Segunda-Feira, 23 de Março de 2020 @ 07:31
São Paulo - Itália, país europeu mais afetado pela crise sanitária, já registrou avanço significativo no consumo de televisão. Alcance do rádio segue alto mesmo com a prática de home office. Desafio comercial é imenso em época de economia retraída
O tudoradio.com tem destacado nos últimos dias a importância que os veículos de massa terão no enfrentamento do coronavírus. Fonte de informações checadas para a população, meios como o rádio devem se beneficiar da audiência que estará mais tempo em suas residências, devido ao período de reclusão imposto pela covid-19. A Nielsen já constatou uma evolução no consumo de mídia, evidenciado principalmente em países que foram atingidos antes pela pandemia. Porém há um desafio imenso para aliar a entrega de conteúdo com a mudança de rotinas e possíveis quedas de receitas. Acompanhe:
Segundo a Nielsen, há uma previsão de aumento de quase 60% na quantidade de consumo de mídia conforme as pessoas passem mais tempo em suas casas e isso deverá municiar diferentes plataformas de entrega de conteúdo, inclusive o rádio.
O relatório mais recente da Nielsen, chamado de "Nielsen Total Audience" e voltado ao mercado dos Estados Unidos, aponta que os norte-americanos já gastam cerca de 12 horas por dia com plataformas de mídia, número que já é considerado elevado. E os dispositivos conectados tem auxiliado nessa expansão.
Distribuição do consumo de mídia em casa antes da pandemia - Estados Unidos
A Nielsen lembra que, em todos os casos de comportamento modificado por uma situação atípica, como furacões nos Estados Unidos, houve um acréscimo significativo no consumo de mídia, incluindo televisão, rádio e outras plataformas. A tendência é de que isso seja repetido e até ampliado com as pessoas passando mais tempo em suas residências.
Países como Coréia do Sul e a Itália auxiliam nessa percepção: no país asiático houve um aumento de 17% da audiência de televisão entre a segunda semana de fevereiro com a quarta, quando o covid-19 já mudava de forma drástica a rotina da população, resultando numa ampliação de 1.2 milhão de espectadores.
Consumo de televisão na Coréia do Sul - comparativo entre a época de coronavírus (2020) e o mesmo período em 2019
Na Itália, país europeu mais atingido pela pandemia, o Comitê Conjunto da Indústria da Itália (Auditel) apontou um avanço de 6,5% na audiência de TV em todo o país, com destaque para um crescimento de 12% na Lombardia (que entrou em quarentena antes das demais regiões italianas). A Nielsen destaca que a ampliação, notada na última semana de fevereiro em comparação com a anterior, foi impulsionada tanto pelo consumo de notícias quanto pelo fato do consumidor ter ficado mais tempo dentro de casa.
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Home office também amplia o consumo de mídia
O trabalho remoto a partir das residências (home office) também tende a ampliar esse consumo de mídia durante o período de reclusão, mesmo com a tecnologia tendo fragmentado o cenário da mídia nos últimos anos.
Segundo a Nielsen, considerando o cenário dos Estados Unidos, trabalhadores que estão na prática do home office ampliam em quase 3 horas o consumo de televisão na comparação com aqueles que estão nos escritórios e fábricas.
Já para o rádio, o alcance é idêntico, ou seja, o veículo mantém a sua força: 95% para quem pratica o home office contra o mesmo valor para quem está em trânsito ou nas empresas.
"À medida que o covid-19 continua se espalhando nos EUA e mais empresas permitem e promovem políticas para que o trabalho seja realizado virtualmente, o comportamento de visualização dos funcionários que trabalham nos confins de suas próprias casas pode levar a um uso ainda maior da mídia", destaca o relatório da Nielsen.
Tecnologia pode beneficiar o rádio
Cada vez mais embarcado em dispositivos conectados, a dinâmica da audiência de rádio deve se tornar estável ou até se ampliar nesse período atípico. Em países europeus e também nos Estados Unidos o uso de caixas de som com inteligência artificial devem auxiliar nessa ampliação do consumo de mídia, algo que já era crescente antes da pandemia.
Outros dispositivos conectados, como celulares, televisões e computadores (laptops, muito usados para a prática do home office), crescentes no Brasil e em todo o planeta, também são rádios em potencial, veículo que segue com amplo alcance na transmissão terrestre.
Desafios do rádio em época de Covid-19
Há um grande desafio para as emissoras de rádio durante a pandemia. Se por um lado a população deve recorrer cada vez mais ao conteúdo dos veículos de massa para se informar e procurar por entretenimento na época de reclusão, o rádio terá desafios nas áreas comercial e operacional.
No operacional há toda uma mudança de rotina, seja para ampliar o conteúdo relacionado a pandemia ou para proteger o seus colaboradores.
No Brasil já é possível notar uma grande mudança no operacional, com praticamente todas as grandes emissoras aplicando o home office, criando turnos especiais e ampliando os cuidados sanitários para os profissionais que ainda necessitam ir para as sedes das rádios para gerar conteúdo.
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Outro desafio é o comercial, atingido por dois motivos principais: diminuição da receita devido a retração da atividade econômica em praticamente todo o planeta e mudança nas rotinas dos departamentos comerciais, devido o período de reclusão imposto pela pandemia.
Práticas especiais na gestão das empresas de rádio já estão em curso, para equilibrar a operação sem prejuízos para equipes e para a audiência.
Numa ponta há uma audiência crescente que amplia a credibilidade e o interesse nos veículos, ponto forte para a atividade comercial. Porém esse argumento concorrerá com um "bolo publicitário" retraído pela crise sanitária e econômica.
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Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.