Segunda-Feira, 03 de Junho de 2024 @
Com capacidade de impactar positivamente ou até negativamente no dial FM, o streaming precisa fornecer uma boa experiência de áudio para o ouvinte
Ainda no último ACAERT Next, a Kantar IBOPE Media indicou que o acréscimo ao alcance no dial feito pelo streaming de uma emissora top 10 de audiência é de 47%, ou seja, essa é a média de incremento que uma rádio hoje pode ter de ouvintes únicos se trabalhar bem o áudio digital ao vivo. Valor este que é ampliado conforme os dados são atualizados pela empresa. Mas qual é o problema que encontramos hoje? Não é a falta do serviço, mas sim a qualidade final dele para o ouvinte.
Cuidamos do transmissor do ar, processador, cobertura de sinal terrestre, etc., mas pecamos na escolha do encoder de streaming (quando a prestadora não tem um específico para fornecer), na captação do áudio e na distribuição dele. Exemplo: tem rádio de grande porte no FM, toda bem montada, cujo streaming é mono, mesmo sendo uma rádio musical. Outras pecam na captação do áudio, deixando-o mais baixo do que o recomendável, com chiado ou qualquer outro elemento sonoro incômodo para o ouvinte.
E por que isso é um problema? Mesma lógica do que falamos sobre o rádio FM no dial quando o som não é bom ou não dispõe (ou utiliza corretamente) tecnologias como o RDS: o ouvinte está trafegando entre diferentes serviços de mídia, em especial nos dispositivos conectados. Se a experiência com o áudio for melhor no Spotify do que na sua rádio, por exemplo, automaticamente a impressão que ficará para a audiência é de que a determinada emissora é inferior, atrasada tecnologicamente.
Se o streaming consegue incrementar o alcance do dial FM, de acordo com a Kantar IBOPE Media, como são formatos que se complementam, a experiência ruim no online pode também contaminar a visão sobre a qualidade de uma determinada emissora no dial. É importante ter isso em mente, tendo em vista que muitos ouvintes não estão necessariamente preocupados com a forma de ouvir a estação (on ou off), querem apenas ouvir.
No geral, a nossa situação é ruim? Não, não vamos generalizar, seria errado e injusto. Tanto que esses números positivos que vemos vindo do online só são possíveis devido ao bom trabalho feito por muitas emissoras. Tem rádio aqui no Brasil que faz o pacote completo: excelência no dial, bom uso dos recursos disponíveis, cuidado extremo com o streaming e uso de metadados. E nem vou entrar aqui no uso de dados para vendas e estabelecimento de estratégias artísticas, algo que seria assunto importante para outro artigo.
Está com alguma dúvida sobre a percepção da qualidade do streaming da sua emissora? Simples: de preferência no período da manhã, com fones de ouvido, conecte-se a ela. Depois, usando um agregador (como o do tudoradio.com), mude rapidamente para outra emissora concorrente e vá comparando. Ainda restou alguma dúvida? Saia do streaming de rádio e ouça streaming de música como Spotify. Vá comparando: hoje temos várias configurações possíveis para equilibrar boa qualidade de áudio para dispositivos conectados, com taxas de conexão acessíveis para consumo de dados.
Isso tudo é importante. E é a base para que, no futuro, o streaming deixe de ser apenas um simples complemento secundário ou apenas gasto operacional. É um trabalho que leva tempo, precisa ser estratégico e precisa partir com qualidade para aquele que mais deve ser beneficiado: o ouvinte.
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.