Panorama: Formato Adulto-contemporâneo vive um de seus melhores momentos e chama a atenção do mercado especializado

Análise - O rádio de hoje vive um processo de crescimento dos formatos disponíveis em todo o planeta e, por aqui, no Brasil, o surgimento de mais FMs no dial tem contribuído para esse cenário. Porém, essa maior diversidade também expõe algumas tendências, com alguns gêneros e perfis evoluindo na preferência dos ouvintes. Um deles é a crescente oferta de FMs classificadas como adulto-contemporâneo. A mídia especializada internacional tem destacado esse fenômeno em mercados dos Estados Unidos e também da Europa, mas não é apenas por lá que isso é observado. No Brasil, também há essa percepção, principalmente nos grandes centros urbanos. Acompanhe:

Antes de citar os exemplos destacados pela mídia internacional e também fazer um paralelo com o momento das rádios brasileiras classificadas como "adulto-contemporâneo", é necessário destacar que outros formatos de programação seguem como os mais populares: no Brasil, o que classificamos como "popular/hits" é predominante no mercado e, em alguns casos, essas rádios acabam não aparecendo com os maiores volumes de audiência devido à grande divisão do formato entre muitas estações, pois a oferta desse tipo de rádio é maior. Lá fora, o country é extremamente forte nos EUA, apesar de o maior volume de audiência ser do "all-news" e o adulto-contemporâneo já lidera entre os musicais.

O chamado "AC", ou adulto-contemporâneo, está em expansão em praticamente todos os locais do planeta. Apesar das variações entre as rádios dentro desse guarda-chuva e da definição sobre essa classificação de programação, é nítido o avanço passo a passo desse gênero. E especialistas indicam vários fatores: população com idade um pouco mais avançada (o próprio Censo 2022 do Brasil apontou isso), maior oferta de hits para execução (nos EUA, há uma discussão sobre uma possível quantidade de "hits fortes" para alta rotação em rádios POP CHART, por exemplo), busca por hits de outros momentos para conforto em uma rotina mais cansativa (inclusive por públicos mais jovens) e uma abertura maior das rádios AC (executam hits atuais que conversam com os sucessos de outras épocas, aumentam suas batidas em alguns momentos e fogem do perfil de "rádio de nicho").

Essa discussão ganhou força nos EUA por dois motivos que envolvem a mesma rádio: a Lite FM 106.7 de Nova York alcançou a maior classificação de audiência na Nielsen possível para uma estação na praça desde a década de 70, bem no período em que completou 40 anos no ar. Super popular na praça, a rádio está hoje com um alcance que supera 4,75 milhões de ouvintes em seu auge recente, tocando hinos do AC, mas conversando com execuções novas do Pop.

O portal RadioInsights destacou esse momento da 106.7 FM, mostrando que, em uma sequência musical, a Lite FM vai de Doja Cat, com “Woman”, passa por Miley Cyrus, “Flowers”, Avicii, “Wake Me Up”, incluindo também sucessos da década de 80 com Madonna, “Open Your Heart” e Michael Jackson, “The Way You Make Me Feel”. Fórmulas parecidas são executadas por outras FMs dos EUA que também têm liderado a audiência, umas mais abertas, outras um pouco mais conservadoras nas escolhas para o gênero.

Esse fenômeno também tem impulsionado outras estações que orbitam próximo do AC por lá, como Classic Hits, Adult R&B, Classic Rock, HOT AC, entre outras que estão mais voltadas para faixas de público a partir de 30 anos, onde se concentra a maioria da população e que está em fase ativa economicamente.

E no Brasil?

Guardadas as devidas diferenças, é possível ver um momento especial para algumas das principais marcas de rádio "AC" no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, a Alpha FM 101.7 aparece consolidada na vice-liderança geral de audiência e com o terceiro maior total de ouvintes únicos do rádio paulistano, acima de 2,3 milhões. E a Antena 1 FM 94.7 aparece em alta constante, já ameaçando uma entrada no top 5 de audiência com um alcance superior a 1,8 milhão de ouvintes em 30 dias, sem contar os dados no digital. Essa mesma marca, a Antena 1, ainda disputa a liderança geral de audiência em praças como Campinas.

