Sexta-Feira, 12 de Junho de 2020 @ 07:30
São Paulo - Cenário é visto nos Estados Unidos e mostra uma normalização da composição de audiência entre diferentes formatos de rádio
O isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus e o interesse sobre notícias relacionadas a covid-19 tem causado uma série de mudanças nos hábitos de consumo de mídia. E isso também afeta o volume de audiência das emissoras de rádio, a depender do formato de programação trabalhado por cada estação. Nos grandes centros dos Estados Unidos foi percebida uma elevação de audiência nos índices de rádios jornalísticas e também de alguns formatos específicos. Mas estações musicais indicadas como adulto-contemporâneo, Pop CHR, entre outras classificações, observaram quedas incomuns em seus números. Porém, a medição de maio da Nielsen aponta uma possível tendência de normalização das escutas. Acompanhe:
No geral, conforme revelado em painel do NAB Show Express, o ouvinte permaneceu fiel às suas estações de rádio favoritas. Mas em alguns recortes, com destaque para os grandes centros mais impactados pelo isolamento, as variações de audiência em determinados formatos foram mais claras. Para se ter uma ideia, a Lite FM 106.7 (adulto-contemporâneo), que costuma liderar a audiência com facilidade em Nova York, chegou a oscilar para a 3ª posição em abril.
Rádios jornalísticas (all-news e talk/news) cresceram nos principais mercados de rádio dos Estados Unidos. O mesmo aconteceu com as rádios musicais que trabalham em formatos que são mais consumidos pelos trabalhadores que não fizeram isolamento (aqueles que trabalham com serviços considerados essenciais), como o classic rock, country, religiosas, entre outros.
Estações voltadas ao público hispânico também avançaram, chegando a liderança de escutas em Nova York, por exemplo (caso da WSKQ FM, conhecida como La Mega FM 97.9). Para se ter uma ideia, a La Mega chegou a um índice que é comum apenas para a Lite FM, isso se considerado o período histórico recente das medições de audiência no maior mercado dos Estados Unidos.
Em centros que passam por uma retomada gradual da atividade comercial e social, as rádios de formatos Pop CHR, adulto-contemporâneo, alternativo, HOT AC, entre outros, iniciaram uma recuperação de seus índices a partir de maio na pesquisa feita pela Nielsen. A KBIG FM (MyFM 104.3, classificada como HOT AC) de Los Angeles voltou a registrar o mesmo índice que a FM tinha no período pré-pandemia. E a KRTH (K-Earth 101), de formato classic hits, pulou para a liderança, ultrapassando a KFI AM 640 (jornalismo).
Novamente sobre Nova York, já é percebida uma recuperação nos índices de algumas estações que foram mais afetadas pela pandemia. Rádios como WCBS FM 101.1 (classic hits) e KTU FM 103.5 (Hot AC) voltaram a registrar números mais expressivos em maio, após um tombo entre março e abril. E, em Dallas, a Kiss FM 106.1 (Pop CHR) recuperou a liderança de audiência em maio.
As rádios de formato esportivo (totalmente dedicada à transmissão e discussão de jogos) foram as estações que mais sofreram durante a pandemia, conforme já era esperado devido à interrupção de todas as ligas esportivas. A Sports FM 94.1 WIP, voltada à Filadélfia, foi a única rádio no formato a reter a maior parte de seu público durante a covid-19.
Em resumo, após uma mudança significativa na organização dos rankings de audiência, o meio rádio observa um retorno gradativo do cenário que era visto no período pré-pandemia. Essa “bagunça” nos rankings PPM (Portable People Meter - medição eletrônica) da Nielsen também foi registrada em mercados como San Francisco, Miami, Chicago, San Diego, San Jose, entre outros.
E o que isso significa?
As variações nos números de diferentes estações, seja para cima ou para baixo, confirmam tendências no consumo de rádio que foram apontadas durante o período de pandemia. No começo houve um maior interesse por conteúdo jornalístico e, depois, a audiência foi voltando a ficar mais interessada em conteúdos musicais e de entretenimento.
Situações semelhantes foram vistas no Brasil. Emissoras cujo projeto dependem mais da circulação de pessoas nas ruas e no local de trabalho foram mais afetadas negativamente nos índices de audiência, situação esta que passa a se normalizar aos poucos conforme o estágio da pandemia nas cidades. Já as rádios de conteúdo jornalístico experimentam altas consideráveis, assim como aqueles formatos que são mais consumidos por quem está nas residências.
De qualquer forma, independe da variação de audiência entre formatos, o Rádio tem mantido os seus números de audiência nos Estados Unidos e também no Brasil. Em um recorte mais recente, o Kantar Ibope Media apontou crescimento no universo de ouvintes para os mercados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Outro detalhe que deve ser lembrado sobre o comportamento padrão da audiência de rádio nos Estados Unidos, é que o formato jornalístico é o que possui a maior parcela de audiência, seguido pelo adulto-contemporâneo.
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Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.