a algum posicionamento, revelando que os consumidores realmente pesquisam esses fatores antes da compra.
Tudo isso está atrelado à percepção cada vez maior do consumo como elemento constituinte de nossas identidades. A sensação de pertencimento a um grupo por conta do que e como consumimos aumentou muito com a segmentação provocada, principalmente, pela internet.
Não podemos esquecer que o consumidor sempre foi e será sujeito ativo e pensante, com enorme poder de mudar a atuação das marcas. Agora, durante essa crise sem precedentes, esse poder aumenta, pois o terreno de incertezas abre espaço para que nossas escolhas possam remodelar diversos aspectos do mercado. E as marcas atenderão as expectativas, tentando não ficar para trás nessas mudanças tão rápidas, buscando aprender as lições da pandemia.
Mas, é possível afirmar que o comportamento do consumidor nunca mais será o mesmo? As tendências citadas esbarram em vários fatores, causando dúvidas sobre a perpetuação. Alguns já estão pensando que nossa memória curta poderá causar um rápido esquecimento dos aprendizados da pandemia. Além disso, o fator econômico certamente falará mais alto, considerando os níveis de desemprego e a acentuação da desigualdade.
Voltando à questão inicial, entre escolher um produto mais barato ou um mais caro, carregado de boas intenções, nem todos têm o benefício da dúvida.
Além do mais, muitos têm falado que o consumo pós-pandemia será moldado pelas tecnologias pessoais, com a consolidação do consumo digital. Porém, isso ainda é impensável em um país em que 25% da população não têm acesso à internet. Essas desigualdades tecnológicas existiam e muitos fingiam não ver. As questões trazidas pela pandemia, principalmente a do ensino a distância, abriram esses olhos e trouxeram à tona as limitações do consumo digital.
Consumo de mídia também sofreu alterações
O consumo de mídia seguiu as mesmas tendências. A coletividade, a necessidade de informações rápidas e confiáveis e o foco no local são três características marcantes do rádio. Assim, durante a pandemia, foi reforçado o papel solidário, companheiro e informativo do meio, ou seja, tudo que os consumidores esperam de qualquer marca nesse momento.
Por causa do isolamento social, o consumo de conteúdo aumentou muito: livros, serviços de streaming, jogos, televisão, jornais e rádio. A enorme quantidade de notícias falsas espalhadas em relação ao vírus fez com que a população notasse a importância da credibilidade da mídia tradicional. Logo, assim como no caso do ensino a distância, a pandemia ajudou a impor limites nas tecnologias que traziam desinformação.
O jornalismo vem atingindo ótimos níveis de audiência. Percebendo a tendência, muitos veículos digitais que restringiam o acesso a assinantes liberaram seus conteúdos durante a pandemia, reforçando o papel social da imprensa. Essa mudança tem mais chances de se perpetuar, já que não esbarra tanto nas limitações tecnológicas e financeiras de boa parte da população brasileira.
Por Lincoln Guilherme Copceski - Formado em Comunicação e Multimeios pela Universidade Estadual de Maringá, especialista em Produção Audiovisual pela PUC-PR e mestrando em Tecnologia e Sociedade pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Trabalhou com assessoria de comunicação empresarial e política, diretor audiovisual e, hoje em dia, escreve sobre diversos assuntos.
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