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Terça-Feira, 29 de Outubro de 2019 @

É preciso cuidar do FM para ele continuar relevante no Brasil

O tal "chiadinho" já incomoda e atrapalha a boa experiência do ouvinte com o FM brasileiro. E os problemas podem estar fora do meio rádio, o que dificulta uma possível solução

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Recentemente eu cheguei a escrever textos sobre como precisamos manter o FM atrativo para a população, seja através de pequenas práticas que acabam fazendo uma grande diferença para o ouvinte, ou também os cuidados básicos que as rádios devem ter na transmissão de seu sinal (como qualidade de áudio e também sintonia). E vejo a necessidade de continuar batendo nessa tecla: precisamos cuidar do FM para que ele continue relevante em nosso país.

Hoje tudo está relacionado à experiência. O público mede o seu consumo com base nesse critério, que leva em consideração se aquela atividade é agradável e/ou fácil para ele. Partindo da ideia de que o rádio brasileiro está oferecendo um conteúdo de qualidade e alinhado com seu público-alvo, algo básico para qualquer projeto ser bem sucedido, o que mais pode influenciar nessa tal experiência do ouvinte?

Numa grande cidade brasileira, como São Paulo, a experiencia de se ouvir uma FM está boa? É fácil? É agradável? Sempre tive essa preocupação, que mistura com a grande interferência que há no dial FM e é somada à receptores de qualidade questionáveis. A impressão de ouvinte, não de técnico da área, é que não está tão agradável assim.

Até em rádios automotivos, que possuem uma sensibilidade de recepção mais apurada, o chato chiadinho é companheiro inseparável do ouvinte. Áreas de sombras, antes um problema mais característico de regiões periféricas e afastadas, agora é um problema maior nas regiões centrais.

Não te parece algo novo? Possivelmente, mas a sensação é que agora está pior. Justo numa época que o FM compete sua atenção com outros players digitais.

Sinceramente? O FM não perde em praticamente nada em relação à outros dispositivos, devido a sua facilidade e alcance, sendo mais uma questão de conteúdo e momento do ouvinte/usuário na escolha do que deseja consumir. Porém a questão técnica não pode ser mais um obstáculo ao consumidor.

Dois pontos colaboram com essa sensação de piora: incomodo, devido à presença do "chiadinho", que derruba a qualidade sonora de uma FM. E o outro é a impressão de que o dial FM do interior e de outras grandes metrópoles (fora do Brasil) contam com um FM mais sedutor, de melhor qualidade de áudio e fácil sintonia.

Isso não se deve pela falta de conhecimento técnico de nossos profissionais (de forma alguma) ou dos equipamentos utilizados pelas nossas FMs brasileiras (os mesmos de qualquer outra grande FM mundo afora).

É uma questão de ocupação do espaço, onde o FM convivem com pirataria em sua faixa, outros serviços de radiofrequência que causam interferências, fios de rede elétrica pendurados sob nossas cabeças em todas as partes e até as lâmpadas econômicas de LED ajudam a agravar essa situação.

E não tem relação à grande ocupação do espectro FM por rádios legalizadas. Basta notar como é organizado o FM em outras metrópoles globais (sem entrar no mérito do digital, estou falando de FM analógico mesmo). Sinal limpo, fácil sintonia, sem elementos externos e “não autorizados” competindo de forma indesejada pela banda de rádio.

Barcelona é um exemplo bem interessante. O FM de lá conta com uma rádio com sinal forte no segundo adjacente de outra. E não é percebida interferências para o ouvinte. Detalhe: tem várias FMs que não são um primor na qualidade de áudio em FM por lá, mas tudo está organizado. Os espaçamentos são mais próximos entre estações de menor potência e um pouco maior entre FMs de maior porte técnico.

Vale lembrar que, cidades como São Paulo (extensas, de topografia maluca, cheia de obstáculos de concreto) já possuem suas dificuldades "naturais" para o FM, algo não visto em metrópoles planas ou com FMs que necessitam de menos potência para cobrir essas áreas (caso de Nova York, cheia de prédios, mas com as FMs presentes lá no topo do Empire State Building). Se deixarmos o resto tomar conta, a situação vai piorar e podemos ver o FM tomando, de forma rápida, o mesmo caminho do AM brasileiro.

Temos alguns exemplos locais que podem servir de comparação positiva, pois se aproximam da realidade dos centros onde constatamos esse problema de sintonia. Curitiba, cidade que está entre as regiões mais populosas do país, possuí uma topografia complicada, dimensões territoriais extensas (principalmente de norte a sul) e conta com operação de rádios de alta potência (o que sobrecarrega o espectro FM), é um dial FM considerado organizado para os nossos padrões, onde a sintonia é facilitada, talvez devido à ausência de transmissões clandestinas e outros fatores.

Ah, e não se trata de uma menor presença de canais legalizados, pois a capital paranaense também vai ter sua migração AM-FM em faixa estendida.

Talvez precisamos discutir mais sobre a infraestrutura das rádios, pressionar por uma organização mais ampla do espectro FM e expor mais esses problemas entre os profissionais.

Pois uma coisa é fato: o ouvinte já sente esse incômodo e reclama. Reclama porque tem interesse de seguir ouvindo rádio e quer resolver o problema de alguma forma. Grave será quando ele desistir de reclamar.

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Tags: rádio, sinal, fm, cobertura, interferências, preservação, serviço, experiência, ouvintes

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Colunista
Daniel Starck

Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.










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