Terça-Feira, 24 de Outubro de 2023 @
Não é incomum que outros segmentos interpretem dados positivos do rádio como indicativo de uma possível decadência do veículo. A história mais recente está no consumo deste meio em carros com CarPlay e Android Auto
Recebi um levantamento da Edison Research que mostra o consumo de rádio nos EUA em automóveis equipados com sistemas operacionais como Apple CarPlay e Android Auto. Este dado era contrastado com números de carros que não possuem essas tecnologias. Obviamente, tais sistemas facilitam o acesso a conteúdos conectados, como podcasts e streaming, muitas vezes substituindo a tela principal do sistema de entretenimento do veículo, algo que não agrada às montadoras, que desejam priorizar seus próprios sistemas.
Apesar da facilidade de acesso ao streaming, o rádio representa quase metade do total de consumo de mídia nesses veículos com CarPlay e Android Auto. E, claro, ouvir streaming não faz de você alguém que não consome rádio, e vice-versa. Em muitos casos, o rádio opera em segundo plano nesses sistemas, mas ainda é a mídia de maior preferência para os usuários que têm acesso a essas tecnologias. E a movimentação de gigantes, como Apple e Google, é no sentido de ampliar a integração com o hardware do automóvel, trazendo, por exemplo, o rádio FM para a tela do CarPlay, aumentando a exposição desse meio.
Bem, com isso dito, tudo parece maravilhoso, certo? Não exatamente. Parte do jornalismo especializado em tecnologia interpretou o dado do rádio como um sinal de decadência, apesar de seu consumo ser mais do que o dobro em relação ao streaming nesses sistemas. E muitos desconsideram que o vice-líder é a SiriusXM, um serviço de rádio via satélite dos EUA, que não tem equivalente no Brasil. Neste caso, possivelmente a parcela do streaming possa ser maior, mas a do rádio também (e mais provável que seja, pela facilidade de acesso e a gratuidade).
Isso lança luz sobre a necessidade de o jornalismo especializado analisar dados fora de suas bolhas e tentar compreender os cenários de forma imparcial. Naturalmente, procuramos respostas para o futuro, que é repleto de incertezas e desafios. E quem se posiciona como guia nesse cenário detém uma vantagem informacional.
Claro, há variações no consumo ao longo do tempo, indicando tendências, mas elas podem se estabilizar. E tudo pode mudar com a eventual dominância dos carros autônomos. Porém, se o consumo de rádio em casa e no trabalho é alto, as projeções para o futuro se tornam ainda mais incertas.
Eu sou fã de tecnologia, ainda mais essas embarcadas em veículos. E também observo o meu consumo e confronto com o de outras pessoas, de diferentes localidades, situações econômicas, etc. Noto que o rádio FM é bem presente na minha vida no carro e no meu lazer, que é uma escolha minha de girar o dial, mas no dia a dia em casa e no trabalho, o streaming de rádio é a escolha “mais na mão”, até por causa do tudoradio.com.
No final das contas, o rádio é o que é pelo seu conteúdo e facilidade de acesso. Só veremos um consumo de mídia 100% online quando isso for igualmente acessível a todos. Hoje, o rádio via ondas tem conversado bem com essas soluções que estão surgindo na nossa rotina e a sua adaptação ao digital amplia suas possibilidades de consumo.
CarPlay da Apple rodando o app iHeartRadio / crédito: tudoradio.com
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.