Segunda-Feira, 04 de Julho de 2022 @
Sistema encontrado em veículos na Europa encontra as emissoras através de dados, seja pelo RDS do FM ou pelo DAB (sinal digital terrestre)
Pois é. Tive essa experiência na Europa e confesso que fiquei confuso. Em alguns modelos novos da montadora KIA, não há um dial FM para você girar e encontrar as estações do local onde você está. Quer dizer, você encontra elas sim, mas de outra maneira e talvez até faça mais sentido para a maioria do público. E qual é essa maneira? Pelo nome da rádio ou pelo formato de programação dela. E não pela frequência que você aprendeu a memorizar para a sua emissora preferida.
Sim… a KIA não está menosprezando o rádio e sequer tentando diminuir a relevância do nosso meio. Tanto que o botão físico "RÁDIO" está lá no painel, em destaque, sem alterações para "MIDIA" ou "AUDIO", como já vimos em outra montadora. O que a empresa coreana fez na Europa foi mudar a forma como você interage com as suas estações: você vai buscar elas pelo nome e pronto. Seja ela uma FM ou uma transmissão digital, em DAB.
Ok, passado o susto, ótimo. Faz sentido e é algo muito fácil. Mas e para as estações? Aí que está o problema: sem RDS ativo com o nome, sem espaço na lista de rádios disponíveis para o ouvinte. É isso mesmo: se esse receptor já estiver pelas nossas ruas brasileiras, ele provavelmente irá ignorar as estações sem RDS. Afinal ele precisa desse dado para listar as rádios e mostrar quem tem sintonia local disponível para o motorista / carona.
Lista de rádios européias mostradas pelo nome, via RDS e DAB / crédito: tudoradio.com
Provavelmente as emissoras de rádio no local onde eu estava não devem achar isso grande coisa, pois todo o dial FM analógico da região tem seus respectivos sistemas de RDS ativos. Inclusive uma autovia (estação de uma concessionária de rodovias). Ou seja, todo mundo é devidamente encontrado.
Ok… mas e a sintonia? Excelente. O som do FM analógico não perde para as opções de streaming disponíveis nesse sistema de infoentretenimento. Quem se sobressai mesmo é o DAB+, com seu som incrível. Na ausência de um dos sinais (analógico ou digital), o receptor automotivo em questão alterna automaticamente para o que está disponível.
É… os dispositivos evoluíram e pelo visto as emissoras de rádio no velho continente também acompanharam esse movimento. Inclusive o setor está bem vigilante para manter o domínio do rádio nos automóveis. Existem movimentações nesse sentido nos Estados Unidos e também na Europa.
Mas e aqui? Bem, acredito que sim, mas já constatei problemas e relatei neste mesmo espaço, como a piora do FM no modelo brasileiro de infoentretenimento da Volkswagen, bem aquém do famoso receptor que vem como padrão da montadora alemã.
De qualquer forma, fica aqui o meu apelo para as emissoras de rádio: RDS não é mais luxo, é algo básico (aparece nos mais diversos receptores, como o automotivo, caixas de som bluetooth, smartphones, entre outros) e que pode garantir o acesso do ouvinte à programação da emissora. E é óbvio: uma boa qualidade do áudio oferecido, seja ele em FM analógico ou streaming, como também a facilidade de recepção (no caso do sinal terrestre) e conexão (online). Sem essas bases, toda a experiência será comprometida, por melhor que seja o conteúdo a ser oferecido.
Por fim, é importante a vigilância: emissoras de rádio e associações precisam continuar acompanhando as montadoras e também quem for responsável por qualquer dispositivo que acessa o áudio de rádio, seja ele receptor FM/AM ou conectado (como caixas de som inteligentes).
Ah, voltando para o rádio automotivo sem sintonias na Europa, curiosamente o AM tinha dial com frequência para sintonizar… mas não havia estação disponível para ouvir.
NRJ sintonizada no formato DAB / crédito: tudoradio.com
Emissora européia analógica com sistema de RDS ativo / crédito: tudoradio.com
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.