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Sexta-Feira, 09 de Agosto de 2024 @

620 da Jovem Pan: São Paulo perde mais uma emissora AM em agosto

Jovem Pan encerrará as operações nos 620 KHz da faixa AM em São Paulo em agosto de 2024, migrando para o FM, como parte de um movimento de modernização do rádio no Brasil

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“Vambora, Vambora, olha a hora, vambora, vambora...”. Em 2017, esse famoso trecho da “Sinfonia Paulista”, de Billy Blanco, deixou de ser tocado diariamente em São Paulo. A canção era trilha do “Jornal da Manhã”, exibido nos tradicionais 620 KHz da Rádio Jovem Pan AM — oficialmente Rádio Panamericana S/A.

A música, que reflete a correria dos paulistanos para chegar ao trabalho, dava o tom para um jornal dinâmico, com numerosa equipe, e que não podia faltar na vida do cidadão. Entretanto, os tempos mudaram, a Rádio Jovem Pan virou Jovem Pan, e hoje, ela retransmite o áudio de seu canal de TV, lançado em 2021. Como diz o próprio bordão da emissora, “a Jovem Pan é a rádio que virou TV”.

Voltando ao dial de AM em São Paulo, uma mudança impactante veio acontecer no dia 7 de setembro de 2023, quando a Rádio Jovem Pan News deixou os 620 KHz, cedendo o espaço para a Classic Pan, projeto musical que vinha sendo veiculado apenas pela internet. Com a mudança, a Grande São Paulo deixou de contar com a programação da tradicional Rádio Panamericana, emissora que estava no ar há 79 anos e sempre na mesma frequência. Alguns programas da “News” seguem indo ao ar pela Jovem Pan FM 100,9, entretanto, para ouvir a programação jornalística em outros horários, agora o paulistano precisa recorrer à internet ou à TV por assinatura.

Já no clima de “esfriamento” da frequência — apesar de que a programação musical da Classic Pan é atrativa — eis que, há poucos dias, o portal tudoradio.com divulga, em primeira mão, que o Grupo Jovem Pan vai encerrar as operações do AM 620 KHz de São Paulo no dia 15 de agosto de 2024. A medida está prevista no processo de migração das emissoras brasileiras de rádio em Ondas Médias, que, por opção, estão passando a operar gradativamente em uma nova frequência de FM, seja no dial convencional ou no novo dial estendido (eFM), oficialmente utilizado em grandes centros urbanos desde 7 de maio de 2021.

É o caso da estação migrante da Rádio Panamericana no eFM, que está operando em São Paulo desde 3 de abril de 2023, na frequência de 76,7 MHz, inicialmente com a programação da Jovem Pan News, mas alterada para Classic Pan em 7 de setembro do mesmo ano, em paralelo com a AM 620.

Aos olhos dos radiodifusores, encerrar as operações na faixa de Ondas Médias significa modernização, melhor qualidade de áudio e redução de gastos. Ao público mais distante dos centros de transmissão, onde a estação migrante de FM não chega, as emissoras dão como opção o acesso aos sinais de streaming nos aplicativos e sites, ou nos canais de áudio das operadoras de TV por assinatura. Simples assim.

De fato, as operações em AM são custosas e sujeitas a diversas interferências, algo que vem se intensificando nas últimas décadas. Mas nem toda cidade ou povoado têm acesso à internet, sendo que o rádio AM, seja em Ondas Curtas ou Médias, é quem leva a informação até essas localidades.

Com o fim anunciado do tradicional prefixo ZYK-521 da cidade de São Paulo — que virou rede nacional —, é preciso contar a história da emissora, que se iniciou em 3 de maio de 1944, quando entrou no ar como PRH-7 - Rádio Panamericana AM - 620 KHz. Seus estúdios foram instalados no centro de São Paulo, na Rua São Bento, 299, e o transmissor no bairro do Itaim, exatamente onde hoje cruzam as imponentes avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek.

Anteriormente, a frequência de AM 620 KHz em São Paulo era ocupada pela Rádio Piratininga, emissora espírita instalada em 1940, mas que foi cassada pelo governo em outubro de 1942. Dias depois, a concessão da frequência já foi outorgada para Vianna e Cosi, que passaram a estruturar a futura Panamericana.


Logotipo da Rádio Panamericana em 1944, que apareceu em campanha na antiga Revista Publicidade / colaboração de Maurício Viel

Os responsáveis pela emissora foram o famoso teatrólogo e cineasta Oduvaldo Viana, e o publicitário Júlio Cozzi. A ideia era criar uma rádio diferente das demais e, para tanto, foi realizada uma série de estudos e experiências. Seis programas foram criados por Oduvaldo para compor a programação inicial, baseados no radioteatro e na música. Além disso, a Panamericana apresentou programas variados de auditório, humorísticos e culturais.

