Terça-Feira, 14 de Janeiro de 2020 @ 07:31
São Paulo - The New York Times publicou um artigo que aponta possíveis revisões nas estratégias de campanhas publicitárias em canais digitais devido a tendência de menor uso dessas plataformas
Há um recuo do uso do digital no horizonte? É difícil identificar tal tendência em nosso dia a dia, mas existem levantamentos que apontam essa possibilidade no futuro. Esse cenário passa por um processo de "desintoxicação" das pessoas, onde vários usuários estão utilizando menos os seus dispositivos móveis, visando um uso mais consciente da tecnologia. E isso é acompanhado por profissionais de planejamento de marketing, sendo algo que pode beneficiar outros formatos de mídia. Acompanhe:
A questão foi levantada por um artigo da jornalista Tiffany Hsu no The New York Times, que cita um novo estudo da agência de mídia Hearts & Science, este que aponta que um volume menor do uso de dispositivos móveis pode ter um impacto significativo nos anunciantes que passaram a depender fortemente de campanhas digitais.
O artigo leva o nome de "Your Digital Detox Diet May Be Toxic to Advertisers", ou seja, "Sua dieta de desintoxicação digital pode ser tóxica para os anunciantes". E ele destaca que o estudo acompanhou como 2.444 americanos usaram seus dispositivos móveis por 14 meses.
E o resultado refletiu uma tendência da fadiga tecnológica, onde 64% dos participantes diminuíram o uso de aplicativos durante o período do estudo, gastando quatro horas por dia em aplicativos, abaixo das cinco horas no início do estudo.
A diretora de audiência da agência de mídia Hearts & Science, responsável pelo estudo, afirma que a diminuição no volume do uso de dispositivos móveis pode ter "grandes implicações para os profissionais de marketing e para os modelos de negócios digitais que dependem da captação de atenção".
O alerta ocorre devido o volume investido por empresas nos Estados Unidos em estratégias de publicidade que envolvem apenas canais digitais: foram US$ 99 bilhões em anúncios destinados a dispositivos móveis em 2019, valor que supera o investimento feito em televisão e impressão combinadas, de acordo com a empresa de pesquisa eMarketer.
Como muitas campanhas necessitam de grandes escalas (muitas impressões e distribuídas nos mais diversos sites e aplicativos), há um alerta amarelo na hora de escolher qual a melhor estratégia em casos que contemplam apenas o digital.
Será necessário?
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Revisão ou ajustes das estratégias?
O The New York Times entrevistou nomes da publicidade norte-americana, que falaram sobre o tema.
Brian Wieser, chefe de inteligência de negócios da empresa de anúncios GroupM, afirma que no momento não há a necessidade de uma revisão completa das estratégias, mas são necessários alguns ajustes consideráveis.
"É possível que se metade da população decidisse não usar mais um dispositivo conectado à Internet, você teria um impacto, mas se um indivíduo apenas reduzisse seu uso, quantos anunciantes seria incapaz de atingir seus objetivos usando esse meio? Seria apenas mais caro? Eles teriam que usar uma tática diferente?", questiona Wieser.
Outro profissional ouvido pelo jornal, Jim Misener (presidente da agência de publicidade 50,000feet), endossou a visão de Wieser, afirmando que os anúncios em dispositivos digitais "continuarão a proliferar, especialmente à medida que os aplicativos se tornarem mais fáceis de usar".
Mas Misener também lembrou ao jornal sobre a "retração" de pessoas preocupadas com privacidade e segurança.
"Para os profissionais de marketing, existe uma tensão entre o reconhecimento dessas necessidades e a necessidade de atender às demandas de experiências personalizadas e personalizadas", disse ele. "Você quer aumentar a conscientização enquanto diminui o aborrecimento", completa Jim.
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Combinação de canais nas estratégias
A edição de 2019 do Radio Show, realizada em Dallas (Estados Unidos), já apontava para uma necessidade de equilíbrio nas estratégias publicitárias, conforme noticiado pelo tudoradio.com. E isso passa pela expansão do áudio em diferentes plataformas, o que pode beneficiar o rádio em vários aspectos.
Uma série de levantamentos também apontam que as campanhas mais efetivas contam com estratégias de publicidade que combinam diferentes canais, sejam digitais ou offline. "A ideia é que ouvir a mensagem e ver a mensagem de diferentes fontes cria maior validade, consciência e lembrança na mente do consumidor", diz Brad Kelly, diretor da Nielsen Audio, ao comentar um estudo divulgado em 2018.
Outro ponto que mostra a efetividade de campanhas atuantes em diferentes frentes foi a última Black Friday. Conforme noticiado pelo tudoradio.com, diferentes marcas ampliaram a sua presença no rádio para efetivar vendas no digital. E isso também aconteceu com empresas originadas no on-line.
Outro ponto a se considerar é a afirmação de que "é o rádio que gera resultados digitais e ajuda na busca de novos clientes", segundo levantamento da LeadsRX, divulgado no final de novembro nos Estados Unidos.
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Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.