O maior alcance e volume de audiência do AC no Brasil no dial está no Rio de Janeiro, com a JB FM 99.9, onde a emissora está na vice-liderança geral de audiência em filtros importantes da pesquisa, orbitando na faixa dos 200 mil ouvintes por minuto, dependendo do período analisado, além de um alcance de ouvintes superior a 2,6 milhões em 30 dias, o que costuma colocar a FM entre os quatro totais de ouvintes únicos do FM no Brasil.

Existem vários exemplos de ascensão dentro do AC, como o volume de audiência digital e a briga pela liderança de audiência no dial pela Saudade FM 99.7 de Santos, a estabilidade em patamar elevado de estações tradicionais como G FM 90.1 de Salvador, Alvorada FM 94.9 de Belo Horizonte, Ouro Verde FM Easy 105.5 de Curitiba, Centro América Easy FM 99.1 de Cuiabá, entre outros casos. Até novidades como a Light FM 103.9 de Belo Horizonte e Classic Pan FM 76.7 de São Paulo chamam a atenção pelas rápidas ascensões.

Por enquanto, estes formatos têm obtido mais êxitos em praças maiores do país, geralmente em regiões metropolitanas, mas isso também se deve à modernização do AC nessas localidades, facilitando o movimento de saída da classificação de emissoras de "nichos". Mas existem vários exemplos de expansão do formato para o interior, seja na expansão de redes como a Antena 1, criação de bandeiras locais como a Hits FM no interior fluminense, entre outros casos.

Em formatos musicais paralelos também são notados resultados positivos, casos da Mundo Livre FM 93.9 em Curitiba (adulto/rock-alternativo), 89 FM A Rádio Rock FM 89.1 (jovem/adulto-rock-alternativo), Kiss FM 92.5 (adulto/rock), Novabrasil FM 89.7 (adulto/nacional-mpb) entre outros. Mudanças em grades antes puramente "jovens", como as redes Jovem Pan FM e a Rádio Mix FM, cada uma a sua maneira, pois são hoje projetos bem distintos, também têm colecionado resultados expressivos.

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Antes de surfar na tendência, é preciso planejar

App tudoradio.com listando rádios brasileiras de formato AC / crédito tudoradio.com

De qualquer forma, o trabalho de rádios nesses formatos mais específicos é sempre um desafio comercial, até pela sua variedade de atuação, equívocos na concepção do projeto (que podem ainda deixar a FM "nichada") e a criação de público nas praças. Também sempre haverá o risco de crescimento de várias estações dentro do mesmo formato, o que pode criar um teto para o gênero em algumas localidades. E o popular segue como a principal força musical no país, além da confirmação de outras tendências, como o gospel (também observado em gêneros similares em outros países). E estações indicadas como populares também podem e já fazem o processo de elevar as faixas etárias que são focos de suas atuações.

Porém, é importante o planejamento para fugir de gargalos que, a depender do nível de oferta de rádios dentro do mesmo gênero, podem impactar diretamente no consumo geral do rádio. Uma possível tendência disso é observada na comparação dos alcances do meio entre capitais/regiões metropolitanas e interior. Com mais variedade no cardápio, os dials de praças maiores têm performado melhor do que o observado nas menores. Um exemplo recente é a pesquisa geral sobre rádio feita no estado do Rio de Janeiro, onde o alcance do meio no Grande Rio é superior ao volume visto no interior, apesar de ambos os valores serem considerados positivos.

Tudo isso reforça a necessidade de pesquisa prévia para poder aplicar um determinado formato de rádio e poder "surfar" na onda de possíveis tendências, como essa do AC.

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Com informações do portal Radio Insights, Nielsen e Kantar IBOPE Media (Brasil)