Entretanto, apesar de a rádio ter estreado muito bem, Oduvaldo Viana retirou-se da sociedade seis meses após a inauguração. A Panamericana foi vendida para as Emissoras Unidas, do empresário Paulo Machado de Carvalho, que administrava as rádios Record, São Paulo e Bandeirantes.

Logo, a Rádio Panamericana se especializou em coberturas esportivas, tornando-se a “Emissora dos Esportes”, a primeira do gênero no país. Formou, no seu início, uma grande equipe de narradores de todos os esportes, integrada por Pedro Luiz, Otávio Muniz, Wilson Fittipaldi, Mário Moraes, Raul Tabajara, Hélio Ansaldo e outros. A Panamericana modernizou e ampliou a forma de cobrir esportes, virando referência para as concorrentes.

Para o que se propunha, o projeto deu certo e liderou a preferência popular nas transmissões esportivas. Mas, não ousou mais e ficou num plano intermediário. Aos poucos, a programação foi ficando mais variada e passou a “surfar na onda” da Jovem Guarda.

Em 1951, a Panamericana mudou-se para a Rua Riachuelo, 275, 13° andar, e, três anos depois, mudou-se para a Av. Miruna, 713, ao lado do Aeroporto de Congonhas, onde todas as Emissoras Unidas passaram a funcionar em conjunto e onde foi fundada a TV Record - Canal 7.

O nome fantasia “Jovem Pan” surgiu em 1965, quando a emissora estava sob a direção de Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, filho de Paulo Machado de Carvalho. A família controla a emissora até os dias atuais.

O radialista Narciso Vernizzi estreou na Panamericana em 1947, como jornalista esportivo, mas tornou-se o famoso “Homem do Tempo” em 1963. Em meados da década de 1970, a rádio já contava com os narradores esportivos José Silvério e Joseval Peixoto. Os comentaristas esportivos Wanderley Nogueira e Flávio Prado, no ar até hoje na emissora, chegaram, respectivamente, em 1977 e 1990.

“Girando o botão” de volta para 2024, mais especificamente para este mês de agosto, em São Paulo foi programado o desligamento da estação de AM não só da Panamericana, como também da Bandeirantes. Curiosamente, isso acontece no ano em que se comemora o primeiro centenário do rádio paulista, já que, em 1º de janeiro de 1924, entrou no ar a pioneira Rádio Educadora Paulista.

As operações em AM 840 KHz da Rádio Bandeirantes foram encerradas às 23h59 do dia 4 de agosto. Nas redes sociais, foi grande a repercussão do desligamento da frequência. Apesar de previsível, muita gente reclamou pelo desaparecimento daquela estação transmissora e, além disso, pela falta de uma homenagem à sua história e importância. Sob a audiência de muitos amantes do rádio, o transmissor foi desligado com “corte seco”, em meio a uma entrevista do programa “Antenados”, apresentado pelo comunicador Danilo Gobato.

A comunidade radiofônica espera, agora, que o Grupo Jovem Pan se sensibilize com o “Caso Bandeirantes” e não cometa o mesmo erro. Que seja homenageada devidamente a frequência tão poderosa dos 620 KHz, a “mãe” de toda a rede de emissoras que compõem a Jovem Pan News hoje, cujas ondas vêm sendo emitidas, nas últimas quatro décadas, de suas antenas instaladas às margens da belíssima Represa Billings, na Zona Sul da capital.

Por fim, vale aqui relatar um fenômeno interessante, que ouvintes vêm observando cada vez mais. No início do rádio no Brasil, em 1922-23, nosso dial AM era composto principalmente por emissoras estrangeiras, com sinais originários basicamente dos Estados Unidos, da Argentina e do Uruguai. Este cenário vem se repetindo no Brasil, durante o período noturno, e crescendo nos últimos meses devido ao desligamento de várias estações de AM. Recentemente, no mesmo instante em que a Rádio Bandeirantes AM 840 foi desligada, muitos receptores passaram a receber o sinal de outra emissora que opera na mesma frequência — a Rádio Nacional General Madariaga, de Paso de los Libres, na Argentina, há 72 anos no ar.

Estaríamos progredindo ou regredindo? Cada ouvinte tem a resposta dentro de si.


Anuncio sobre a chegada da 620 ao dial, em 1944, no jornal Folha de S.Paulo / colaboração de Maurício Viel

Tags: Jovem Pan, Jovem Pan News, 620 AM, Jovem Pan AM, São Paulo, migração AM-FM, Classic Pan, história

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Colunista
Maurício Viel Maurício Viel é jornalista e historiador do rádio e da TV. É coautor do livro “TV Tupi: Do Tamanho do Brasil” e membro do MBRTV - Museu Brasileiro de Rádio e Televisão.










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