Quinta-Feira, 20 de Março de 2025 @ 06:42
São Paulo - Em alguns casos, rádios de notícias impediram o avanço de emissoras “natalinas” na época de festas de fim de ano
Com a chegada do republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e todo o noticiário praticamente dedicado aos acontecimentos diretamente ou indiretamente ligados a esse novo período político, a medição PPM da Nielsen já apontou altas expressivas e até históricas de rádios de jornalismo nos principais mercados de lá. O fenômeno pode ser considerado algo esperado, mas elevou para níveis históricos alguns desempenhos individuais de estações em cidades importantes dos Estados Unidos. E o movimento ocorre também em rádios públicas ligadas à NPR. Acompanhe:
Os resultados de janeiro, que já apresentam uma dinâmica bem diferente daquela vista até a época de festas de fim de ano, quando rádios “natalinas” são dominantes na audiência por lá, foram marcados por uma guinada dos formatos “News”, “News/Talk”, entre outros que estão no guarda-chuva do jornalismo. Em Nova York, maior mercado de lá, a WINS AM 1010 FM 92.3 da Audacy, que já vinha de desempenhos históricos para a sua operação, saiu de pontuações como 4.3 em setembro passado, que conferia à rádio um sétimo lugar geral no ranking FM, para 5.8 em janeiro, levando-a para uma histórica vice-liderança geral de audiência, além de um alcance de 1,8 milhão de ouvintes.
É verdade que a WINS vem numa trajetória de alta desde que assumiu a frequência 92.3 FM, em outubro de 2022, quando deixou de ser um canal exclusivo do AM e de canais secundários no rádio digital. Porém, seu feito máximo e já de destaque foi a permanência no top 10 e alcances superiores a 1,1 milhão em Nova York. Desde dezembro, quando marcou 4.8, a rádio começou a escalar na pesquisa de forma mais significativa, chegando a 5.1 na medição de feriados de fim de ano e agora 5.8. Isso a deixa na frente de várias FMs musicais que possuem audiências elevadas por lá, em um mercado que não costuma puxar rádios de jornalismo para o top 5.
Esse efeito “elevador” não foi isolado da WINS em Nova York: a emissora pública WNYC FM 93.9, ligada à New York Public Radio, que possui ligação com a NPR, também disparou e hoje está com 5.1 no PPM. Isso jogou a emissora para o top 5 do ranking FM de audiência de lá, considerando a medição de janeiro. Para efeitos comparativos, a emissora tinha 3.2 em setembro passado.
Chama a atenção a situação vista em San Francisco, quinto maior mercado dos Estados Unidos. Por lá, a rádio pública KQED FM 88.5, também ligada à NPR, costuma figurar entre as líderes de audiência, rivalizando com a KCBS FM 106.9 (all-news) e a KOIT FM 96.5 (adulto-contemporâneo). Porém, no final de 2024, ela rompeu a lógica de uma rádio como a KOIT liderar na época natalina, com a KQED já assumindo a ponta nesse período e com larga vantagem. Hoje a 88.5 FM, que é classificada como Public News/Talk, está com 10.7 no PPM na pesquisa de janeiro, número parecido com o de rádios musicais em festas de fim de ano.
Em Washington, capital federal e lar da rádio de maior faturamento dos Estados Unidos, o domínio também é das emissoras jornalísticas quando o assunto é ranking de audiência. A ponta é da WAMU FM 88.5, emissora pública ligada à NPR e operada pela American University, que disparou para 13.4 em janeiro. A emissora já estava bem acima de 10 de share nos últimos meses, mas teve seu nível elevado, em um número que lembra também as rádios musicais nos finais de ano. O maior faturamento do rádio de lá, a WTOP FM 103.5 (News), da Hubbard, foi de 9.2 em setembro para 11.4 em janeiro. Assim como ocorreu em San Francisco, em Washington não houve uma rádio musical de formato adulto-contemporâneo ou classic hits como líder na época de feriados de fim de ano.
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Chicago, terceiro maior mercado dos EUA, já contava com a WBBM Newsradio AM 780 FM 105.9 da Audacy como líder geral nos últimos meses (exceto na época natalina), sem muitas mudanças em seu desempenho. Mas o mercado de lá também viu a escalada de outras rádios de jornalismo, como a WGN AM 720, que foi de 2.3 em setembro para 3.4 em janeiro, e a pública WBEZ FM 91.5, que avançou de 2.5 para 3.0 no mesmo período.
Los Angeles foi um cenário diferente e não pode ser totalmente atrelado à política nacional. Pois lá, em janeiro, a cidade foi gravemente afetada pelos incêndios florestais que devastaram bairros inteiros, fato que também acabou contribuindo de alguma forma com o consumo de notícias em outros mercados dos EUA. Lá, o rádio ficou dedicado ao grave acontecimento, mobilizando também emissoras que são tradicionalmente musicais. Mesmo assim, como já destacado pelo tudoradio.com, a KNX News FM 97.1 da Audacy atingiu um nível histórico de audiência, saindo de 3.2 em setembro para 5.2 em janeiro, o que a deixa na terceira posição do ranking FM de audiência local.
Nota-se que pelos perfis editoriais diferentes das emissoras, os acontecimentos políticos nesse início de nova presidência Trump estão movimentando a audiência independentemente dos espectros. O fato de que eventos como os ocorridos em Los Angeles ou os assuntos nacionais e regionais da política impulsionam a audiência de rádio é mais uma prova de como o meio rádio é buscado de forma natural pela população, sendo fonte de informações sobre acontecimentos considerados de grande relevância, sejam eles locais, regionais ou nacionais.
Movimentos assim já foram observados no Brasil e em outros países, como subidas de audiência bem acima das médias tradicionais em períodos eleitorais, com destaque para o dia das eleições no Brasil, também espelhando o fato de que acontecimentos políticos nacionais e locais são buscados no rádio.
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E por qual razão olhar para lá fora?
O tudoradio.com costuma observar esses pontos de curiosidade dos números do rádio internacional para mapear possíveis mudanças de hábitos e a manutenção do consumo de rádio em diferentes países. Assim como ocorreu no ano anterior, periodicamente a redação do portal irá monitorar o desempenho do rádio nos principais mercados do mundo e, é claro, fazendo sempre uma comparação com a situação brasileira. E, como de costume, repercutindo também qualquer número confiável sobre o consumo de rádio no Brasil.
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Com informações da Nielsen Audio
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.